Dia 12

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     — Porta aberta! – Marcela escancarava a porta do quarto de Bia.

     — Sim, sim – Bia disse. Marcela lhe lançou um olhar mortal, mas não falou nada. Na verdade, desde que Rafa trouxe Bia na noite passada, ela não falou muita coisa, mas a vigiava como um falcão.

     Rafa e Bia estavam deitados no chão, de mãos dadas, fazendo nada mais do que jogando papo fora e roubando um do outro um ou dois beijos.

     — Eu estou nos achando com uma super química agora – Bia falou o olhando nos olhos.

     — E eu não acredito que duvidou disso – ele riu e a beijou de novo.

     — Eu não quero parar com isso nunca.

     — Vamos matar todos de inveja na segunda.

     E ficaram em silêncio, apenas contemplando a presença um do outro.

     — Bia, promete não ficar assustada?

     — Não. Mas prometo não julgar em voz alta – isso arrancou um sorriso franco de Rafa.

     — Lembra do seu sonho? Que você disse que nos casamos?

     — Lembro...

     — Não consigo parar de pensar nisso. Acho que você ficaria deslumbrante de branco – Bia riu.

     — Azul.

     — Oi?

     — Eu me casaria de azul. Azul da cor do céu de um dia ensolarado.

     — Ainda ficaria deslumbrante – aquele típico brilho dos olhos de Rafa se intensificou.

     — Você me pediria em casamento?

     — Claro! E adotaremos um cachorro e um gato.

     — E duas crianças!

     — Não quer ter os seus próprios? – Bia parou pra pensar.

     —  Talvez... Mas quero adotar duas crianças. Quero ser uma mãe que nem a minha é para mim. Ela me ama mesmo que eu não tenha saído do ventre dela. Mesmo eu sendo... Difícil. Bom, mais do que meus irmãos.

     — Eu adoraria adotar um filho com você. Uma menina e um menino – Então o celular de Rafa vibrou. – É a Gabbi. Ela quer saber se a gente topa tomar sorvete mais tarde. Tem uma sorveteria muito boa no centro.

     — Vamos no centro só pra tomar sorvete?

     — Sim – ele riu. – São as coisas boas da vida.

     O celular dele vibrou de novo e Bia fechou a cara.

     — Ciúmes? – Disse provocando-a.

     — Não. Só estava pensando sobre a tecnologia atual. Imagina viver em um tempo onde as pessoas falavam por meio de cartas? – Seu olhar viajou.

     — Gosta de escrever cartas? Minha namorada é uma perdida no tempo? – Seu tom era de brincadeira.

     — Eu acho romântico – Bia fechou os olhos. – Os papéis antigos, o cheiro de tinta, os selos vermelhos... A ideia de esperar ansiosamente uma resposta.

     — Eu trocaria cartas com você – Bia o encarou.

     — Sério?

     — Sim.

     Bia então o beijou de novo, e de novo, e de novo.

     — Vocês estão um grude desde ontem. Cruzes – Alice passou pelo quarto fechando a porta com cara de nojo.

     — Eu disse PORTA ABERTA!! – Marcela gritou do andar de baixo ao ouvir a porta fechando. Bia levantou do chão e a abriu, revirando os olhos, fazendo Rafa rir.

     — Suas irmãs são ótimas.

     — Nem me fale.

     "A casa de frente pra sua, sábado, um dia quente de verão (porque nunca sei que dia é) de 2022.

Querido Rafa (meu namorado),

     Como vão as coisas (ignorando o fato de que te vi hoje)? Eu vou bem. Estava pensando no dia que começamos a namorar. Naquele dia, quando me perguntou, não levei em conta que pudesse realmente gostar de você. Queria apenas experimentar, porque poderia ser que eu nunca mais namorasse alguém. Mas acho que fui pega com a guarda baixa.

     Pensando bem, nunca coloquei em palavras o que realmente sinto por você. Então aqui vai! Eu te amo, Rafa. De verdade. E sinto que mudou uma parte de mim que nunca mais voltará a ser a mesma. Você não me conhecia direito, mas se importou comigo, me ouviu e ficou ao meu lado. Você me mostrou que conversar com outras pessoas não é tão assustador. E graças a você, eu fiz amigas além da Ella (e que todos conseguem ver kkkk). Foi jogando com você, que eu percebi que entrar para um time pode ser divertido. E que eu sou alguém. Alguém que as pessoas podem gostar, que não sou um peso morto. Que não preciso me isolar do mundo, pois, quando eu sair dos meus livros, vou ter um príncipe a minha espera para explorarmos juntos esse mundo de alienígenas.

     Eu te amo, Rafa. De verdade. E não ligo mais se somos jovens demais, inocentes demais. Eu quero ficar ao seu lado. É o que eu sinto e desejo.

Um abraço e dois beijos!
B

ia, sua namorada"

     Bia dobrou a carta escrita com sua caneta tinteiro e fechou o papel lilás com cera dourada. Ela não tinha um selo, então desenhou um de Alice no País das Maravilhas e colocou na caixa de correio dele. Merda, ela estava tremendo. Voltou para o seu quarto e se jogou na cama.

     — Nervosa? – A figura indecifrável a perguntou enquanto Bartolomeu se acomodava em seus braços.

     — Só falei demais. Mas eu tô bem. Porque eu sei que vai ficar tudo bem. E que eu e ele vamos ter o nosso felizes para sempre. Não vamos?

     — Eu não posso responder a isso, e você sabe.

     — Sim, eu sei...

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora