Dia 11

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     Sexta-feira. A sexta-feira. Aquela que Bia disse que sairia com a Gabbi e as amigas dela. Ela estava na praça de alimentação. Usava sua blusa grande e preta do Totoro, jeans e tênis, já que Ella não pareceu matá-la por isso. Na verdade, foi até estranho. Ela agiu como se não se importasse. Não era comum. Bom, perguntaria a ela depois.

     — Ah! Você está aqui! – Gabbi a abraçou, o que assustou um pouco Bia. – As meninas nos disseram que nos encontrariam na porta do cinema.

     As duas seguiram andando.

     — Eu... Eu queria me desculpar – Bia a olhou sem entender. – Por aquele dia. Eu... Eu não queria parecer uma babaca sem coração. É que, você surgiu do nada e aí o Rafa passou a dar toda a atenção dele pra você e eu posso ter ficado com um pouco de ciúmes. É patético, né?

     — Está tudo bem, sério. Eu nem penso nisso. Mas se faz você se sentir melhor, eu... Eu te perdoo.

     — Obrigada. Faz sim, você não tem ideia.

     O grupo de amigas da Gabbi era bem animado. Alexa, apesar de se parecer com uma típica patricinha saída direto de Meninas Malvadas, era na verdade doce e carinhosa, nem um pouco Regina George. Lucília, Luci ou Lulu, era espontânea, engraçada e super ligada nos assuntos que se dizia respeito à arte e música. Mas tinha Sofia... Que não se mostrou uma garota muito aberta, ao menos com Bia por perto, e, diga-se de passagem, com comentários bem inconvenientes na ponta da língua.

     As meninas foram chegando e a conversa tomou outro rumo. Era claro que Gabbi fazia questão de incluir Bia nos assuntos. Elas assistiram o filme (que Bia amou), comeram na praça, passaram na leitura (o momento favorito de Bia) e foram de loja em loja experimentando roupas que nunca usariam. Bia nunca pensou que poderia se divertir tanto, mas se divertiu.

     — Oh my gosh! Ficou perfeito em você! – Alexa elogiava o vestido que Bia havia experimentado. – Lembra uma fada...

     — Tenta esse – Lucília lhe entregou um terninho. – Vai se sentir po-de-ro-sa.

     Bia foi se trocar enquanto Gabbi saiu usando um conjunto idêntico. Quando se viram usando a mesma roupa, começaram a rir.

     — A gente vai ter que mandar pro Rafa! – Gabbi a puxou para um espelho.

     — Ah, meus pais chegaram. Eu vou ter que ir nessa. Lú, você vem? Eles disseram que podem te dar uma carona.

     — Vou! Beijos, meninas.

     Bia e Gabbi se trocaram e foram andando pelo shopping junto com Sofia.

     — Minha mãe acabou de me mandar uma mensagem – Gabbi disse olhando para o celular. – Vou falar pra ela que vou esperar o seu uber chegar.

     — Não precisa, Gabbi. Ainda faltam cinco minutos. Tá tranquilo.

     — Tem certeza?

     — Claro!

     — Você quem sabe. Se cuida, beijos!

     — B-beijos.

     E Gabbi se foi, deixando Bia e Sofia sozinhas. Ela não havia falado quase nada a tarde inteira, então o clima ficou meio desconfortável.

     — Você... Sempre foi meio esquisita, né?

     — Oi? – Bia a encarou, surpresa e chocada. Sofia observava o movimento da rua.

     — Digo, eu ainda não sei como o Rafa está com você. Como você convenceu ele? Tem vários boatos pelo colégio, mas não acho que uma garota sonsa e inocente como você possa ter feito aquelas coisas cruéis como ameaçar o cachorro dele.

     — Ele não tem um cachorro. E foi ele quem me pediu em namoro. 

     — Sem chance!

     — Eu... Eu não preciso fazer você acreditar em mim.

     — Porque seria impossível também. Ele... Ele já me rejeitou uma vez. O que você não tem que eu não tenha e melhor? Eu realmente não sei o que ele viu em você. Não devia entrar tão de cabeça, você sabe. Ele é demais para uma menina tão sem graça – Sofia então foi embora como se não tivesse feito nada demais e o uber de Bia chegou.

     O primeiro sentimento foi de ódio! Afinal, que direito Sofia tinha de falar com ela daquele jeito? Mas a raiva foi sendo substituída pela dúvida aos poucos. As mesmas perguntas do dia anterior começaram a rondar sua mente. Quando chegou em casa, Bia não entrou. Não queria entrar. Não queria ver ninguém naquele momento. Resolveu andar pelo bairro.

     Seus pés a guiaram até o mesmo prédio do primeiro encontro dela. Bia não se importou de sentar no chão sujo do terraço. Assim, ela colocou tudo pra fora, e chorou, chorou, e chorou...

     — Bia... Bia! BIA! – Rafa a olhava com os olhos vermelhos de quem havia chorado também. Estava chovendo. – Você acordou. Eu estava desesperado! Por favor, não faça isso de novo. Nunca mais! – Ele sentou do seu lado. – Seus pais estão loucos de preocupação.

     — Eu... – E soltou um suspiro.

     — Não... Não precisa me dizer. Só cuidado com o que faz. Meu coração é frágil – Bia então se lembrou do filme que assistiram juntos no encontro deles e riu.

     — Eu só estava insegura.

     — Insegura?

     — Sofia me disse que você era demais pra mim. E... Ela tá certa. Sempre foi você a me ajudar e a me dar suporte. E você é... Você é incrível. Como um anjo que ás vezes eu me pergunto se é real. Se é certo gostar de você assim. Eu sei que prometeu estar ao meu lado, mas e se não funcionar? E se você quiser ir? Eu não poderia te impedir. Somos só dois adolescentes descobrindo o mundo. O que sabemos sobre a vida? O que sabemos sobre sentimentos? Sobre relacionamentos?

     — Bia, você é tão incrível quanto eu – Rafa riu pro estar dizendo um fato.

     — Está sendo modesto. É uma qualidade sua. Sempre tenta fazer com que os outros se sintam bem.

     — Bia, eu não estou sendo modesto. Você É incrível. Beatriz Cardoso de Oliveira é a menina mais incrível que já conheci. Você é linda, criativa, inteligente e brilhante, com uma maneira única de ver o mundo. Toda vez que te olho, não consigo mais imaginar a minha vida sem você. Chame de clichê, eu não ligo! Faz menos de duas semanas mas sinto que está comigo desde sempre. Como se estivéssemos destinados um ao outro. Tão brilhante e viciante. Sua risada, seu sorriso, seus olhos castanhos. Sinto que estou perdido toda vez que te vejo, toda vez que ouço a sua voz. Eu te amo, Beatriz Cardoso de Oliveira. Eu te amo de uma maneira que eu nunca pensei que fosse possível. E daí que existem pessoas que não são capazes de ver isso? Dane-se elas! Você é perfeita do seu jeito e eu não mudaria nada em você. Sim, somos novos e, sim, não sabemos nada da vida. Mas eu sinto, Bia. Eu sinto toda vez que meu coração dispara quando te vejo ou eu durmo pensando em você. Essa magia que você lançou em mim... Nunca conheci uma tão forte.

     Bia estava sem reação. Ela tentava pensar mas não conseguia. Então mandou a razão à merda e o beijou. Sim! Beatriz Cardoso de Oliveira, A Beatriz Cardoso de Oliveira beijou Rafael Gineses. E foi mágico. Sentir os lábios de Rafa nos seus, suas línguas dançando juntas, as respirações falhando, os corações saltitando... O corpo dos dois fraquejou. Quando se separaram, sentiram o vazio eminente. Parecia errado não estarem juntos. Então se beijaram de novo, de novo e de novo. Naquela sexta à noite, escura e chuvosa.

Sem Química AlgumaOnde histórias criam vida. Descubra agora