Um - Preparativos para o Casamento

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Hoje era o dia do casamento de Jimin e se conseguisse não vomitar sobre si mesmo ou um convidado, consideraria todo o evento um êxito enorme.

Suas criadas se negavam a encontrar seus olhos enquanto amarrava o vestido e arrumavam as dobras perfeitamente, mas ele podia ver em seus olhos a piedade e o horror pelo canto do olho. 

Jimin disse a si mesmo para ignorá-las. 

Os casamentos arranjados eram o destino de quase todas os ômegas aristocratas Melta, cada um por poder, pelo dinheiro e pelo bem do país. Sua Majestade, Dolph, casou suas duas filhas com príncipes de países estrangeiros como parte de negociações para acesso aos portos e aliados na guerra. 

O bisneto do Rei Melta não era uma exceção ao protocolo e Jimin sempre esperou um destino similar. A única pergunta era quando - e não se - aconteceria.

Mas nunca esperei o príncipe de Argonath. 

O pensamento passou por sua mente. A saliva inundou sua boca quando a náusea subiu por seu estômago e ameaçava chegar à garganta. Jimin fechou os olhos e balançou sobre seus pés no banco que estava. Uma mão segurou sua perna para estabilizá-la e abriu os olhos para olhar a costureira real. As linhas de preocupação enrugavam os cantos dos olhos da mulher. 

Ela cuspiu os alfinetes entre os lábios na mão livre. — Está bem, meu senhor?

Jimin assentiu. 

Ele não envergonharia a si mesmo ou o Tribunal de Vale do Melta desmaiando diante dos convidados de Argonath. Respirou fundo para acalmar seu medo. O tempo para lágrimas e a doença passou. Entregou seu terror anteriormente na intimidade de seu quarto. Poderia estar trêmulo, mas continua com sua dignidade.

Seu futuro esposo enfrentava o mesmo destino. 

Com o dom do privilégio vinha a carga da expectativa. Como filho mais novo do Rei Zhadir, seu dever era se casar de uma forma benéfica para seu povo. Iria se reunir com Jimin pela primeira vez, já que se conheceram diante de uma multidão de bispos e se comprometeram em casamento.

Um fio de suor frio deslizou por suas costas sob o tecido. Como seu ômega, teria que dormir com ele. Ninguém ouviu falar de filhos nascidos vivos de um Zhadir e um companheiro humano-ômega, mas isto não importava. 

Um casamento consumado funcionava como o selo de sangue em um contrato, ainda que ele nunca lhe desse filhos. Se Dolph não acreditasse que poderia ofender sua futura família política, ele insistiria em um contingente de testemunhas na câmara nupcial para verificar a consumação e assegurar que a aliança forjada pelo casamento fosse completa. 

No entanto, os Zhadir não eram humanos, sua cultura era diferente e em sua maioria desconhecidos aos que estavam além das fronteiras. Jimin agradecia seu mistério, o que impediu tal humilhação pública.

A costureira real puxou umas quantas vezes mais em seu vestido, deu algumas ordens a suas costureiras assistentes para recolher os alfinetes, fios e agulhas. 

Ela ajudou Jimin a descer do banco. —  Venha ao espelho e veja, meu senhor. Está lindo.

Jimin a seguiu até o espelho de corpo inteiro de pé no canto do quarto. O pálido reflexo olhando para ele não fez nada para animá-lo e por um momento lhe pareceu que fosse um estranho. 

O vestido era uma criação magistral de seda bordada com prata que abraçava seus quadris e coxas antes de fluir para fora como uma saia e uma cauda. O tecido seguia uma linha nos ombros, mas deixava seu pescoço ao descoberto, as mangas largas terminavam em pontos além das mãos. Seu cabelo estava penteado com boa parte dos fios para o lado esquerdo com um estilo complexo de tranças pequenas e fixadas por prendedores com pedras preciosas. Usava joias de um ômega de alta sociedade e uma grande riqueza.

Ele franziu o cenho ante a imagem. — Que desperdício.

Atrás dele, a costureira empalideceu. — Não gosta do vestido, meu senhor?

Jimin assegurou a mulher que ele achava o vestido perfeito. — No entanto, acho que tudo isso não chamará a atenção de meu noivo ou todos os Zhadir.

Os lábios da outra mulher se curvou em desgosto. — Bastardos feios. Todos eles. O que sabem sobre beleza? — Ela percebeu o insulto em sua observação. — Tenho certeza que seu noivo será diferente e irá apreciar o quão adorável a vossa Majestade é.

A probabilidade de que isto acontecesse era pequena. Se ele se casasse com alguém que não fosse um Zhadir, a costureira poderia ter razão. Apenas esperava que ele e seu noivo conseguissem não sair correndo em direções opostas quando se olhassem pela primeira vez.

Ele pediu uma hora de privacidade antes de ter que se apresentar na corte e enviou o grupo de costureiras e criadas para fora do quarto. O cheiro das flores da primavera dos jardins se filtrava pela janela aberta do quarto, atraindo-o.

Jimin sentiria falta de muita pouca coisa quando fosse embora com seu novo esposo. Ele era o bisneto do Rei, uma criança órfã de sua neta mais nova. Seu lugar na família assegurava uma casa senhorial, refeições frequentes e roupas finas. 

Não assegurava nada mais e não havia amor entre ele e seus parentes vivos. Este casamento não poderia oferecer nada diferente, salvo uma mudança em seu lugar na hierarquia dos Tribunais. Ao se casar com o príncipe, se converteria em duque, um hercegesé Zhadir.

A janela dava a uma vista panorâmica dos jardins com grama verde ondulada, monumentos fantasiosos e as bordas coloridas das flores. Ele se perderia nos jardins. Foram seu santuário ao longo dos anos, uma escapatória da perseguição de seus primos e um meio para aliviar sua solidão.

Se a família real Zhadir tivesse jardins, Jimin suspeitava que não eram nada como estes. Imaginou todo tipo de estranhas e macabras plantas contorcidas à medida que cresciam fora do chão sob a exótica luz da lua e florescendo com flores ameaçadoras com dentes que ocultavam em suas pétalas.

Ninguém poderia caminhar entre elas sem armadura. Estremeceu.

Seus pensamentos o levaram fora do quarto e por alguns degraus da escada a um corredor que conduzia aos jardins. O sol quente acariciou seus ombros. 

Jimin levantou o rosto à luz e respirou profundamente a amarílis e o jasmim. A costureira daria um ataque quando percebesse que arruinou a barra de sua criação, mas a ideia de viajar pelas profundezas de seu lugar favorito em toda Melta não deixava Jimin. 

Além disso, ninguém no casamento olharia sua barra. Estariam muito ocupados olhando com horror, para o noivo ou para ele, o humano-ômega.

Enquanto caminhava tranquilamente ao longo do sinuoso caminho até o lago borbulhante com grandes peixes coloridos, tão mansos como cães, rodeados por dedaleiras venenosas de todas as cores e tonalidades, cachos alaranjados cobertos por uma tela e rodeados de colibris, salgueiros abraçavam a margem dos tanques maiores, criando dosséis de sombra verde cheias de samambaias e pulmonárias com folhas prateadas.

Jimin passou muitas horas silenciosas quando criança ali, escondido atrás da cortina de salgueiros, lendo um livro roubado à luz que passava entre os galhos.

Troncos majestosos salpicam a paisagem, seus grandes galhos com grossas folhas. Seguiu seu caminho a um destes gigantes. Ele não visitava esta parte do jardim com frequência. As rosas da Rainha cresciam ali e Jimin evitava os lugares favoritos da Rainha. 

Sentia-se seguro o suficiente para visitar hoje.

Sarah estava muito ocupada bancando a anfitriã para seus convidados ou contando o tesouro que trouxeram como presentes para o noivo. Jimin podia admirar as centenas de rosas em grupos e linhas solitárias. Ou era isto o que pensava. 

Deu a volta em um canto e parou. 

Uma figura envolta em um capuz negro, permanecia imóvel junto a uma densa roseira espinhosa cor de sangue. Virou-se ante o som dos passos de Jimin. Ele respirou fundo. Um par de olhos de cor amarelada, sem pupilas ou íris, o olhar profundamente nas sombras das dedaleiras. Uma mão fina de pele vermelha como de um dragão e com unhas escuras, levantou-se em sinal de saudação silenciosa. 

Jimin se equilibrou nas pontas dos pés, a ponto de fugir. Se ele não soubesse melhor, acreditaria que tropeçou com um demônio no meio das rosas. Ele não era um demônio apesar da aparência - era um dos Zhadir. E seria uma grosseria ele sair correndo de um futuro parente por casamento.

O destino de um Ômega [Eternos]Onde histórias criam vida. Descubra agora