Oito: Febre da Morte

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Havia loucura nas lembranças, especialmente quando não eram suas. Jungkook estava deitado, com os olhos fechados e observava a vida do jovem Taemi e se misturava com a sua. Os rostos queridos piscavam no olho de sua mente, alguns dele, outros de Taemi junto com as emoções que os acompanhavam. Pai, mãe e duas irmãs.

Jungkook levantou uma mão para tocar o rosto da mulher mais velha. — Minha mãe. — Sussurrou.

— O que tem sua mãe, Jungkook?

A voz era familiar. Lalisa, a sua tenente. Jungkook franziu o cenho. Não, não era ela. Ela era sua comandante. Sua prima e segunda no comando. — Minha mãe. — Disse. — Eu a amo. Seu nome é Tarawin.

Sua prima voltou a falar. — Não, Jungkook. Sua mãe é Ameerah, a Rainha das planícies. A Rainha das sombras de Zhadir-Duo.

Jungkook franziu o cenho. Outra imagem substituiu a de Tarawin, esta de uma mulher de beleza altiva que capturou o interesse do rei e insinuava uma alma frágil sob ela.

— O que está dizendo?

Uma voz diferente, desta vez falando em uma língua universal com sotaque lírico de Merl. O esposo feio do príncipe com olhos assustadores.

Jungkook negou com a cabeça. — Ele é lindo por dentro. — Argumentou consigo mesmo. — Ri com facilidade.

Lalisa respondeu o ômega Merl. — Está confundindo sua mãe Ameerah com a mãe de Taemi, Tarawin. Não conheço Tarawin, mas sei que Ameerah rara vez ri.

Ele queria responder seu comentário, esclarecer que falava de Jimin e não Tarawin, mas sua língua estava grudada no céu da boca.

Estava quente, como se alguém houvesse o colocado sob o sol e deixado para assar vivo. — Água. — Disse com a voz áspera.

Um copo foi pressionado contra seus lábios secos e Jungkook tomou tudo. Uma mão acariciou sua testa, fresca sobre sua pele quente. Abriu os olhos e encontrou Jimin olhando-o com aqueles olhos humanos estranhos.

Instintivamente se afastou e tentou se levantar. — Sua Alteza. — Murmurou. Era um soldado humilde e rompeu o protocolo, deitar-se antes de um membro da casa real.

Jimin. Ele era Jimin com ele em privado. Duas mãos o pressionaram novamente contra a cama. Jungkook piscou e Lalisa lhe ofereceu mais água. Virou a cabeça e procurou Jimin uma vez mais.

Ele acariciou seu braço e com voz suave e preocupado disse. — Reconhece-me Jungkook?

Os padrões em constante mudança das lembranças combinadas nublam sua visão, mesmo com os olhos abertos seu estômago se agitava em protesto.

Jungkook fechou os olhos. — Meu ômega. — Disse ele. — Meu Jimin.

— Sim, Jungkook. Seu Jimin. — Com seu toque e sua voz ficava mais calmo. — Lalisa e eu ficaremos com você até que a febre passe.

Ele queria agradecer-lhes por sua vigilância, Jimin, que nunca testemunhou o que a posse de uma luz-mortem fazia ao anfitrião e Lalisa que ainda estava irritada por ter que comer uma batata revoltante no banquete de casamento. Uma imagem da larva fumegante em seu prato eliminou todas as lembranças confusas que obscureciam sua mente. Bile subiu em sua garganta e saliva inundou sua boca.

— Eu vou vomitar. — Ele murmurou.

As palavras mal passaram por seus lábios antes que ele fosse empurrado de lado. Mãos seguraram sua cabeça e levantaram seu cabelo enquanto ele esvaziava o estômago. Mais lembranças surgiram através de sua mente, uma semana doente quando ele era criança e agarrou uma tigela de madeira contra seu peito enquanto Tarawin sussurrava-lhe que bravo garoto que era. Outra lembrança semelhante, mas nessa ele estava em uma grande cama, segurando uma bacia de prata, enquanto uma das enfermeiras reais ficava em segurança fora do alcance e olhava para ele com desgosto enquanto ele vomitava.

Um pano frio banhou seu rosto quente e ele capturou o pulso da pessoa que o fazia. Sentiu os ossos frágeis em seu aperto. Ossos humanos. Facilmente quebráveis se exercesse a menor pressão. Jungkook traçou a teia de aranha de pequenas veias logo abaixo de sua pele com o polegar. Embora fossem mais finas que o fio de seda, podia sentir o pulso de sangue através delas em um ritmo constante.

Ele abriu as pálpebras apenas o suficiente para encontrar Jimin segurando o pano. A outra mão em seu cabelo.

— Batalhas e vômitos, esposo. Não é o que você deveria testemunhar durante a sua primeira viagem para Zhadir. — Nada saiu como o planejado desde o momento em que cavalgou deixando a capital Merl. — Quer que eu leve você para casa? — Ele não culparia Jimin se ele dissesse que sim.

Ele lançou-lhe um breve sorriso com seus dentes quadrados. — Você está me levando para casa, Jungkook. Não há nada para mim em Nairl.

— E sua família?

Seu sorriso desapareceu. — Os laços de sangue nem sempre formam uma família. Minha família repousa em uma cripta com vista para o mar. Preciso construir uma nova família agora. — Ele traçou uma de suas sobrancelhas com os dedos. — Você pode beber um pouco mais de água? Enxaguar a boca?

Jungkook assentiu e desta vez aceitou o copo que Lalisa lhe ofereceu. Deitou-se, inspirando e expirando lentamente, desejando que seu estômago rebelde se acalmasse, ainda que as suas e as lembranças de Taemi turvassem sua visão, ele sentia como se tivesse passado a noite esvaziando um barril de vinho, apenas para ter alguém empurrando-o para dentro dele, fechando a tampa e jogando-o em um mar tempestuoso.

Ele recusou-se a pensar em batatas.

Os sons de limpeza e escovação encheram seus ouvidos. Ele queria pedir desculpas pela confusão, mas não se atreveu a abrir a boca, porque poderia arruinar todo o trabalho duro.

De alguma forma, conseguiu entrar em um sono agitado, atormentado por sonhos desordenados e duas lembranças. Ele se debateu sobre o estrado e arrancou o cobertor de cima de seu corpo. Um grito de surpresa se filtrou através de seus sonhos, seguido por duas vozes falando na língua universal.

— Ele cortou você?

— Apenas minha manga. Pelas asas de Atalas, você é rápida!

— Não rápida o suficiente.

— É apenas minha manga, Lalisa.

— Sorte que não foi seu rosto ou sua garganta, Alteza. Você não deveria estar aqui.

— Aqui é exatamente onde eu deveria estar.

— Então, até que ele esteja lúcido, fique fora do seu caminho. Posso não ser tão rápida quando você precisar de mim uma segunda vez.

Jungkook lutou contra as algemas do sono que o mantinham prisioneiro. Ele mataria quem tentou ferir seu ômega, dividiria o crânio do jeito que fez com o atacante Azalr que o atacou. Ele era feio.

Não! Ele era lindo e era dele. — Meu Jimin. — Ele sussurrou.

Ele não ofereceu seu toque suave, mas sua voz o acalmou. — Estou aqui, Jungkook. E não vou a lugar algum.

Ele esperava que não.

O destino de um Ômega [Eternos]Onde histórias criam vida. Descubra agora