dezoito: Consumação do casamento

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Houve momentos em que o dia durava para sempre e nunca vinha a noite. Para Jungkook, esse era um daqueles momentos. Ele olhou sem piscar para a porta
trancada entre os quartos dele e de Jimin até que seus olhos queimaram. Ele viu o breve lampejo de dor na pele ao redor de seus olhos antes de desaparecer e seus traços pálidos se tornaram uma expressão de preocupação.

Jungkook agradeceu aos deuses por ele e Jimin terem começado esse casamento com tanta honestidade entre eles. Ele aceitou seu aviso e fez exatamente como ele esperava, fugindo e trancando sua porta. Sem bajulações ou pedindo longas explicações do por que ele não queria ou mesmo era seguro no momento. Podia não ser capaz de discernir a emoção em seus olhos, mas o ômega o conhecia bem o suficiente agora para saber que suas palavras não eram vazias.

Mesmo através das grossas paredes e porta fechada, ele ouviu sua voz suave e o de Seokjin enquanto os dois se preparavam para dormir. As palavras eram indecifráveis, mas ele achou sua cadência calmante. Eles logo desapareceram, deixando apenas um silêncio pesado para se juntar às sombras
que fugiam dos raios de sol invadindo e se juntavam aos seus pés.

Vinte e dois anos se passaram desde que ele testemunhou sua mãe assassinar sua irmã e a lembrança permanecia tão clara como se acontecesse na noite anterior. As mãos de Ameerah segurando a cabeça de Bella, dedos como pernas de aranha que se curvavam ao redor do minúsculo crânio até que suas pontas de garra afundaram. Os punhos do bebê enrolados em sono inocente. Parcialmente escondida atrás da porta do berçário e silenciada com horror, Jungkook observou enquanto a rainha suavemente segurava a cabeça de Bella por um momento e dava uma rápida volta.

Ele balançou a cabeça para limpar a lembrança. Podia bloquear a imagem, mas não o som grotesco, uma leve risada, apenas mais do que um sussurro que ao longo do tempo ganhou o volume de um trovão em seus sonhos e lembranças.

Jungkook nunca imaginou que contaria a outra pessoa sobre Bella. Apenas duas outras pessoas sabiam o que ele viu e fez há muitos anos. Um morreu uma década por velhice, a outra cortaria sua própria língua antes de contar a alguém. Ambas foram fundamentais para ajudá-lo a fugir com a luz-mortem de Bella e liberar sua alma frágil antes Ameerah a reivindicasse e ele seria para sempre grato a eles. Sua velha babá e sua prima eram mais corajosas do que dez guerreiros Zhadir combinados. Se Ameerah tivesse descoberto seus papéis em seu plano... ele estremeceu ao pensar.

Agora Jimin também sabia. Jungkook se afastou da porta que o separava de seu esposo. Ele era como um fio de seda crua, forte como o aço com um brilho tecido em seu sangue e ossos. Eel o segurou em seus braços como ele trouxe de volta um antigo sofrimento. Como todos os Zhadir, ele não derramava lágrimas. Jimin, no entretanto, derramou-as para ele e percebeu o gosto de sal e tristeza em seus lábios quando ele roçou sua boca com a dele em um gesto de conforto.

A necessidade de abraçá-lo, apertá-lo com força contra parte de seu corpo quase o dominou. Ele era conforto envolvido em carne lisa e cabelo perfumado. Ele mantinha as mãos sobre as costas, sabendo que, para mantê-lo do jeito que queria, poderia feri-lo em seu entusiasmo. Seu corpo muito humano era muito mais fraco do que seu caráter.

Tal conhecimento não impediu que a luxúria se elevasse dentro dele. Enrugado pela raiva e pelo ódio queimando pela rainha, aquela luxúria envenenou o desejo que ele sentia por sua esposo, transformando-a em algo feio.

Quando Jimin apareceu em seu quarto, vestido com sua camisola e se preparando para dormir com ele como fazia todos os dias, quase se lançou sobre o ômega, cego pelo desespero de se afundar em seu corpo e alma. Cada parte dele doía de necessidade. Jungkook derrubou a tentação, congelando-o com imagens de um ômega ensanguentado e quebrado por um homem possuído.

Ele quis agradecer ao ômega quando fugiu do quarto e trancou a porta. A solidão não fazia nada para esfriar sua raiva ou seu desejo. Ele andou pelo quarto. Tomou um pouco de vinho. Ele soltou todas maldições que conhecia sobre a rainha e finalmente, ele agarrou sua capa e saiu do quarto, onde estava certo de que poderia cheirar o perfume florido de Jimin em seus lençóis.

O destino de um Ômega [Eternos]Onde histórias criam vida. Descubra agora