Sete: Luz-mortem

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As diferenças físicas entre os homens Zhadir e os Merl eram óbvias de certa forma. Jimin aceitou este fato antes de se casar com Jungkook. Sua aceitação ajudou a olhar além do aspecto surpreendente do próprio homem. Ele mantinha para si a filosofia: ver além da superfície.

Em seu tempo muito curto entre seu povo, observou muitas similaridades, o amor pela família, o companheirismo, a lealdade de um para com o outro, a dor pelos amigos perdidos. Jimin não tinha dúvidas de que havia muitas mais para descobrir quando assumisse seu lugar entre os Zhadir como o esposo de um de seus príncipes.

Os Merl podiam compartilhar alguns dos mesmos comportamentos Zhadir quando se tratava dos vivos, mas em assuntos de mortos, os dois eram muito diferentes.

Jungkook pegou uma garrafa de vinho e uma manta em sua tenda e fez um lugar para que sentasse na entrada. Sentou-se a seu lado e lhe passou a garrafa.

— Em cada geração, os Zhadir perderam um pouco de sua magia. Somos uma raça antiga, mas estamos desaparecendo. Mantemos a magia que ainda possuímos até sermos forçados a usá-la. Embora eu seja tão experiente como meu pai com feitiços familiares e de proteção, seu poder é maior do que o meu e o do meu irmão. E o do meu irmão é maior que o de seus filhos. No entanto, os Zhadir são antigos e possuem antigas tradições. Os espíritos de nossos mortos deixam este mundo, mas temos o dom de manter suas lembranças – chamamos de luz-mortem. Nós mantemos estas lembranças vivas em um lugar chamado Ezhlek. Elas são a nossa história, o que nos define além de nossa aparência ou dos feitiços que estamos perdendo.

— É Ezhlek um templo? — Ele lhe passou a garrafa depois de tomar um gole de vinho doce.

Jungkook bebeu também e deixou a garrafa entre os dedos. — Realmente não. É sagrado, mas não o adoramos. Aqueles que visitam, vem adquirir conhecimentos de dias passados ou para encontrar comodidade em voltar a visitar a memória daqueles que perderam.

O coração de Jimin se contraiu no peito. Oh, o que daria para ter as lembranças de seus pais com ele.

Rejeitou uma segunda oferta de vinho. — Gostaria que os Merl tivessem algo assim.

Jungkook envolveu o braço ao redor de seu ombro e apertou. — É um consolo para a vida, especialmente quando a morte é repentina, como para os que morrem na batalha ou no parto. — Ele manteve o braço ao redor dele e Jimin apreciou sua força. — A luz-mortem de um Zhadir morto é o último presente para seus entes queridos.

Invejava este presente com um fervor que o fez desejar ter nascido Zhadir, com dentes e tudo. — Como é levado para casa? A luz-mortem?

Jungkook tomou outro gole da garrafa. Jimin estava aprendendo a decifrar sua expressão, os matizes mais sutis, pois não conseguia ler seus olhos, mas sentiu uma estranha hesitação. Ficou tenso ao lado dele e tirou o braço de seu ombro. Ele sentiu falta de seu peso.

Parou no tempo, Jimin não achou que fosse responder. — Esta noite realizaremos uma consagração – um ritual para libertar o espirito e despertar a luz-mortem. — Ele levantou uma de suas mãos e entrelaçou os dedos com os dele.

O contraste de sua pele vermelha e unhas negras contra a dele realçou suas diferenças físicas, mas a dor era dor.

A dor em sua voz era a mesma que qualquer Merl sentia quando se ajoelhava em uma tumba e chorava. — Posso explicar o ritual e a forma como transportamos a luz-mortem, mas irá entender melhor quando for testemunha dele.

— Posso participar?

A boca de Jungkook se curvou para cima. Em um gesto já familiar para ele e um que gostava, beijou seus dedos antes de ficar de pé e ajudá-lo a se levantar.

O destino de um Ômega [Eternos]Onde histórias criam vida. Descubra agora