Out of Time

Capítulo 1

Na primeira vez em que acordei, pensei que estava sonhando.

Ele invadia meus sonhos com frequência naquele navio que deveria levar a Maly e a mim através do Mar Real para uma nova vida em Novyi Zem. Uma vida em que poderíamos ser quem nós quiséssemos - exceto nós mesmos. Uma vida em que estaríamos livres dele.

Então era irônico que ele assombrasse meus sonhos, assim como os assombrava agora. Eu havia deixado o Darkling para trás, talvez até mesmo para morrer na Dobra, mas ainda assim, aqui estava ele olhando-me de cima com seus cabelos negros como a noite e olhos de ardósia, com suas feições afiadas e belas. Era tão familiar, o modo como ele segurava minha face em sua mão.

Em meus sonhos recorrentes, eu me inclinava contra seu toque. Eu permitia que ele roçasse as pontas dos dedos sobre o colar de Morozova e despertasse o poder que vivia em mim, a luz ardente. Eu o deixava fazer o que quisesse.

Mas enquanto ele tocava minha bochecha agora, tudo que fiz foi me paralisar.
Sua mão era quente.

— Alina — ele sussurrou.

Eu o encarei de volta. Eu não era nenhum receptáculo. Eu podia pensar. Eu sentia meu coração acelerado atrás de minhas costelas, o sangue pulsando em meus ouvidos, dormência nas pontas dos dedos. Eu sentia que estava deitada em algo macio. Sentia sua respiração em minha bochecha. A noite densa em nosso entorno.

— Isso não é real — eu disse a ele, como se as palavras pudessem fazer com que fosse realidade. — Você não é real.

Ele suspirou e olhou para alguém que eu não podia ver.

— De novo — disse.

Antes que eu pudesse perguntar qual era o significado daquilo, caí como uma pedra.

☀︎ ☀︎ ☀︎

Para algumas pessoas, o sono em alto mar era tranquilo. Não para mim.

Não por causa do quebrar das ondas, ou o constante oscilar do navio sobre a maré inconstante, mas por causa dos sonhos. Eu os conhecia tão bem, mas aquele tinha sido diferente.

Eu estava aliviada por me encontrar em minha rede no porão do navio com os braços de Maly ao meu redor, sua voz contra meu ouvido.

— Você está a salvo — ele disse. — Está tudo bem.

Eu mal registrei suas palavras enquanto tremia contra ele. Nossos colegas de cabine provavelmente estavam olhando. Eu costumava falar dormindo.

— Parecia real — eu sussurrei, apertando meu rosto contra seu pescoço.

— O que aconteceu?

Eu balancei a cabeça. Eu sabia bem que Maly não gostaria de ouvir sobre o Darkling.

— Tão ruim assim, hein? - Ele perguntou com um riso forçado. Mesmo que eu não pudesse ver seu rosto na escuridão, eu sabia que ele estava de cara fechada, mesmo enquanto esfregava uma mão firme de cima a baixo por minha coluna.

— Não é nada — eu afirmei. — Você está certo. Estou segura. Foi só mais um sonho. — Eu pressionava cada parte minha que eu podia, cada parte ossuda esquisita, contra seu corpo, tentando encontrar conforto em sua presença. — Sinto muito por te acordar.