Eu fiquei o tempo que pude no túmulo de Maly, contando a ele sobre minha vida, o caminho estranho e tortuoso que eu havia percorrido. Eu acho que se eu o tivesse visitado antes - e eu sabia que tinha - e ele estivesse em algum lugar ouvindo, toda a situação seria confusa, eu esquecendo minhas memórias, a tela limpa. Por outro lado, se ele pudesse me ouvir, provavelmente poderia ver tudo também. Eu não me preocupei muito. Era o pensamento que contava, a fala, o desabafo.
Depois de um tempo, vi o padre Alexei vindo pelo caminho e levantei-me, escovando meu kefta.
— Já acabou meu tempo?
Ele se curvou para mim novamente e disse:
— Seu marido teve sua reunião com os administradores da cidade e agora está ficando impaciente.
— E ele pediu para você me buscar.
— À sua maneira.
Eu imaginei que sua maneira envolvia ameaças do que aconteceria se ele não conseguisse, e estremeci.
— Isso não te incomoda, ser mandado como um servo?
— Todos nós devemos suportar — disse o padre delicadamente, após uma breve pausa. — Você mais do que qualquer um.
— Não é mesmo? — murmurei, revirando os olhos. Não era muito santificado da minha parte. Padre Alexei sorriu, embora tenha virado a cabeça para que eu não visse. No breve momento de privacidade, eu toquei a lápide de Maly.
— Eu vou voltar — sussurrei. — Eu vou voltar para te ver novamente.
Então eu andei pelo caminho com o padre Alexei, para longe do garoto que eu tinha amado, de volta ao homem que havia se casado comigo.
O Darkling estava na entrada da igreja, as mãos atrás das costas novamente, com a postura militar de um comandante. Seu rosto raramente denunciava algo, mas eu tinha aprendido a procurar os sinais de sua impaciência. Eu os vi na linha apertada de sua boca, na rigidez de sua coluna.
— Obrigada, Padre — disse, me virando para o sacerdote.
— Nos sentimos honrados pela sua presença — ele disse, com outra inclinação de cabeça. — Você é sempre bem-vinda aqui.
— Alina — disse o Darkling. Era difícil não revirar os olhos novamente enquanto eu ia com ele, mas eu já tinha sido pouco recatada hoje. Talvez houvesse uma cota.
— Por que me trouxe aqui? — perguntei enquanto continuávamos nossa caminhada pela cidade, para longe da igreja e suas cúpulas douradas.
— Para a Dobra?
— Aqui, eu não pensei que você quisesse que eu o visitasse.
Ele ficou quieto por um minuto.
— Você se lembra de mais alguma coisa?
Algo em mim se quebrou quando ele disse isso. Eu não esperava essa resposta, e já estava ferida pela lembrança, por visitar Maly. Eu não podia lidar com a dor de outra pessoa agora, muito menos com a dele.
— Um pouco — eu admiti. — Mas muito pouco. Apenas parte da batalha.
Ele fez um breve aceno com a cabeça, mas não disse mais nada.
— Eu fiquei surpresa por ele ter sido enterrado em algum lugar. — Arrisquei um olhar para ele; ele estava de frente, olhando para a frente. — Eu não pensei que desertores rebeldes fossem honrados assim.
O Darkling deu de ombros.
— Foi uma das suas condições quando você se rendeu.
A maneira casual como ele disse isso, como se não fosse nada, me arrepiou. Parei de repente.
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Out of Time
Fiksi PenggemarAlina Starkov esperava acordar em um navio velejando através do Mar Real, que a levaria para longe de Ravka, para longe do Darkling e sua cruzada insana. Ao invés disso, ela acorda em Os Alta para encarar uma verdade devastadora: a guerra tinha sido...