Capítulo 7

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Sem pensar, agindo puramente por instinto, eu me comprimi contra a parede. A escuridão era completa. Eu podia ouvir apenas um rosnando, o horrível som de de garras raspando em aço.

Eu vou morrer aqui, pensei, mas depois de outra inspiração de ar fétido, balancei a cabeça. Não. Aquela coisa estava do outro lado das barras, e o aço Grisha aguentaria. Além do mais, seria preciso mais do que isso para me matar.

Nas raras ocasiões em que Maly e eu nos aventuramos na floresta, contra os avisos de Ana Kuya e dos outros adultos, eu sempre perguntava a ele o que aconteceria se nos deparássemos com algo grande com muitos e muitos dentes. Com um sorriso arrogante, ele me assegurava que o que quer que encontrássemos teria mais medo de nós do que nós dele, que se nós mantivéssemos firmes, ficaríamos bem. Nós sempre voltávamos, assim como Maly quando ele ficou um pouco mais velho e começou a caçar com os homens, então deveria ser um bom conselho. Não tão bom contra um leshy ou qualquer outro ser sobrenatural que possa se esconder na imaginação hiperativa das crianças, mas ainda bom.

Então eu me mantive firme. Eu levantei minha mão e chamei outra esfera de luz, esta mais brilhante.

— Ei! — Eu gritei, esperando que minha voz não subisse as escadas e passasse pela porta. - Pare com isso!

Quase imediatamente, o monstro se afastou das barras e se agachou. Ele tinha asas enormes, e tentou usar uma delas para proteger seus olhos da luz. Parecia tão lamentável que quase me desculpei com ele. Deixei a luz escurecer um pouco.

— Assim é melhor — eu disse, plantando minha outra mão no quadril. Eu estava perpetuamente cansada, fedia ali e, em vez de encontrar algo que eu pudesse usar contra o Darkling, encontrei um monstro sanguinário. Eu não estava a fim de bobagens. — Você pode se comportar agora? Eu arrisquei muito vindo aqui e não vou desperdiçar tudo sendo comida.

Para minha surpresa, a coisa se sentou sobre suas coxas.

— Oh — eu murmurei. Eu realmente não esperava que isso funcionasse.

Como ele tinha parado de tentar me atacar, me aproximei das barras para tentar dar uma boa olhada. Havia partes dele que tinham as mesmas formas gerais que um ser humano: a cabeça, o tronco. Definitivamente masculino. Veias negras serpenteavam sobre o peito, até os braços, o pescoço. Em vez de mãos e pés, tinha garras. As asas pretas que irromperam de suas costas não eram emplumadas; elas quase pareciam ser feitas de sombra viva.

O monstro inclinou a cabeça, olhando para mim. Pode ter sido minha imaginação — eu poderia muito bem estar enlouquecendo — mas parecia ferido pelos meus gritos.

— Olá, então — eu disse, com cautela.

Suas asas se agitaram.

Coloquei uma mão no meu peito.

— Meu nome é Alina. O que você é? Você tem um nome?

A estranha criatura fez um barulho queixoso, como uma porta de celeiro enferrujada que alguém estava tentando abrir depois de anos em desuso. Percebi que ele não falava com ninguém há muito tempo, se é que poderia falar.

— Tudo bem. — Eu franzi a testa, tentando descobrir como conversar com algo que pode não compreender o que eu estava dizendo e não poderia responder. — Você tentou me comer, e não é como se houvesse muita carne nos meus ossos, então você deve estar com fome. O que você come? Tem comida aqui?

Além dos prisioneiros, percebi com medo crescente. Além de pessoas que precisavam desaparecer.

Felizmente, houve uma resposta mais mundana. O monstro olhou para um baú escondido contra a parede do meu lado das barras, que eu não tinha notado. Quando me aproximei, vi que era uma caixa de gelo. Abrindo, vi cerca de meia dúzia de pássaros de caça embalados firmemente, gordos e depenados. Um carnívoro, então. Senti pena de qualquer subalterno que tivesse o trabalho de manter a caixa abastecida.

Out of TimeOnde histórias criam vida. Descubra agora