Nós partimos de Os Alta dois dias depois. Eu havia perguntado se Natalia viria, mas ela deveria ficar no Pequeno Palácio para supervisionar alguns aprendizes Grisha. Ela se ofereceu para procurar outras damas de companhia para mim, mas eu recusei; eu poderia me vestir sozinha, e não era como se o Darkling tivesse atendentes. Em vez disso, fomos acompanhados por uma dúzia de oprichniki e meia dúzia de Grishas: uma comitiva de Corporalki e, curiosamente, Aeros.
Ser rainha tinha seus benefícios e desvantagens. Eu não havia arrumado minha própria mala, nem tinha feito meu próprio cabelo. Natalia o prendeu em cachos apertados e entrelaçados e amarrou um lenço preto em volta deles, dizendo-me para tirar os grampos quando chegássemos ao nosso destino e passar os dedos pelo meu cabelo.
— Você pode escová-lo uma vez — ela disse —, mas não mais do que uma vez — sinistro, mas eu não discuti.
Encontrei um momento para escapar e dizer ao monstro que estava indo embora, mas que voltaria, embora não tenha certeza se ele entendeu o que isso significava. Senti-me corroída por culpa quando olhei para aqueles olhos negros inteligentes, as asas feitas para voar. Eu estava saindo, mas ele não poderia.
É claro, sair do palácio não significava que eu estava livre da minha gaiola. Fui lembrada disso na noite chuvosa em que fui levada para uma carruagem longa e sem cavalos - um carro - com o Darkling e um terço de sua guarda de oprichniki. Enquanto sacolejávamos pelas ruas pavimentadas de Os Alta, olhei pela janela e direcionei meus pensamentos, por exaustão e obrigação, em direção à fuga. Eu provavelmente poderia lidar com os guardas com o Corte, embora fosse melhor apenas cegá-los sem matá-los. Eu desejei ter minhas luvas espelhadas.
O Darkling era um obstáculo intransponível, quase tanto quanto não saber para onde eu poderia escapar. Eu suspirei e tentei ignorar minha crescente náusea. Eu não gostava do carro, da maneira como sentia cada solavanco de paralelepípedo, cada buraco.
O trem, porém. O trem era uma história diferente.
Ele estava esperando por nós em uma plataforma privada, todo de metal preto com emendas douradas e janelas de vidro, carros ligados que pareciam infinitos, embora eu tenha contado dez. Um deles tinha um telhado que parecia inteiramente feito de vidro fortificado por um Fabricador, mal visível na noite. O vapor sibilava suavemente vindo da locomotiva do trem. Parecia algo quase tão impossível quanto um dragão, certamente uma façanha que teria sido inatingível em meu tempo. Ravka tinha trens, é claro, redes ferroviárias limitadas destinadas a transportar grãos e tropas, apenas começando a se ramificar. Afinal, meu país era pobre. Não era cruzado por ferrovias.
Eu subi do carro quando a porta foi aberta para mim, protegida da chuva por um oprichnik que segurava um guarda-chuva sobre minha cabeça. O trem real estava salpicado com nossos símbolos, alternando o sol e o sol em eclipse. Um pouco óbvio, pensei, franzindo a testa. Meu poder diminuído pelo dele, mesmo que estivéssemos igualmente representados.
Mas mesmo isso não foi suficiente para ofuscar a maravilha do trem. O Darkling chegou ao meu lado, outro oprichnik mantendo sua cabeça seca com outro guarda-chuva erguido.
— O que você acha?
Não tínhamos falado desde a noite em que ele me carregou de volta para o meu quarto, e isso parecia um estranho avanço, mas lembrei-me dele perguntando o que eu achava do Grande Palácio quando o vi pela primeira vez. Talvez eu devesse achar o trem horrível também.
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Out of Time
FanfictionAlina Starkov esperava acordar em um navio velejando através do Mar Real, que a levaria para longe de Ravka, para longe do Darkling e sua cruzada insana. Ao invés disso, ela acorda em Os Alta para encarar uma verdade devastadora: a guerra tinha sido...