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— Tá, deixa eu ver se eu entendi — Noah começou, sentado relaxado sobre o tapete da sala, os cotovelos apoiados na mesinha de centro, onde alguns dos convites estavam.
— Você fez um curso de caligrafia na faculdade.

— Fiz. — Revirei os olhos, pegando duas latas do meu refrigerante favorito. Parecia estranhamente certo tê-lo ali, no meu apartamento.

Noah já tinha aparecido com Alex quando Nour e eu fizemos maratona da temporada final de Game of Thrones, mas saiu bem mais cedo, porque tinha um encontro com uma professora de yoga. Só tinha ficado o suficiente para sugerir que meu sofá era bom para transar, que a mulher com a qual estava prestes a se encontrar era flexível e que meus salgadinhos eram apimentados demais.

Naquele momento, porém, não havia o clima pesado que sempre estava entre nós. Bem, na verdade, o clima até estava ali, mas era muito mais divertido do que irritante. Nos poucos minutos desde que entrara no apartamento, Noah tinha me animado mais do que me aborrecido.

— E você transava durante esse tempo? — perguntou. Bufei, entregando-lhe uma das latinhas, desejando que eu a tivesse sacudindo antes. Talvez irritação e divertimento estivessem equilibrados.

— Cheguei a namorar um cara que conheci na aula de caligrafia artística — falei, tentando soar convencida. Noah ergueu uma sobrancelha.

— E quando você descobriu que ele era gay?

— Não seja preconceituoso. — Me sentei ao lado dele no tapete, em frente a mesinha abrindo o refrigerante sem olhá-lo. — Ele me mandou fotos do bebê que ele e o marido adotaram mês passado —sussurrei e Noah riu.

Uma série de namoros fracassados apareceram na minha mente. Estremeci. Os tempos da faculdade tinham sido estranhos, com caras mais estranhos ainda. O claramente gay, o que se aproximou de mim porque meus tios eram super religiosos e ele queria se casar, o que quase me causou um choque anafilático e o que terminou comigo me devendo duzentos dólares. Toda aquela série de caras tinham em comum o fato de que fizeram minha vida um pouco mais chata durante os períodos de relacionamento, além de serem completamente errados para mim.

Era impossível pensar neles sem deixar de notar o homem relaxado na minha sala. Não era só no quesito físico que todos os meus ex se diferenciavam de Noah. Não admitiria em voz alta, mas estava sendo mais atrativo passar o tempo com Urrea do que ao lado de qualquer outro cara com que eu tinha saído.

— Então, foi você quem escreveu isso? Bem legal. — Noah levantou o envelope com o nome de uma das tias de Alex enquanto eu pensava na gama de idiotas que tinham passado pela minha vida. Nenhum deles nunca pareceu impressionado ao ver os meus envelopes escritos a mão. Balancei a cabeça, concordando.

— Obrigada. Sabia que aquelas aulas, um dia, teriam alguma serventia.

— Além de atrair homens — zombou e eu ri, tomando um gole da bebida.

— Caligrafia, uma arte perdida.

— Quer tentar? — perguntei em desafio. Por que o gostosão não tentava antes de rir? — Talvez você consiga arranjar umas garotas com essa arte perdida.

— Claro, até porque quando eu estiver no meio de um bar, vou escrever "vamos para uma rapidinha no estacionamento" num guardanapo e irei arrancar suspiros — Noah disse, fazendo com que eu revirasse os olhos ao mesmo tempo que ele pegava a caneta tinteiro especial e o papel de rascunho que eu tinha usado para testar a cor.

Me encolhi. Aquela caneta era meu xodó e eu esperava que tivesse cuidado, uma vez que ainda tinha outros trinta convites para escrever. Um trabalho hercúleo, mas um agrado que eu queria dar aos meus amigos.

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