018.

329 46 1
                                    

noah urrea pov.

Meus sonhos envolveram drag queens, a cor azul e cheiro de baunilha misturado com flores. Quis me enterrar no aroma como um viciado, mas meu pescoço doeu e abri os olhos num rompante. A dona daquele perfume não estava ali.

— Argh! — gemi, sentindo gosto de guarda-chuva na boca.

Ressaca.

Tentei me lembrar de como tinha chegado em casa e memórias confusas de Alex me carregando para o apartamento enquanto eu dizia que o amava apareceram. Gemi outra vez, sentindo a cabeça latejar.

Afundei no sofá pouco confortável em suas estruturas quadradas. Meu queixo tocou o peito e inspirei fundo. Baunilha e flores encheram meus pulmões outra vez e não consegui conter o sorriso. Mesmo de ressaca, as memórias do que Any e eu tínhamos feito conseguiam trazer vida ao meu corpo e principalmente para meu pau.

Me mexi, desconfortável com a ereção persistente desde a primeira vez que eu a tinha beijado. Pensava que, após transar com ela, o problema ia se resolver, que aquele frenesi iria diminuir, mas não. Tendo experimentado Any Gabrielly, eu não conseguia pensar em mais nada. Até nos sonhos regados a bebida, sua pele macia, seus suspiros delicados e toques eróticos estavam presos a mim. Eu estava viciado nela.

Afundei o rosto no braço do sofá, querendo desaparecer, porém meu pescoço protestou e a dor de cabeça apenas piorou. Merda de ressaca. Levantei-me, sentindo o enjoo. Uísque era uma ótima pedida para noite, mas uma péssima para a manhã seguinte.

Caminhei até o banheiro, chutando as meias e me lembrando de como David tivera dificuldade em tirar meus sapatos enquanto eu tentava me desvencilhar para mostrar que podia ser uma drag queen.  Encarei o espelho. Eu estava um caco, mas, ainda assim, parecia... animado? De uma maneira boa, claro. Meus olhos estavam cheios de um brilho que eu desconhecia e ali, sozinho no banheiro, eu mantinha a sombra de um sorriso.

Puxei a gola da camisa e cheirei o perfume doce, sentindo-me inebriado por ele. Baunilha e flores. Meu sorriso cresceu. Minha ereção também. Gemi. Any estava grudada no meu sistema. Me despi e segui para o chuveiro, precisando de um banho gelado, embora soubesse, pela experiência dos últimos dias, que nem a água fria era capaz de me tirar daquele estado de dureza pétrea.

Minhas mãos não ofereceriam nenhum consolo, não depois de ter experimentado a maciez e o calor dela. Frustrado, sai do banho com a toalha enrolada no quadril, cabelos pingando e uma dor de cabeça que só piorava. Busquei uma aspirina no armário e uma garrafa de água na geladeira. Pelo menos, as atividades da força tarefa do casamento tinham acabado. Isso significava que eu tinha a sexta livre.

No entanto, apesar de poder dormir e me recuperar da ressaca, me perguntei se poderia aparecer no apartamento de Any. Seria muito estranho? Eu poderia chamá-la para um café... Era o tipo de coisa que os padrinhos faziam, não era? Até padrinhos que transavam um com o outro.

Antes que pudesse decidir, porém, o celular tocou. Encolhi-me com o barulho. Por que tudo tinha que parecer tão alto quando estava de ressaca? Senti os ombros arriarem ao notar que o número era desconhecido, não o contato da Any brilhando na tela do meu celular. Bufei e atendi. Os estagiários, às vezes, surtavam e, para meu bem e o deles, era melhor atender antes que apagassem arquivos fundamentais no desespero.

— Alô? — falei.

Sicuro! Perché faccio tutto in questo posto — uma voz feminina gritou. Afastei-me, sentindo pontadas na testa. No fundo da minha mente, as aulas de italiano que eu tive no ensino médio me diziam que a pessoa do outro lado estava reclamando por ser a responsável em fazer tudo. Quase não consegui entender, por causa da dor de cabeça. Merda de ressaca, praguejei outra vez. — Noah Urrea? — a mulher chamou e, no fundo, uma conversa alta continuou.

Os Padrinhos | noany Onde histórias criam vida. Descubra agora