025.

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any gabrielly pov.

Não consegui ir muito longe na areia com saltos tão altos quanto aqueles e não estava disposta a andar descalça enquanto continuava cega pelas lágrimas em meus olhos.

Tudo que eu menos precisava era de um pé machucado.

Quando estava longe o suficiente para não ouvir mais a música animada da festa, me sentei em um tronco, contemplando o mar à noite. Era como se a escuridão do céu se fundisse e refletisse na água. Era lindo.

E triste. Muito triste.

Me permiti chorar, prometendo que aquela seria a última vez que derramaria uma lágrima por Noah Urrea. A última vez que sequer pensaria nele. Deixei os soluços sacudirem meu corpo e o nariz úmido escorrer. Nojento.
Eu estava um caco. Mas ficaria bem. Tinha que ficar bem.

Chorei por minutos infindos e tentei me abraçar para aplacar o tumulto que crescia no peito.

No entanto, o movimento só me lembrou da solidão, o que fez mais uma rodada de lágrimas me invadir.

Minha cabeça estava pesada quando me dobrei e deitei o rosto nos joelhos, implorando para mim mesma que eu parecesse de chorar, que pulasse direto para a parte em que me reerguia e continuava.

A dor, porém, não pulava etapas. Ela vinha em fases definidas e, se eu quisesse esquecê- lo, teria que viver cada uma delas.

— Any? — Saby perguntou, se aproximando.
Não me movi. Não queria que me visse daquela forma. Talvez se eu continuasse encolhida naquela posição, pensasse que eu era parte do tronco. Mas eu não tinha aquela sorte. — Sinto muito — sussurrou, sentando-se ao meu lado.

Meu lábio inferior tremeu. Mais choro.

— Você nem... sabe... O que aconteceu — apontei debilmente enquanto ela afagava meus ombros.

— Nour me pediu para te procurar e acabei escutando a parte final da sua conversa com...
— Me encolhi, esperando que dissesse o nome dele, mas Saby não o fez. — Sinto muito.

— Está tudo bem — garanti, mesmo sem conseguir convencer uma criança com aquele papo, não quando estava molhando os joelhos do meu vestido com lágrimas.

— Não está — ela disse com suavidade e aquilo trouxe um novo soluço. — E dizer que está tudo bem não vai melhorar isso.

— O que vai então? — perguntei, querendo que tivesse uma resposta. — Meus melhores amigos estão partindo amanhã, minha única família vai embora e o homem que... — Não consegui dizer as palavras. — Saby, eu estou sozinha.

— Sinto muito! — repetiu, sem parar o afago nos meus ombros. — Ele é um babaca.

— Foi um idiota com você também? — questionei. Talvez fosse mais fácil se eu soubesse de um histórico de corações partidos.

— Não — falou com cuidado. Chorei ainda mais. Seus olhos se arregalaram diante da situação. — Ah, mas quer saber? Amigas antes de caras. Ele é um idiota. Ponto final.

— Obrigada — agradeci, me permitindo dar um meio sorriso choroso e melecado.

— Sabe de uma coisa? — começou. — Nem todo mundo está indo embora. Eu ainda estou aqui e poderíamos ser... Amigas. — A voz dela saiu incerta, quase amedrontada ao me dar um meio sorriso. — Se você quiser, claro.

— Você não precisa dizer isso — respondi. Não queria ser uma chorona que arrastaria a prima super descolada da minha amiga para uma espiral de sofrimento

— Não estou falando isso para te fazer se sentir melhor — garantiu. — Também não tenho muitos amigos agora. E, bom, existem milhares de homens com o mesmo interesse em negócios que eu e eles não são isolados e subestimados como eu sou. Na verdade, me considero muito mais inteligente do que eles, porque, obviamente, me visto muito melhor do que todos.

Ri do comentário indignado sobre como os playboys se vestiam e Cindy me acompanhou.

— Não temos muito em comum — admitiu.
— Mas estamos aqui, então, por que não? — sugeriu e seus olhos brilharam. Brilharam por mim, pela minha amizade.

— Acho que tenho sérios problemas de abandono — avisei.

— E eu acho que sou viciada em compras. Estamos quites! — admitiu e eu gargalhei, erguendo o torso da posição fetal que me encontrava. A dor ainda estava ali, por toda parte, me impedindo de respirar, mas ficava mais fácil quando não estava sozinha.

— Any! — Ouvi uma voz chamar e nos viramos. Era um pontinho branco de véu e grinalda correndo descalça pela areia. — Ah, Any, eu sinto tanto!

— Ela pode correr assim? — Saby perguntou, apreensiva. Arregalei os olhos, imaginando um grãozinho de arroz se mexendo sem entender em seu útero.

— Sinto muito! — Nour correu e se sentou ao meu lado. Tive que segurá-la para que não tombasse no tronco. — Você e Noah... estava acontecendo alguma coisa séria, não estava? — perguntou e afagou meu joelho ao mesmo tempo que Saby continuava seu toque acolhedor em meus ombros.

Balancei a cabeça, concordando, sentindo a garganta se fechar antes de admitir em voz alta.

— Sinto muito — repetiu.

Eu não sentia muito e aquele era o problema.

Não conseguia me arrepender de me apaixonar por Noah ou dos beijos, dos toques, dos pequenos segredos que compartilhamos.

— Eu sei, Noury — afirmei. — Não é sua culpa. Não é culpa de ninguém, na verdade. É o tipo de coisa que só... Acontece.

— Eu consigo pensar em um culpado — rosnou e eu balancei a cabeça. Não podia deixar que o que tinha acontecido entre a gente interferisse na amizade dos dois.

— Não é culpa de ninguém — falei mais uma vez. Eu era uma idiota por ainda considerá- lo, por não querer que experimentasse a solidão de não ter amigos. — Vai ser um processo longo — admiti com a voz embargada.
— Dessa vez, acabou mesmo comigo. Acho que estou no fundo do poço.

— Então, de agora em diante, é só subida — Nour sussurrou de maneira doce. Balancei a cabeça, acreditando no que dizia. Olhei para ela e em seguida, para minha amiga recém feita.

—Vai ficar tudo bem.

Eu esperava desesperadamente que sim.


N/A: gente a Saby com a Any 🥺

bora fazer mutirão pra acabar com a raça dos homens.

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