A aspereza noturna, misturada com o indício do frio em começo de inverno, as janelas fechadas e aglomerados de cidadãos errôneos naquele bar criava uma tensão mais catastrófica, aquecendo os corpos diante do amontoado de falas arrastadas, choros baixos e tilintares de copos de vidro.
Lubridiado, o rapaz batucou com força a borda da garrafa vazia de cerveja, soluçando alto em seguida, os dedos calejados da mão reserva procuraram vasculhar os bolsos do colete bem costurado, no único intuito de alcançar o maço já aberto desde o início da noite. Lentamente, pois a ponta do polegar estava enfaixada com um curativo, meio dolorido, o fez grunhir raivoso ao manobrar suas ações para acender o isqueiro, pego logo após por o cigarro entre o vão dos lábios ressecados.
Ele poderia ter disposto de um tempo sozinho e silencioso na sua mente conturbada, mas depois de soprar finos rastros azulados de fumaça para cima, uma voz monótona assolou seus ouvidos.
— Seu pai, como ele está?
— Morrendo.
A resposta, direta, não continha nenhum tipo de emoção.
— Seriamente que você vai ignorar ele até o fim? Isso é cruel demais, até mesmo vindo de você.
— Ele que vá para o inferno. — novamente, a frivolidade na frase não abalou o outro sujeito, este que curiosamente sorriu ladino. — Eu não 'tô nem aí, já ouvi ladainhas dele suficiente por uma vida inteira.
— Satoru, você não acredita em karma?
— Acredito, por que você acha que a minha vida é uma merda?
Jogado na deliberada falta de noção do amigo, o homem de fios morenos dispor-se de rir alto, por si próprio bebericando sua cerveja pela metade. A cadeira de madeira rangeu quando o indivíduo espreguiçou-se, de maneira desajeitada os braços para trás do encosto, outrora, equilibrando-se com os pés em outra cadeira vazia. Faíscas do cigarro aceso caíram e machucaram o início da boca entreaberta, mas ele não se importou.
— Suguru. — ele balbuciou o nome dele, que apenas sussurrou em resposta. — Quando vai partir para os Estados Unidos?
— Amanhã. — monossílabo, o moreno cruzou uma perna sobre a outra, em instantes também posto de um cigarro entre os dedos. — Tem certeza que não quer ir comigo?
— Não, eu odeio aviões, você sabe.
— E o que você não odeia?
— Nem começa. — sem paciência para provocações, Satoru o dispensou, recebendo um riso natural em troca. — Eu vou ao banheiro. — de súbito, ele impôs, agora amassando o restante do cigarro pela metade em um cinzeiro sobre a mesa, fumaça foi liberada dos seus pulmões.
Sobreposto a enfrentar um emaranhado de pessoas no centro do local, como em volta dos balcões para open bar e mesas desinformadas no espaço, até chegar ao banheiro masculino, suas pernas já estavam cedendo por uma pressão esquisita. Meio constipado, o jovem homem torceu os lábios e procurou refúgio em apoiar-se na bancada acoplada à pia, um desconhecido entrou no cubículo e ele não fez menção de levantar o olhar para saber de quem se tratava.
Talvez já estivesse fazendo efeito…
Certeiro do seu palpite, um sorriso presunçoso escapou na expressão soberba do seu rosto cabisbaixo, em instantes, levitando o olhar para captar-se a si mesmo em frente à um espelho desgastado, não tão velho, refletindo cada mártir presente na sua face.
Um pouco mais eufórico, por razões até então inexploradas pelo seu senso mais razoável, fez sua saída do local de volta para o salão, meio inquieto enquanto roçava os dedos nos fios prateados, por vezes tão esbranquiçados de opacos. Satoru estranhou pensar que alguém se comunicou com ele, mesmo que sua visão periférica já estivesse parcialmente comprometida, um pouco grogue para apelar à sinceridade.
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𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄
FanfictionAno de 1957, mesmo após a tragédia irrefutável da Segunda Guerra, Satoru continuou vagando sem propósito em mente, absorvido pela dor do passado. Após a chegada de Utahime em sua vida, ele viu-se mudando, mesmo que pouco a pouco, graças ao que aquel...