Aos poucos, as pálpebras foram-se abrindo.
Foi inevitável para ele não se sentir meio tonto, mesmo que deitado, com o corpo esparramado de maneira desajeitada na sua cama. Satoru suspirou estarrecido, tocando o topo da sua cabeça que doía, provavelmente graças a uma ressaca sanguinária.
Ele exagerou noite passada, possuía uma noção disso, mas seu estômago não o escutou quando começou a se contorcer, obrigando-o a arregalar os olhos e desejar sair do colchão imediatamente. Não demorou, e correndo entre trejeitos até o banheiro acoplado no seu quarto, o homem perdeu a força dos joelhos, apenas para cair de frente ao vaso sanitário e com sucesso, vomitar todas as suas vísceras para fora.
E chateado com a sujeira assim como o mal cheiro, tratou de logo lavar o rosto e escovar bem sua boca e dentes, destinado a após isso, tomar um merecido banho quente de banheira.
Após alguns longos minutos, ele já estava de volta desta vez no seu armário, abotoando os botões das mangas da sua camisa, depois disso vestiu um colete por cima, a gravata assim como a peça era de um tom azul escuro predominante. Mais um suspiro profundo para inalar o ar do seu peito, catar seu casaco esticado sobre a cama e pegar seus cigarros na cômoda, e então fez sua saída completa do local, sem se preocupar em trancar a porta.
Como esperado, seus sobrinhos estavam na sala. Por receberem educação em casa, uma coisa a qual ele discordou desde o início, as duas crianças aguardavam para a professora chegar após as nove, onde tinham aulas variadas. Satoru reconhecia que os pirralhos precisavam de liberdade para crescer no mundo afora, mas Mei, sua irmã mais velha, teimava em não contradizer os velhos costumes idiotas da sua família.
Ele parou defronte para a entrada, e esperou uns segundos para chamar a atenção dos dois.
— Ei.
Os dois garotinhos o encararam rapidamente, mas se mantiveram calados, ambos amontoados entre os variados brinquedos no chão.
— Cadê os pais de vocês?
— O papai já foi trabalhar, e a mamãe saiu com ele. — Momo informou, desviando o olhar para sua boneca em mãos.
— Tinha que ser… — Satoru desdenhou, aproximando-se aos poucos dos demais.
— A gente vai conhecer a nova babá hoje. — Toge adicionou, e curioso, o mais velho se uniu à eles quando se agachou no chão.
— Verdade? — os dois balançaram a cabeça em sintonia, apenas para fazer o tio destes torcer os lábios. — Só não vão destruir a sanidade mental dessa, como fizeram com a antiga.
— Ela era malvada! — a loirinha, expressivos olhos azuis intensos, argumentou, encarando-o com fervor. — Ela me trancou no meu quarto uma vez, só porque eu peguei um pedaço de bolo na cozinha!
— Culpa sua por ser fominha e comer doces durante o horário de almoço, pirralha. — a resposta não a deixou contente, pois soou como sermão, com isso Satoru levantou-se aos poucos, gemendo baixo pela dor nas juntas. — Que seja, até mais tarde. E vê se vão brincar lá fora, essa casa suga a energia vital das pessoas.
Acostumadas com as tiradas sátiras nada sutis do mais velho, além do seu sarcasmo, as crianças resolveram ignorar sua ida, permanecendo no cômodo da sala enquanto ele caminhava até a entrada principal, passando dela para atingir o outro lado, onde estava a cozinha. O sujeito não sabia que horas eram, mas uma xícara de café puro seria o suficiente naquela manhã.
Sua mãe, Kiyoko, descia agora as escadas, ecoando o barulho alto dos saltos baixos, cabelos grisalhos como os dele, mas aderidos pela idade, presos em um charmoso coque arrumado. E foi deveras rápido como uma das criadas surgiu no seu campo de visão, apenas para anunciar com certa pressa: — A nova babá já está aqui, senhora.
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𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄
FanfictionAno de 1957, mesmo após a tragédia irrefutável da Segunda Guerra, Satoru continuou vagando sem propósito em mente, absorvido pela dor do passado. Após a chegada de Utahime em sua vida, ele viu-se mudando, mesmo que pouco a pouco, graças ao que aquel...