No passar dos dias, e em como a dinâmica das coisas pareciam mudar diante ao tempo, Utahime contou seus primeiros três meses de estadia na residência da família Gojo.
Ela não havia mais tido a desavença de ter outra discussão desnecessária com Satoru, ou de tê-lo visto encarando-a com um olhar torto, também com o acompanhamento de um insulto qualquer. Ao que aparentava, ele parecia ter se rendido à ideia da mulher permanecer na sua casa, mesmo nada contente com a situação.
Bem, Utahime possuía uma certeza de que ele não estava conformado, em outros casos, poderia estar apenas planejando sorrateiramente uma forma meticulosa para livrar-se dela.
Após ajudar as crianças com o dever de casa passado pelo professor particular, e deixá-los sozinhos brincando no andar de cima e assim descer para buscar um pouco de chá, Utahime foi contatada por uma das criadas que voltava da entrada em passos rápidos.
— É a correspondência? Deixe que eu entrego para a dona Kiyoko.
Ela apenas recebeu um aceno em agradecimento vindo da mulher, que logo se retirou, apressada para continuar com seus afazeres. Bastante curiosa, e após ficar sozinha no meio da ampla sala principal, seus dedos brincaram de leve com os vários envelopes, checando cada nome impresso.
Seu senso pesava para não bisbilhotar nos assuntos privados dos seus patrões, mas ela não pôde resistir, ainda mais, depois de encontrar uma singela carta enviada diretamente da América do Norte.
Los Angeles? De quem deve ser? Dada a tremenda curiosidade, ela virou o envelope e encarou seu verso, acabando por encontrar o nome do remetente em questão. O selo preso na ponta do papel reluziu pela luz mundana do local.
— Suguru Geto?
Enquanto lia o nome desconhecido em voz alta, ela cometeu o erro de não perceber que ninguém menos que Satoru, vinha ao seu encontro em passos calculados.
Um pouco ríspido e zangado por vê-la mexendo, novamente, nos seus pertences, ele tratou de erguer o braço o suficiente à altura dos olhos dela, por fim, arrebatando a dita carta enviada por Suguru para si.
Ele acabava de chegar em casa, apenas para ter de lidar com outra das peripécias dela?
— Que susto! — Utahime definhou, afastando-se dele para topar no seu peito ofegante.
— Não se deve mexer nas coisas dos outros, já não deixei isso bem claro?
— Eu não estava- — ela parou imediatamente de falar após ver que ele não lhe deu ouvidos, virando-se de costas para ir embora. — Não me ignore!
A exigência não abalou os ouvidos de Satoru, que em um piscar de olhos subiu a escadaria em passos apressados e ritmados, deixando-a sozinha e com uma feição completamente amargurada.
— Homem mal educado, escrupuloso…!
— Algo de errado, querida?
Com o segundo susto tomado, em um intervalo de apenas dez segundos, Utahime agora encontrava-se cara a cara com Kiyoko, a qual estranhou em vê-la balbuciando palavras desconexas, como se estivesse falando sozinha.
— Ah, dona Kiyoko, não, está tudo bem. — ela recompôs sua postura como um todo, e sorriu meiga. Com isso, acabou por lembrar-se do restante das cartas: — Isto chegou hoje.
— Oh, obrigada.
A senhora buscou os envelopes com cuidado após agradecer, e antes de conseguir dar uma checada no conteúdo destes, sua visão periférica foi de encontro a outra criada que vagava pelo salão.
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𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄
FanfictionAno de 1957, mesmo após a tragédia irrefutável da Segunda Guerra, Satoru continuou vagando sem propósito em mente, absorvido pela dor do passado. Após a chegada de Utahime em sua vida, ele viu-se mudando, mesmo que pouco a pouco, graças ao que aquel...