Capítulo 3 (Parte 2);

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Satoru soube que realmente desprezava comemorações como aquela.

Não que ele fosse aversivo ao fato de sua própria sobrinha querida estar aniversariando, mas sim, pelas circunstâncias as quais lhe eram impostas naquela situação. O que uma garotinha de oito anos poderia retirar como algo importante para o seu dia, em uma festividade regada por charlatões de colarinho branco, figuras importantes da sociedade e ramo político onde eles vivem, Londres?

Ele teve noção que a maior parte dos convidados, ou quase inteiramente, eram conhecidos, colegas de trabalho e viventes do convívio de Nanami. Como um advogado renomado, com uma carreira e imagem a zelar, conquistava bastante dos seus aliados pela sua proeza de fazer um excelente trabalho apesar de tudo. Satoru também não desgosta da ocupação do seu cunhado ou as regalias que ela traz para sua realidade, mas ele não vê como as escolhas dele para com Mei, irão de alguma forma, guiar seus filhos para a verdade sobre a vida.

Aquilo não era algo. Era uma casca vazia. A verdadeira verdade estava do lado de fora, onde ele, e muitas outras pessoas, um dia, puderam testemunhar e sofrer em consequência que estas trouxeram.

Talvez, fosse apenas o sentimento recessivo de não conseguir aproveitar mais nada que parecesse vantajoso na sua vida.

Um pouco intragável, ele acabou por assustar uns dos garçons que transitava ao erguer sua mão acima da bandeja de prata e buscar uma taça de champanhe. O tal garçom assustou-se, pediu desculpas e preferiu afastar-se, dada a antipatia imposta na cara dele.

Que ao bebericar de leve o líquido empalado de álcool, pôde, com destreza, captar a figura solene de Utahime no outro lado do salão, na companhia de sua mãe e juntamente sua irmã.

Ele teve de observá-la bem mais do que deveria, mas sem se importar minuto algum. O sorriso que ela transmitiu ao ouvir algo dito por Mei, fez reascender sensações até então inexploradas no seu peito.

Ele estava afoito. Unânime em uma decisão que recusava a admitir para si mesmo. Ele estava petrificado em tê-la de encarar por muito tempo, ingênuo ao imaginar que não existia nada além de raiva e ressentimento pela sua velha convivência com ela. Ele estava preso em uma dualidade insana, em um abismo desfavorável.

Outrora, o olhar acastanhado e perceptivo de Utahime percorreu a direção onde ele se encontrava, e ambos, puseram-se outra vez a trocar uma linguagem muda de olhares intactos. Satoru nada fez, e apenas continuou bebendo, tendo de observar a expressão enigmática dela, mesmo que transmitisse, minimamente, uma mensagem de agonia.

Por que ele teve de beijá-la? Essa foi a pior decisão que tomará para aliviar sua tensão naquele momento.

Agora, ele sentia-se irritado consigo mesmo.

Harmonicamente, a música Only You percorreu o espaço, vibrante pelas vozes do grupo musical contratado para a noite, que com a companhia de uma pianista e saxofonista, formavam uma boa combinação para detonar um blues suave, mas perigosamente aliciente.

Satoru piscou os olhos azuis, abatidos por noites mal dormidas, e se pôs a sair dali, vidrado em incertezas e principalmente, sem desejar cometer outra ação que fugisse do seu controle.

Se Utahime vinhesse ao seu encontro naquele instante, ele faria algo muito mais extremo que um simples beijo, disso, teve certeza.

Descontente pela ida dele, Utahime ignorou sem querer a conversa entre Mei e Kiyoko, para observá-lo ir distanciando-se, posto de costas para ela e a multidão inserida no salão.

Desconfortável, Utahime teve de formular um sorriso falso para não demonstrar estar inquieta, e assim, pedir licença para as duas mulheres que se despediram, para logo iniciar a conversa de anteriormente.

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora