Capítulo 8;

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"Ele é uma criança brilhante." Desde a minha infância prematura, quando eu ainda era um ser pouco entendedor dos valores, estreitos da vida, eu ouvia este tipo de coisa vinda de outras pessoas. Era o orgulho da minha mãe saber que possuía um filho abençoado por um saber e sagacidade tão cedo em sua vida. "Deve ter puxado ao pai, são muitos parecidos quando a questão é inteligência." Esta era sempre a resposta dela. E eu nunca concordei com ela.

Minha mãe chegou a amar o meu pai, por razões desconhecidas para mim, e estas razões devem ter derivado um casamento sólido com dois filhos. Talvez existisse uma camada dele que eu nunca pude presenciar no mundo real, algo que representasse que ele era um homem, apesar de tudo, um ser humano decente.

Eu sempre soube que ele desprezava Mei. Ela foi sua primeira filha, e pela má sorte não dada a si mesma antes do seu nascimento, ela precisou vir ao mundo como uma mulher, primogênita em uma família que seguia costumes nefastos conservadores por vários anos. E eu, acabei por me tornar o triunfo que veio para a vida dele. Minha mãe sempre me dizia que ele me observava dormir por horas nos primeiros meses após o meu nascimento, não sorria, não fazia menção alguma de mover o seu rosto para expressar emoção, mas apesar de tudo, estava sempre ali, perto de mim.

Meu avô, seu pai, lhe deve ter sido muito duro consigo. A aspereza com a qual ele cuidava da nossa família, sem dedicar algo a mais que dinheiro e proteção, a falta incompreendida de amor, sempre nos afetou. Eu era jovem demais para perceber, e muito inocente para represar sentimentos de ódio pelo meu próprio pai.

Ao meu ver, em uma visão única, de um singelo garoto de sete anos, o meu pai era duro conosco porque nos amava, ou, porque era a única forma de amar a qual ele conhecia.

Assim como ele, nos primeiros anos da infância eu descobri o meu gosto por física e mecânica. Um desejo oriundo de leituras sobre Santos Dumont, na minha época de primário, me fez sonhar para o alto com a ideia de um dia chegar a construir uma aeronave famosa. Voar. Por muito tempo, foi um fascínio que me acompanhou durante anos.

Foi desta maneira que conheci Suguru, nos meus oito anos de idade. Meu pai naquela época já estava comandando sua própria unidade do exército inglês, ele era um militar elogiado e honrado com muito títulos, e eu, como seu único filho homem e caçula, tentava enfrentar meus próprios desafios mais inalcançáveis, apenas para honrar o que ele viria a deixar para mim no futuro.

Tudo isso, porque ele dizia que seria assim.

Fazia algumas semanas que um novo carpinteiro havia sido contratado para construir novos pilares para o estábulo da mansão, e neste meio tempo, ele se acometeu de me ensinar a trabalhar com madeira, gentilmente, durante uma das vezes em que me pegou bisbilhotando seu trabalho. E naquele dia, alguns dias antes, eu vinha trabalhando sozinho em uma miniatura de um Armstrong Whitworth Aircraft, feita de madeira, na época conhecida por ter sido uma famosa aeronave usada pelo exército inglês durante a primeira guerra.

Vôos comerciais eram bastante custosos pelo fato de serem destinados apenas para os ricos mais afortunados na sociedade. Eu havia chegado a pedir para o meu pai para voar uma vez, mas por ora, ele negou, alegando estar ocupado demais para viajar de uma hora para outra. Como se os comentários sobre Paris ser tão magnífico, ditos pela minha mãe, não significasse nada.

Suguru, curioso como sempre teve de ser sobre assuntos e pessoas novas, esgueirou-se furtivamente para a minha mesa na pequena sala de aula, logo, captando a visão de mim mesmo consertando uma peça caída da miniatura. Eu, muito concentrado para notar quaisquer intromissão, assustei-me ao ouvi-lo exclamar em alarde, surpreso: — Nossa, você quem o fez?!

Foi a primeira vez que o vi. Lembrei de estranhar a aparência de seus olhos apertados e negros como carvão, além do cabelo de mesma tonalidade. Anos depois, ainda amigos, ele me explicou ter tido raízes asiáticas nos antepassados da sua família.

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora