Capítulo 4;

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Uma semana depois

Em virtude de um devaneio atônito, os olhos azuis continuaram a encarar o teto acima de sua cabeça, o corpo travado, imposto em uma posição reta e sem modo algum para mexer-se como deveria.

Satoru aos poucos engoliu uma quantidade massiva de saliva na sua garganta seca, seus lábios, secos e quebradiços tremeram levemente, e pingos de suor penderam da sua testa e da franja úmida do seu cabelo. Em consequência de um pesadelo, o homem reajustou sua respiração, e precisou aos poucos, acostumar-se com o cantar dos pássaros ao lado de fora, e os raios de sol adentrando sua janela aberta.

Fora a terceira vez naquela semana.

Um pouco abalado, ele tratou de se ajustar na cama, sentando-se para segurar seu rosto suado entre suas mãos trêmulas. Seu torso desnudo, contraiu diante da menção em se encolher um pouco, logo, repassando seus dedos entre os fios esbranquiçados e bagunçados.

— Merda… — ele sussurrou para si mesmo, pondo-se a sentar com as pernas para fora do colchão.

Nos confins da sua mente conturbada, ele apenas recordava de pequenos lapsos do pesadelo que viverá, e neles, a evidente visão de gritos, sangue, dor, mesclavam-se com o som da terra tremendo aos seus pés e ouvidos zumbidos.

Foi como se ele estivesse voltando para o passado nos seus sonhos, aprisionado em uma teia sem escapatória.

Ele, contudo, teve forças para esticar sua mão em direção à cômoda ao lado da cama, abriu a terceira e última gaveta do móvel, para por fim, buscar algo que mantinha guardado fora do alcance de qualquer outro além dele mesmo.

O metal, bastante enferrujado pelo tempo, balançou entre seus dedos, mas ainda sim pôde brilhar, em virtude da iluminação do local.

O cordão de dogtag balançou de um lado para o outro, e em calmaria, Satoru ainda tentou ler o seu próprio nome gravado na placa de metal, mas pelo desgaste das letras, não foi possível.

Eu deveria ter me livrado disso há muito tempo atrás. Depois de reprisar algo que fora pensado várias vezes, ele tratou de atirar a peça em qualquer lugar do seu quarto, como quem faria seu tormento acabar em apenas ter se livrado do cordão.

Mas não era bem assim, e ele tinha uma nociva noção disso.

Muito mais atormentado o sujeito se pôs a levantar e fazer sua higiene matinal, com sua consciência traçando um caminho mental para a pessoa a qual ele iria visitar naquela manhã.

[...]

— Bom dia.

— Satoru! Que surpresa, filho! Entre!

Um pouco constrangido, mesmo dada a permissão para fazê-lo, o homem proferiu um sorriso gestual, tirando o chapéu que abrigava seus cabelos quando por fim atravessou a divisão da porta. Os curiosos olhos azuis voltaram-se para o âmbito ao redor, e como se pudesse ter voltado há uma melancolia doce de anos atrás, ele sentiu-se um pouco confortável, familiarizado.

Depois que havia crescido era muito raro visitar Suguru na casa do mesmo. Os dois proviam em gastar seu tempo divertindo-se em bares e bancas de jogos, por vezes, durante noites inteiras, que acabavam com ambos desacordados na sarjeta ou em becos suspeitos, ludibriados pela amnésia do que ocorreu na noite anterior.

A sua atenção voltou-se mais uma vez para o velho retrato preso na parede quando perguntou, singelo: — Como está tudo, senhora Misaki?

— Bem, na medida do possível. — a senhora, sincera, expeliu tudo, e depois sorriu. — Que bom que veio me visitar, faz algum tempo.

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora