Capítulo 7;

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O velho senhor, bastante tratado pela idade, não deixou de sorrir simpático diante da presença de um velho cliente. Habituado pela monotonia cotidiana do seu serviço, a mão enrugada e calejada ergueu o maço de cigarros lacrado à frente do rosto do mais jovem, que agradeceu, pagou pela mercadoria e foi-se embora.

Movido a observar a avenida barulhenta e movimentada, Satoru buscou seu isqueiro no bolso do seu sobretudo, e notoriamente acendeu um dos cigarros presos contra sua boca. O frio aparentava ter se intensificado nas últimas semanas, e isso era uma das boas razões para não querer sair de casa constantemente.

Mesmo que houvesse exceções, como esta de agora.

A pequena venda onde comprou os cigarros tinha como vizinho um botequim movimentado e bastante sutil, o qual ele poucas vezes visitou para beber alguma coisa. O homem repensou que não faria mal entrar por uns minutos, a fim de matar um tempo antes de ir para o seu verdadeiro compromisso no sul da cidade. Entretanto, a sublime menção de olhar para o outro lado da avenida novamente, o fez desistir da premissa.

Fora bastante rápido, mas ele pôde ver a silhueta de Utahime caminhando pela calçada, em suas mãos, algumas sacolas de papel abarrotadas. O mais curioso, foi ter tido noção de que ela não estava sozinha, e sim, na companhia de um homem desconhecido.

Satoru recordou de ouvi-la conversar com sua mãe no dia interior, e pedir por um tempo para vir ao centro e comprar uns pertences pessoais. Mesmo tratante de saber que ela retornaria para sua casa, ele não percebeu que se pôs a segui-la, até o instante em que precisou correr pela avenida, antes de um carro certeiro colidir contra sua pessoa no meio da rua, evitando por fim uma colisão drástica.

— Fico feliz que tudo esteja se encaminhando bem.
— Obrigada, eu também.

Encostado atrás de uma parede de tijolos, ele estranhou que o casal tivesse interrompido sua caminhada, mas tudo permaneceu claro ao ver que ambos haviam se sentado em um banco de madeira mais próximo. Graças ao fator da distância, Utahime e muito menos o homem sem nome poderiam vê-lo ou ouvi-lo, e com isso, Satoru se sentiu seguro para continuar espiando.

— Como está o hospital? — a próxima pergunta partiu de Utahime, que pôs as compras ao seu lado.
— Bem, muito bem. Nós conseguimos uma significativa ajuda monetária para o próximo semestre.
— Estavam faltando alguns medicamentos e instrumentos, fico feliz por isso.
— Mas, Utahime. — o sujeito desconhecido teve de fazer uma pausa, para encará-la com agilidade e fazer a pergunta, que mais soou como uma proposta: — Não pensa em retornar? Sua ajuda seria muito bem vinda neste momento de crise.

Satoru pensou ter visto ela exitar aos poucos antes de respondê-lo.

— Eu entendo… porém, retornei a minha antiga ocupação e estou mais feliz assim. — sincera, Utahime por fim delatou.
Após o seu retorno, completou mais um mês de residência na mansão Gojo, trabalhando novamente como babá. E ela estava contente com o ritmo da sua vida, se sentia querida e bem acolhida pelos demais, apreciava a companhia de Momo e Toge, além de sentir-se contente por cuidar dos dois.

Aos poucos, foi como se sua vida tivesse retornado aos eixos, presa pelas raízes que quase escaparam um dia.

— Desta forma, posso conseguir mais dinheiro para continuar meus estudos e para ajudar minha família. — mas a maior razão por trás da sua escolha foi revelada, e ela conseguiu ver como apenas aquilo fora o suficiente para convencê-lo.
— Eu compreendo... — visto que não adiantaria insistir, o homem sorriu e se pôs à agradecer. — Enfim, obrigado pela ajuda de anteriormente, apesar de tudo.
— Eu quem tenho de lhe agradecer, Kusakabe.

Kusakabe. O indivíduo sem nome finalmente teve sua identidade revelada. Curioso, Satoru pensou consigo mesmo que ele deveria ter sido o contato que levou Utahime a aquela unidade da Cruz Vermelha, e que pela pose distinta e prosa, poderia se tratar de um médico, enfermeiro, ou estudante de medicina, como a própria Utahime.
Como os dois haviam se conhecido? Era uma das questões a vagar a mente entorpecida dele. Ocupado demais em devaneios para perceber que estava vigiando-a sem escrúpulos ou razões aparentes.

𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐎𝐎𝐋𝐈𝐆𝐀𝐍 - 𝐆𝐎𝐉𝐎𝐇𝐈𝐌𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora