Antenor Martelli estava ligeiramente deslocado. Mesmo que ela fosse sua conselheira e que ele tivesse aprendido a confiar a ela casos dos mais complicados, tudo o que ele sabia sobre Sarah Andrade se resumia a uma ficha no departamento pessoal de sua firma e pequenas coisas que ele conseguia perceber quando ela estava em um tribunal.
Sabia que ela fora professora universitária e que fizera a maior pontuação entre seus concorrentes para o primeiro concurso para a Promotoria Pública do Estado de São Paulo já em sua primeira tentativa. Ele sempre ficava atento àquelas listas, quando precisava de gente nova no escritório. De descobrir onde encontrá-la até fazê-la mudar de lado, fora um passo bem simples.
Disso, o que mais ele sabia era que não fora nem o dinheiro e nem o prestígio da Martelli que tinham atraído Sarah para a advocacia. Dentro da casa que ela mantinha em Osasco -- e que quase nunca usava -- ele começou a desconfiar, pela primeira vez, que o que sabia não era suficiente, ao contrário do que pensava.
-- Que bom que aceitou ficar aqui, senhora Sobral -- disse ele, para sua acompanhante. -- Decididamente um hotel hermético não lhe faria bem.
Ele já tinha dito no primeiro dia que lhe lamentava a perda irremediável do marido, e mais uma gama de frases de praxe que sempre eram usadas naquela situação. Antenor dispensara a estagiária depois de uma rápida conversa, afinal só a havia trazido porque ela sabia chegar no endereço de Sarah , ao contrário dele. E talvez também porque julgava que assim que Sarah aceitasse o caso, Juliette poderia ajudá-la em coisas menores.
-- Agradeço imensamente, doutor Martelli, esta casa é ótima. É sua?
-- Não -- ele sorriu. -- Vou acompanhar o seu caso de perto, mas ele será assumido por uma pessoa de meu escritório. Ela é perfeita para o caso, tem o detalhe de ser mulher, que vai ajudar no processo, e é de minha inteira confiança. Pode confiar nela como confiou em mim.
-- Não era a garotinha que estava aqui, era? -- perguntou a cliente, com visível desdém.
-- Não, não. Juliette acabou de se juntar a nós, e também acabou de entrar na faculdade, nós a estamos treinando. A doutora Andrade teve um contratempo e não pôde vir hoje, mas esta casa, na verdade, é dela.
-- Você disse Andrade ? -- ela arqueou a sobrancelha.
-- Disse. Que bom que já ouviu falar de Sarah .
Deve saber, então, que ela se saiu irrepreensivelmente bem nos últimos vinte ou vinte e cinco casos que acompanhou. Como eu lhe falei, é de minha inteira confiança e...
Maria Augusta já não estava mais ouvindo.
-- Algum problema? -- perguntou Antenor, ao notá-la pálida.
-- N... Não -- ela tentou sorrir, mas não conseguiu. -- Sarah Andrade ? Sarah Caroline Andrade ?
-- Sim... -- ele notou que havia algo estranho.
-- Ela virou advogada?
-- O mundo dá voltas gingantes, não é mesmo, senhora Sobral?
Sarah acabara de entrar, sem cumprimentar Antenor.
-- Eu, advogada, e o amor da sua vida vitimado por um tiro que dizem ter sido seu. Quem poderia imaginar? -- completou a advogada.
-- Sarah ? -- disse ele, surpreso.
-- Durma descansado, Antenor. O caso é meu. Não poderia ser de mais ninguém.
O sorriso que ela trazia na face era sombrio. E como já o tinha visto, embora não com aquela magnitude, Antenor internamente respirou aliviado. Mas sua intuição dizia que aquele caso ainda lhe daria muita dor de cabeça. Nenhum comentário feito por qualquer uma das duas mulheres, a não ser a entrada de Sarah , deixou o advogado perceber que elas já se conheciam.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O TRIANGULO | SARIETTE | 1 e 2 TEMPORADA
FanfictionSarah, Juliette e Pocah vivem um triângulo amoroso. No final só um casal vive o amor real. É meio confuso ver Sarah com Pocah , mas no fim da certo . Uma adaptação não autorizada do triângulo de sara lecter. Se a autora aparecer e pedir pra tirar f...