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CANADÁ, 16 de outubro de 2015

Narrado por Harper

— Fiona! — Maggie gritou antes de entrar no quarto. — O que achou? — Questionou me encarando.

— De quem foi mesmo a ideia?

— Obviamente, sua. — Gargalhamos e eu rodei, na frente do espelho de corpo inteiro improvisado entre a bagunça do meu quarto, fazendo o meu vestido verde, semelhante ao da Fiona, rodar.

— Mas você tem que admitir que é bem melhor que ovo e bacon. — Arregalei meus olhos em drama.

— De fato. — Se colocou atrás de mim e alisou meus ombros.

— Não vai provar o seu? Só eu quem passo vergonha hoje? — Peguei a embalagem que continha o vestido rosa, semelhante ao da princesa Jujuba, e estique na sua direção.

— O combinado era nós quatro... — Frisou a numeração. — Provarmos juntos. — Tombei a cabeça para trás, afinal, Maggie sempre estava certa, e eu odiava isso. — Mas a senhorita fã de Halloween quis queimar a largada. — Me provocou.

— Eu só queria saber se servia, sabe como é AliExpress, não dá pra confiar cegamente. — Me defendi. — Que horas são? — Ajeitei meus seios no vestido.

— Cinco e pouco. — Mordi os lábios em animação. — O que foi? — Rimos. Estávamos tão felizes e animadas com as fantasias que tudo que se ouvia naquele quarto eram risadas.

— O combinado não era nós quatro provarmos juntos? — Concordou com a cabeça. — Então por que você não vai buscar Amélia enquanto eu busco o Shawn?

— Meu Deus! — Quase gritou, de forma engraçada. — Você não consegue mais ficar longe dele. — A empurrei de forma leve.

— Eu falando sério.

— Ok, vamos, então. — Pegou a bolsa que estava no chão. — Você não vai trocar de roupa? — Questionou quando me viu descendo as escadas. Respondi com um sorriso largo.

Estávamos tão animadas e absortas com a proximidade do Halloween, os preparativos e todas as coisas boas que estavam acontecendo que eu não considerei sair vestida como uma ogra um grande problema. Não que eu o teria considerado em qualquer momento, mas era tanta euforia naquele momento que tudo estava bom e suficiente.

O caminho para casa de Shawn, primeira parada, foi mais do que o usual rápido e, em um ato de confiança quase insano, Maggie me deixou dirigir seu carro.

Talvez, naquele momento, eu devesse ter desconfiado que havia algo com a energia do dia.

Contudo, a felicidade que transbordava era tanta que tudo parecia se encaixar, e apenas passamos o caminho comentando o quão arriscado seria descolorirmos nosso cabelo nesse final de semana ao invés de aguardar o final do mês.

— E eu não morri. Obrigada, Deus! — Maggie comemorou no banco do passageiro. — Te espero aqui, não demora. — Avisou enquanto eu soltei o cinto. — Não demora! — Falou alto, ainda de dentro do carro, enquanto eu atravessava a rua.

A brisa de outono envolvia a rua, dando um ar ainda mais agradável ao dia. As folhas voavam enquanto eu apenas pensava em colar meus lábios ao garoto que encontraria em breve, mas o meu imaginário ficou confuso quando identifiquei o carro parado na garagem. Seu pai estava em casa?

Naquele momento, o dia soprou como era, e então, senti o frio do vento gélido de outono e tremi. Não tive certeza do porquê, eu só sabia que algo errado, e o carro de Maggie estacionado do outro lado da rua, com o banco do motorista vazio era o primeiro indicativo.

— Não é nada demais. — Repeti, em uma tentativa falha de me acalmar ou de fazer algo. Meus pés pareciam colados ao asfalto. Entretanto, eu sabia que permanecer ali, vestida como um desenho animado, seria ímã para um problema, então me esgueirei pela lateral da casa.

Meus passos eram lentos, como se, repentinamente, a gravidade fosse mais forte. Quando, na verdade, a realidade apenas estava voltando para mim, me lembrando das coisas que eu havia subjugado até o presente momento.

Não era como se eu tivesse esquecido o que acontecia na casa de Shawn, afinal, não conseguiria nem se tentasse, mas tomar a atitude abria margem para muita coisa mudar, dentre elas, a presença dele na minha vida. E eu tinha certeza de que não queria que isso acontecesse.

Encarei a porta dos fundos, como se ela fosse se abrir magicamente para mim, ou ainda, como se fosse necessário, pois eu sabia que ela sempre ficava aberta. Toquei a maçaneta, ignorando o meu subconsciente advertindo para eu lhe mandar uma mensagem e perguntar se eu podia entrar. Havia algo naquele dia, naquele momento, havia uma força magnética, e eu sabia que ela me direcionava para que eu tinha de fazer.

Eu amo Shawn. É uma das certezas que carrego em minha alma, e o amor carece de ação, e eu havia me proposto a entrar na vida dele justamente para fazer, não podia me reduzir a planos, ainda mais agora.

Não foi necessário subir as escadas, pois o barulho alto, de gritos, vozes e móveis abraçaram meus ouvidos de forma assustadora. Meus dedos vacilantes tremiam enquanto teclavam na tela embaçada pelas lágrimas, para Maggie.

"O pai dele está aqui. Batendo nele. O que eu faço?"

Enviei, retoricamente.

"Você sabe o que tem de fazer. E que tem que ser você."

"Vai dar tudo certo"

"Você está fazendo o que é certo. Te amo, vai dar tudo certo!"

Meneei com a cabeça, ainda que não houvesse qualquer pessoa naquele cômodo, para o mínimo de sorte que eu ainda parecia dispor naquele dia. Digitei os três números da polícia, e enquanto a ligação era completada, contemplei a sala em conceito semiaberto da família perfeição.

— Não me odeie, Shawn. Por favor. Deus, por favor. — Murmurei enquanto fechava a porta.

— ... Sua emergência? — A voz do outro lado da linha falou, e eu fui desperta para o mundo real. Para a vida real, e nela, Shawn precisava de mim, ainda que isso tivesse de custar nos dois.

— O pai do meu namorado... Ele... — As palavras se embolavam na minha garganta. Respirei fundo. O momento havia chegado. — Ele está agressivo. Ele está batendo nele e na esposa...


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Cicatrizes da Alma | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora