18 | olá, tia!

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CANADÁ, 27 de setembro de 2015
Narrado por Harper

— Você não vai pra escola de novo? — Questionou Jessie, impassível. Fala sério, matemática, geografia, física e biologia, nada que eu aprenderia de verdade e na prática.

— Prometo que vou amanhã. — Disse enquanto enchia a mão de biscoitos.

— E vai fazer o que às 8 da manhã, então? — O cenho franzido expunha seu descontentamento com a minha falta de frequência na escola.

— Nada demais... — Sarah entrou na cozinha fazendo com que a tensão se dissipasse. O encontro carinhoso de seus lábios contra a minha bochecha era o meu ato de amor favorito em todo mundo.

— Está tudo bem, desde que prometa ir amanhã. — Ponderou, como sempre, tomando o meu lado.

— Promessa é dívida. — Pisquei meu olho na direção delas antes de sair de casa.

As ruas estavam pouco movimentadas, como todos os dias. Meu calçado branco surrado passou a encontrar o chão em frenesi assim que vi o ônibus se aproximar do ponto porque eu estava mais distante dele do que gostaria. Depois de uma breve corrida eu já contava as quadras para encontrar a casa que invadiu as minhas memórias na última semana.

Shawn era meu pensamento mais recorrente, e mesmo que risse das piadas que Maggie fazia sobre ele, sua imagem causava um reboliço e fazia com que eu esquecesse o tom de voz arisco sempre que o encontrava no corredor e ele sorria fraco. Quem me viu quem me vê...

Assim que o ônibus parou a poucos metros da casa dele, apertei os dedos contra a alça da mochila verde musgo. Me preocupar com ele e sua mãe me trazia outro benefício além do emocional, poder faltar a aula.

Karen devia estar melhor, e seria bom que conversássemos depois de ontem. Pensei em contar para Shawn que havia visitado sua mãe, e o horário do almoço de hoje me parecia excelente, inclusive para marcação de território, mas chamá-lo para um encontro seria mais íntimo, e eu gostava disso.

Bati na porta e enquanto esperava ver minha quase-sogra, senti meu celular vibrar com uma mensagem de Maggie falando que eu havia a abandonado. Eu a abandonaria novamente para não assistir aula de geografia, e ela sabia disso. Assim que respondia a sua mensagem com seu típico "Dó ré mi fá só lamento" a porta se abriu e com a visão que tive recuei um passo.

Não era Karen. Merda, não era ela!

Eu sabia quem ele era. Infelizmente, ele me forcara a conhecê-lo e repudiá-lo com todas as forças possíveis. Todavia, seu olhar não transmitia maldade, mesmo mantendo o sobre mim, como se pudesse ver através de mim e saber o real motivo da minha visita. Talvez ele saiba, e por isso Karen não tenha descido, talvez ele tenha... Minha mente se tornou um turbilhão de possibilidades negativas, com hematomas e sangues em todos os flashes que conseguia produzir. Queria poder desligar minha mente, mas não foi necessário, porque o homem, entre sorrisos, cessou o silêncio de uma forma assustadoramente acolhedora:

— Você não é a Harper? — O respondi com um movimento mais repetitivo do que necessário da minha cabeça. Meu Senhor Amado, por que esse homem sabe meu nome? — Shawn já me mostrou uma foto sua. — Sorriu, fazendo com que meu cérebro se confundisse ainda mais. Ele agia como se sua vida realmente tivesse saído de um comercial de margarina, e eu estava quase sendo persuadida por sua atuação.

— É um prazer. — Lhe estendi a mão, que retribuiu o aperto. — Nós fazemos algumas aulas juntos, mas não a maioria. — Sorri amarelo.

— Venha, entre. — Convidou, e por algum motivo, o obedeci como se seu convite tivesse sido uma intimação. Caso Shawn tenha puxado a persuasão e falsidade dele, será um excelente advogado.

Cicatrizes da Alma | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora