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CANADÁ, 19 de dezembro de 2015

Narrado por Harper

Acenei para Shawn assim que o vi caminhar confuso pelo parque. Ele devolveu a expressão, ainda que sem grande entusiasmo e se sentou ao meu lado na grama.

— Oi. — Me deu um beijo na bochecha. — Quanto tempo. — Riu de forma anasalada.

— Bastante... — Deixei minhas palavras se perderem no tempo, ainda que não o quisesse. Tínhamos tanto para ser dito, mas não sabia como começar.

— Gostei do seu cabelo. — Tocou de forma vacilante as mechas soltas tingidas de ruivo acobreado. — Fiona, não é? — Nossos olhares estavam enroscados simultaneamente, e eu meneei com a cabeça.

Quis responder e adicionar que apenas faltou a sua presença para que aquele dia fosse perfeito. Como eu havia encarado sua fantasia durante horas e questionado se devia mandar mensagem, e em como Maggie havia descolorido e achado o tom de ruivo quase que contra a minha vontade.

— Nunca imaginei que pintar o cabelo daria tanto trabalho. — Tombei a cabeça para trás, revelando o detalhe com naturalidade. — Estou falando sério! — Enfatizei e rimos, fazendo com que a nebulosa daquele encontro pairasse para longe.

— Achei que já tivesse pintado o cabelo antes.

— Só algumas mexas, e nenhuma vez havia sido com Maggie... — Levantei minhas sobrancelhas com os dedos. — Ela acha que eu tenho tempo para fazer hidratação e as milhões de coisas que ela inventa.

— Não estou surpreso... — Riu. — Apenas vocês sendo vocês.

— E fazendo jus a mim sendo eu mesma...

— Eu não quis dizer isso... — Se desculpou antecipadamente, e eu neguei com a cabeça sorrindo, vez que não havia visto seu comentário como algo negativo.

— Aos velhos tempos. — Abri minha mochila verde musgo desbotada e tirei uma caixa de suco de uva, uma cerveja e uma embalagem parda com muffins de chocolate. Abri a cerveja em minha camiseta e encostei com o seu suco em um brinde.

— Ao futuro. — Ele tentou piscar apenas um olho, em uma espécie de brincadeira, mas seus olhos se fecharam rapidamente e juntos. — Desculpa, eu não sei fazer isso. — Rimos. — Estava com medo de ser de melancia, o suco.

— Ah, eu não queria errar o suco do meu ex-quase-namorado...

— Ex-quase-namorado? — Ergui os ombros sem dar muita importância para isso, ao menos, tentando parecer não interessada quando a este fato. O silêncio, exceto pelo barulho das pessoas conversando e passeando ao nosso redor, preencheu o ambiente, contudo, eu me sentia confortável em partilhar dele com Shawn. — Obrigado. — Sorriu.

— Como estão as coisas? — Perguntei. Não podíamos mais fugir das questões em aberto do nosso relacionamento, eu também não queria mais.

— Bem. — Deu um gole no seu suco como se buscasse um motivo para postergar a fala. Eu o encarava fixamente, gravando a imagem que gostaria de ter pelo resto de meus dias, e ele retribuía o olhar. — Eu e minha mãe estamos com a minha tia por enquanto, mas acredito que lá para fevereiro ela tenha vendido a casa e já estejamos devidamente acomodados.

Concordei com a cabeça, sem saber muito o que dizer e o quanto ali era minha responsabilidade indireta. Eu havia desencadeado um efeito cascata na vida dele, mas o tom leve e carente de agressividade em sua voz denotava que, agora, após quase dois meses, as coisas estavam começando a fazer sentido.

Cicatrizes da Alma | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora