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CANADÁ, 16 de outubro de 2015

Narrado Observador

Os próximos minutos foram confusões mentais e pensamentos colidindo para todos naquela casa típica de subúrbio. A cabeça de Harper pulsava vendo a sequência de atos acontecerem. Estava desconecta do que acontecia tamanho receio do que havia causado.

O som da porta, e depois, dos gritos, lágrimas e a acusações levaram todos a óbice da loucura. Contudo, junto ao caos instaurado estavam os machucados naqueles que pretendiam viver perfeitamente.

Ninguém ali parecia entender o que estava acontecendo, e o porquê, até que os olhos dilatados do garoto encontraram Harper do outro lado da rua.

Os passos na sua direção foram vacilantes, afinal, ainda tentava processar o que estava ocorrendo enquanto sentia a humilhação lhe cobrir no momento em que seu pai era algemado e tinha seus direitos ditos de uma forma superficial.

Harper, que acreditava ter sido a confissão de Shawn um pedido de ajuda, nunca havia o questionado. O que ele gostaria que fizesse, e o mais importante, se era preciso fazer algo. Ela havia abraçado tanto salvá-lo da sua própria rotina supostamente infeliz, que o havia reduzido a uma vítima miserável.

Foi só naquele momento, em que pôde reconhecer a ira, mágoa e traição nos olhos dele, que questionou se o que havia feito era correto. Podia não haver uma linha clara na relação deles, delimitando o que não devia ser ultrapassado, mas agora esta, além de nítida, havia se tornado tão tênue que se rompeu.

Shawn negou com a cabeça na sua direção, em uma reprovação a sua atitude, e então Harper sentiu o peso, o fardo do silêncio lido incorretamente, de ter tomado aquilo como sua missão pessoal ao invés de tentar compreender o que aquela família queira.

O menino quis gritar como ela havia sido mesquinha e egoísta, como não esperava isso dela, como estava decepcionado, mas era tamanha dor que não conseguia reunir palavras para ela.

Ele quis pegar nas mãos pequenas e explicar que aquilo era um voto de confiança, um ato selado e compartilhado, que não devia ter sido exposto como ela fez. Só que ela não apenas o fez, como o fez sem avisar. Em uma sexta feira comum, no horário em que seus vizinhos, que acreditavam viver uma família perfeita naquela casa, chegavam do trabalho e olhavam curiosos para a comoção enquanto desciam de seus carros.

Por uma fração de tempo quase incontável, Shawn desejou nunca ter conhecido Harper, nunca ter falado com ela, nunca ter sido visto por ela. Afinal, ser visto pela primeira vez vinha com um custo, e ele não acreditava que esse seria tão alto.

Do outro lado da rua Harper estava presa no decurso de tempo, sem se mover ou entender. Havia feito a coisa certa, tinha essa certeza. Essa era a justiça que Shawn falava e que fazia com que seus olhos brilhassem, era os valores que tinha em sua alma, mas nunca imaginou que a aplicação desta seria tão penosa.

Harper entrou no carro, agora do lado do passageiro, após a mãe de Shawn a ofender e cuspir em seu rosto. Diferentemente do que seu gênio costumava imperar, ela apenas limpou a saliva alheia e abaixou a cabeça, acolhendo as ofensas para si. Se sentia digna de todo o tipo de desonra.

Quando Maggie aumentou o tom de voz, cuspindo de volta na mulher notoriamente abalada e machucada, Shawn intercedeu e pediu para que fossem embora, bem como desculpas pela atitude da mãe.

Havia muito a ser dito que foi distorcido pelas emoções daquele dia, contudo, foi no silêncio e nos dizeres confusos daquele turbilhão de sentimentos contradizentes que a sexta-feira se encerrou.

E assim como a sexta-feira de dezesseis de outubro de dois mil e quinze se encerrou, também se encerrou o mês de outubro. O Halloween passou sem que os casais se reunissem e aproveitassem o que havia sido planejado.

Novembro se encerrou sem que Harper e Shawn direcionassem um olhar ou trocassem frases.

"Tempo ao tempo", repetiam para si mesmos em uma dor compartilhada, ainda que não feita de forma expressa. Eles haviam se encontrado, isso era inquestionável, estavam predestinados, por essa razão, não podiam ser alheios a suas dores. Eram imagem e semelhança, completude, até nas crenças protelatórias.

Contudo, Harper, que havia confiado cegamente na habilidade do tempo de curar as cicatrizes da alma de Shawn se recusava a ser sujeito passivo na sua história.

Se era para as coisas terminarem, estas deviam ser feitas do jeito correto, não por terem se perdido no tempo. Por isso, mandou uma mensagem para o garoto o convidado para conversarem no primeiro sábado das férias de dezembro. A resposta veio em segundos.

Ele iria. 

olá, amores! 

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olá, amores

abril chegou, e com ele, o está chegando o fim de "cicatrizes da alma". espero que tenham gostado da jornada e do mundo que criei, ele não seria o mesmo e tão válido sem vocês.

com amor,

valentina. 23 de abril de 2022

Cicatrizes da Alma | Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora