A SERVA

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Príncipe Aaheru Runihura

Quem se atreve a invadir meu palácio? Certamente é alguém que se cansou de viver e eu o mandaria diretamente para o inferno, como o bom demônio que sou.
Para piorar, ainda tem a ousadia de interromper meu momento de distração.
Isso só me faz ter a certeza de que é alguém novo na cidade imperial ou um assassino, afinal, todos sabem que ninguém pode me interromper, em hipótese nenhuma.

Nem meus assassinos sombras fazem isso; e por falar neles, onde se meteram que não lidaram com o intruso?
Bom, lá vou eu ver do que esse guerreiro é capaz.
Pelas sombras, ele se esgueira tentando fugir, mas já percebi que é um guerreiro de pequena estatura.
Lanço uma estrela ninja e a coisinha se desvia com a maior facilidade, o que só atiça meu instinto de predador; ainda não matei o suficiente por hoje.
O alcanço antes que consiga escapar e qual não é a minha surpresa ao me deparar com uma mulher.

— Quem te mandou aqui pra me matar?! — Pergunto sem deixar transparecer minha enorme surpresa, já que mulher nenhuma, em sua sã consciência, se atreveria a vir aqui.

— Não, não! Sua alteza entendeu tudo errado...

— Você está cortejando a morte!

Pressiono seu pescoço até cortar seu ar.

— Po-por favor...

— Acabei de alimentar os peixes do lago com os olhos dos meus inimigos e acho que eles não estão satisfeitos, ainda.

— Coitados deles...

Vejo seu olhar de repulsa ao me dizer essas palavras quase num sussurro, o que me faz afrouxar, um pouco, a mão em seu pescoço.

— Coitados? Dos meus inimigos?

— Dos peixes! Não tem algo melhor pra dá a eles? Não precisa maltratá-los!

Não acredito que ouvi isso.
Essa mulher está mais preocupada com a alimentação dos meus peixes do que com o fato de eu ter matado pessoas para alimentá-los?
Aproximo meu rosto do dela e olho diretamente em seus olhos; não há medo ali, apenas uma chama abrasadora.
Ela não sabe quem eu sou?

— Acaso não me conhece?

— Sua alteza real, o  príncipe Aaheru Runihura! Sua reputação o precede...

— Então, és uma assassina enviada para lidar comigo?

— Hum... não, não! Nem tudo gira em torno do seu umbigo imperial... Eu só me perdi...

Fui obrigado a rir. Ela, deliberadamente, estava me provocando e não sei o porquê, mas eu estava gostando.

— Deve saber que não acredito numa só palavra?

— Assim como sei que vossa alteza odeia mulheres, o que nos leva a outra questão, por que me mantém tão próxima do seu corpo?

Ela fala isso e me puxa pelas vestes, até meu corpo está prensando o seu contra a parede.
Só agora estou me dando conta de um formigamento me perpassando por inteiro, como uma onda de calor.
Essa é uma sensação totalmente nova, já que sempre fui muito frio com as mulheres.

— Como ousa? Só não vou lidar com você aqui porque não quero sujar meus carpetes... GUARDA...

O som da palavra é abafado por algo inesperado.

Essa mulher se atreveu a me beijar?!

A surpresa me deixou paralisado e isso foi o suficiente para ela dá o passo seguinte.
Quando dei por mim, meu corpo era jogado no chão com um baque muito forte que fez minha cabeça zunir.
Ainda tentei agarrar a maldita serva, mas tudo que consegui foi arrancar um pingente de jade agarrado à sua cintura.

Maldita seja! Eu vou te achar coisinha insignificante!

SOMBRA? — Altero minha voz em profundo desgosto.

— Sim, mestre?

— Por que não viram que meu pátio foi invadido?

— O senhor nos ordenou para ficar longe daqui hoje, não lembra?

Maldição!
Eu realmente fiz isso; fui descuidado, embora eu tenha tido meus motivos pessoais para negligenciar minha própria segurança.

— Ah, você está certo! Eu sou o culpado! — acabo admitindo, até porque, os sombras são o mais próximo de uma família que consigo ter — Investigue isso! — Ordeno entregando a ele a jade que tomei há pouco.

Mesmo depois de sua partida, ainda consigo sentir a intensidade do olhar feroz daquela mulher. Nunca ninguém ousou me encarar daquela forma e viveu pra contar.
Estar imerso nesses pensamentos foi o suficiente para me tirar o sono; fui feito de bobo dentro do meu palácio e logo por uma mulher.

Manhã seguinte...

Quando meu sombra voltou com informações sobre o pingente, mal pude acreditar que sua origem era do pavilhão da minha princesa escolhida.
Certo! Eu ainda não tinha tido o prazer de conhecê-la e já estava passando da hora de fazer isso.

Até onde fiquei sabendo, o general havia me enviado a sua filha menos agraciada, mas deixei passar, afinal não me importava se seria uma beldade ou uma mulher de aparência inferior, já que eu não tinha qualquer pretensão de estar com ela.
Até onde sei, ela é uma mulher frágil e bobinha, que vive sendo intimidada pelas irmãs e minhas concubinas.

Por que não interferi? Simples, não me interessa o que acontece no meu harém. Essas mulheres que se resolvam entre elas.
Não tenho tempo para isso.
Minha princesa que aprenda a se defender sozinha.
Ao entrar em seu pátio me deparo com uma cena que joga por terra tudo que eu sabia dela até aqui.
Ela estava chicoteando uma concubina e pela riqueza das vestes e ornamentos, era a Erys, minha favorita.

Assim que ela me ver, rasteja até mim, de forma deplorável.

— Alteza, eu imploro por justiça! Vim prestar meu respeito à princesa e é a segunda vez que ela me trata assim.

— Segunda vez?!

— Sim! — Ela afirma encostando a testa no chão.

Olho de esguelha para aquela que deveria ser uma fracote e o que vejo é uma mulher destemida e incrivelmente bela.
Ela não hesita em me encarar, embora faça uma ligeira reverência.

— Por que fez isso com ela?!

— Acaso não posso tirar o veneno da serpente que quer me atacar no meu quintal? — Ela pergunta num tom firme e ao mesmo tempo respeitoso — Só estava disciplinando essa concubina ingrata, antes que ela traga vergonha à casa de vossa alteza e às mulheres que estão sob vosso poder. Como os nobres reagiriam ao saber que a filha do general é intimidada por meras concubinas?! Tenho testemunhas que podem afirmar que ordenei que ela não voltasse mais aqui sem ser convidada e ela desobedeceu.

Essa mulher tem o dom da palavra.
Como alguém pode acreditar que ela era fraca e inútil?
Agora tenho um impasse em minhas mãos; como vou lidar com esse conflito entre a minha princesa e minha favorita?!


Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora