INEVITÁVEIS RECOMEÇOS

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Yori

Nada é tão simples quanto parece, nem a vida e nem a morte.
Fui arrastada de volta à vida, uma vida que não me pertence, diga-se de passagem.
A impressão que tenho é de que sou um espírito vagante se apossando de corpos alheios.
Fico imaginando, será que estou sendo punida novamente?
Que inferno de pós morte!

Cá estou no corpo de outra pessoa. Se isso for expiação dos meus pecados, estou quase pedindo pra me mandarem pro andar de baixo.
Só que a coisa que já estava ruim ficou muito pior, o que me faz lembrar de uma novela, cujo nome não me vem à mente agora.
Sim, estou no corpo de um homem, e não, não é o corpo do Aaheru, mas um completo estranho e pelas memórias desse corpo, não sou pouca coisa não.

Pelo que entendi, sou aquele que manda na porra toda, o imperador; quer dizer, manda entre aspas, porque sou um completo bocó. Deve ser carma, só pode! Por que diabos tenho que renascer no corpo de idiotas?
O que eu não daria para ter minha antiga vida de volta.
Essa porra toda está uma mistura de novela, com mangás e muito loucura.
Droga, agora tenho um pau entre minhas pernas e não é do jeito que gosto.
Já posso morrer e ir para minha próxima vida?

Agora vem a pergunta de milhões: como assumi esse corpo?
Simples, estava só a casca. Por que? Óbvio, o gostosão e idiota aqui foi morto por sua noiva na noite de núpcias.
Sim, ele se casou com sua assassina e foi envenenado antes mesmo de "afogar o ganso". Nem consigo sentir dó, quem mandou ser um tolo?
A questão agora é que estou no corpo desse homem tolo e passivo, que é massacrado pela elite e pelo próprio irmão, que deseja derrubá-lo do poder e tomar seu lugar.

Mas como sou uma boa anfitriã e não tem jeito mesmo, terei de jogar esse jogo...De novo! Os inimigos que se preparem! Eles têm o espírito de uma assassina no corpo de seu imperador abobalhado, até posso imaginar suas caras quando virem minha versão 4.0.
Como já estou habituada aos tempos antigos, não é nenhuma surpresa ter mais servos do que posso contar e mais do que  realmente preciso.
Também não me surpreendi quando duas servas adentraram para me ajudar a tomar banho.

Observei seus risos desdenhosos e disfarçados. Não era atoa que se comportavam assim, já que eu era tido como um soberano impotente e que nunca visitava o harém ou satisfazia suas concubinas.
Além de bocó, era covarde e impotente. Que ótimo!
Juro que tive vontade de cortar fora essa coisa flácida entre minhas pernas; foi horrível fazer xixi com isso, quase me mijei toda, ou todo.
Tenho que observar meus modos, ou vão acrescentar mais uma coisa à minha imagem ruim. Preciso agir como um homem, o que não será difícil para uma assassina bem treinada como eu.

O suntuoso banheiro é algo digno da realeza. É bem melhor do que meu antigo espaço de princesa.
Sou despido e entro na fonte com água até os joelhos. Há uma espécie de espelho à minha frente, que dá para ver meu corpo inteiro e que belíssimo corpo eu tinha aqui.
Gente do céu, estou quase apaixonada por mim.
Como um deus desses tem uma fama tão ruim? Tenho que dá um jeito nisso, e rápido!

Uma das servas começa a esfregar minhas costas e outra meu abdômen tanquinho.
Para meu espanto e o delas, do nada, "o belo adormecido" desperta e salta em posição de ataque.
Elas me olham com olhos esbugalhados e começam a ficar coradas.
Automaticamente se detêm do que faziam e ficam paradas feito duas estátuas vivas.
Ah, que ótimo! Agora estou assustando as donzelas.

— Podem sair! — Ordeno.

Nossa! Que voz sensual e grave essa minha. Como diabos esse homem não utilizou bem todos esses atributos? Olho pro membro rijo entre minhas pernas e o seguro com as duas mãos.
Realmente sou bem dotado, só preciso usar bem essa ferramenta.
Apesar de estranho, será bem interessante viver como um homem gostosão e poderoso.
Sim, poderoso! Porque vou usar todo o meu conhecimento para reaver o poder do imperador e lidar com as cobras que me cercam nessa corte, a começar por minha esposa, a imperatriz.

Depois do meu banho relaxante, tomo minhas vestes imperiais e me arrumo. Meu longo cabelo negro é um caso à parte. Aposto que seria capaz de fazer inveja às mulheres do meu mundo. Até eu fiquei com inveja desse homem; pelo menos, agora sou ele.
Meu próximo passo foi chamar minha guarda pessoal, tomar minha liteira e seguir para o palácio da minha "querida" esposa.
Ela que me aguarde.
Ao chegar em seu pátio, sou anunciada de forma pomposa.

— Sua majestade, o imperador está aqui!

Vejo-a surgir acompanhada de quatro servas.

— Meu senhor, é uma honra recebê-lo em meu humilde palácio. — ela fala enquanto me encara de um modo frio.

— Não finja para mim, minha querida! Acaso não colocou veneno na minha comida ontem a noite? — digo observando sua reação.

Ela não parece se intimidar com as minhas palavras, embora suas servas pareçam aterrorizadas com minha presença agora, apesar de estarem bem à vontade ainda há pouco.
Certamente não esperavam que eu fosse tocar num assunto como esses, dado ao fato de eu ser considerado um frouxo.

— Não sei do que vossa majestade está falando! — a imperatriz fala enquanto faz um gesto dispensado as servas — Do que estou sendo acusado exatamente?

— Acusado? Eu ouvi bem?

— Perdão, mas o meu senhor ouviu mal! Falei acusada, por que falaria o contrário? — ela pergunta com um sorriso maligno.

— De fato! Não faz sentido, a não ser que você não fosse o que parece ser.

Nesse momento me ocorreu que posso não ser a única vindo de outras vidas.
E se existir mais pessoas por aí andando em corpos que não lhe pertencem?
Merda! Isso seria uma verdadeira bagunça!
Encaro minha digníssima esposa e algo nela desperta minha atenção e não é só na parte de cima do meu corpo. Uma parte dentro das minhas calças está bem animada por essa beldade.
Definitivamente conheço esse olhar que arde em brasa na minha direção.
A mulher parece querer pular no meu pescoço e não é num bom sentido.
O modo como ela está segurando o leque demonstra um tique nervoso.
Maldição! Já vi isso em algum lugar, aliás em alguém.
De repente o nome reverbera como um estalo em minha mente.

— Aaheru?!

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora