UM REENCONTRO EM OUTRA VIDA

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Aaheru Runihura

Morrer não foi nada perto do que enfrentei depois, o que me fez desejar ter continuado morto.
Não sei que jogo sádico é esse que o destino me pregou, mas despertei do meu pós morte num corpo pequeno e frágil e pior que isso, no corpo de uma mulher.
E como se isso não fosse ruim o suficiente, eu estava prestes a me casar com o imperador dessa dinastia.

Não foi à toa que a antiga dona desse corpo se matou, ela não queria o enlace com um homem tolo.
Definitivamente, não estava em meus planos tirar minha própria vida, mesmo que tenha renascido num corpo inútil.
Nem nos meus piores pesadelos sonhei com algo assim.
Agora eu tinha dois melões na parte da frente e uma vagina.
Como diabos as mulheres usam isso na hora de ir ao banheiro?
Simplesmente urinei minhas saias.
Maldição! Agora uso saias, uma dezena delas sobrepostas.
Como as mulheres sobrevivem a isso? É muito quente e desconfortável.

Só que a pior parte foi ter que ir até o imperador sem reclamar, afinal eu era sua noiva e fui enviada por meu pai, que não se importava nem um pouco com minha vontade, tudo que aquele velho mesquinho queria era poder e casar sua única filha com um nobre de classe C não estava  em seus planos.
Sim, minha hospedeira era apaixonada por um rapaz de classe baixa.
Mas seu pai preferiu empurrá-la para os braços de um soberano idiota.
Quase sinto pena dela. Digo quase, porque no momento eu tinha meus próprios problemas para lidar.

Ao ser praticamente jogado no quarto nupcial, saí aos tropeços tentando me equilibrar com aquela imensa camada de roupas e acessórios. O único pensamento que permeava minha cabeça era como me livraria dessa situação, levando em conta que está longe dos meus planos deixar um homem me tocar. E eu estava mais do que pronto para matar, mesmo sendo o imperador, porque ser deflorado, jamais.

Avalio o espaço ao meu redor e observo uma mesa posta com alguns aperitivos e licor.
Eis a minha tábua de salvação, já que força não era o ponto forte dessa mulher. Ela nunca se dedicou às artes marciais, não entendo como alguém gosta de ser tão inútil assim. Ela era o total oposto da minha Yori.
Não tem como não me lembrar dela.
Será se um dia nos encontraríamos novamente, nessa ou em outra vida?

Sentei no local destinado à noiva e aguardei o noivo. A mesa já estava preparada para ele, caso tentasse alguma coisa estúpida comigo. Eu podia não ter força agora, mas tinha astúcia para lidar com a situação, então preparei um veneno especial antes de vir para cá. Só esperava não ter que usar esse método, pois ficaria bem difícil sair desse tipo de situação, afinal, mesmo sendo um homem tolo, ainda era o imperador.

Fiquei surpreso ao ver entrar um homem cambaleando e pelo cheiro forte, estava completamente bêbado. O infeliz vem direto para mim e me agarra com suas mãos asquerosas. Tive que usar todo meu auto controle para não chutar suas bolas e fazer omeletes. Não podia me expor dessa forma. Homens bêbados costumam ser imprevisíveis.

— Acalme-se, majestade! Deixe-me servi-lo! — uso todo meu poder de sedução, quando minha vontade é vomitar em cima desse pervertido.

Por sorte, ele aceitou ser servido. Não tinha jeito, eu tive de envenena-lo, porque ele já estava bem ereto e pronto pra se meter entre minhas pernas e óbvio que eu preferia rasgar meus próprios pulsos com os dentes do que permitir isso.
Como previsto, o veneno fez efeito em poucos minutos e o derrubou.
Arrumei o desgraçado na cama, a muito custo; além de pervertido, ele era grande e pesado. Fiquei esbaforido só de ter que arrastá-lo.
Que vida miserável essa minha!

Não me dei ao trabalho de verificar se morreu ou não, pois tinha que sair de lá com urgência e foi isso que fiz. Devido estar um tempo ruim, com muita chuva, consegui sair de lá sem ser visto e corri pro meu pavilhão.
O veneno que usei não deixava rastro e com certeza, todos viram que sua majestade havia ido ao meu encontro completamente bêbado. Ia ser muito mais fácil conseguir me safar e dizer que o imbecil morreu de tanto beber. Em tese.
Bom, se por um instante achei que as coisas seriam fáceis assim, descobri, no dia seguinte, que haveria problemas sérios para enfrentar, assim que ouvi o anúncio:

— Sua majestade, o imperador está aqui!

As servas que estão me ajudando ficam alvoroçadas e me ajudam a pôr as vestimentas o mais rápido possível. Não teve como fugir disso e fui lá para fora.

— Meu senhor, é uma honra recebê-lo em meu humilde palácio. —  falo encarando-o com desprezo e frieza.

— Não finja para mim, minha querida! Acaso não colocou veneno na minha comida ontem a noite? — ele fala deliberadamente.

Em termos, ele está certo, porém só coloquei veneno no vinho, mas nunca iria admitir.

Apesar de estar firme, minhas servas parecem ter ficado aterrorizadas ante a atitude daquele que até ontem  fora um covarde.

— Não sei do que vossa majestade está falando! — nego descaradamente e faço  um gesto dispensado as servas — Do que estou sendo acusado exatamente?

— Acusado? Eu ouvi bem?

Maldição! Como pude cometer um erro tão idiota desses?

— Perdão, mas o meu senhor ouviu mal! Falei "acusada", por que falaria o contrário? — pergunto com um meio sorriso.

Merda! Nem ao menos sei sorrir como mulher.

— De fato! Não faz sentido, a não ser que você não fosse o que parece ser.

De repente, o imperador passa a me encarar de uma forma estranha e ao menos tempo familiar.
Desço o olhar e vejo o tamanho da ereção do maldito pervertido. Minha vontade é esgana-lo até ele parar de respirar e pisotear sua carcaça.
Tento manter a calma enquanto passo a tamborilar os dedos sobre o leque.

— Aaheru?!

— O que? — não! acho que ouvi mal. Não tem como ele ter me chamado pelo meu nome de outra vida.

— Você ouviu bem, Aaheru! — ele repete e começa a gargalhar — Céus! Valeu apena ter morrido só pra te ver vestir saias. — e mais gargalhadas — Ei, você tem uma pepeka aí? Me mostra! — ele diz se aproximando. — Vai me dizer que não me reconhece, seu tolo? Sou eu, a Yori!

Não é possível! A minha Yori se tornou um brutamonte de quase 2,0 metros de altura.
Como diabos fomos nos meter nessa merda?

— Yori? Você está diferente, digamos irreconhecível!

— Ah, céus! Você está corando? — ela começa a rir sem controle. — Que fofinho!

Isso já é demais. Não tem como não pôr uma carranca diante de uma provocação dessas.

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora