ACERTO DE CONTAS

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Yori

Depois de ser alertada pela imperatriz sobre o que aconteceu com Aaheru, não tive como ficar quieta e esperar o pior acontecer; se ela se deu ao trabalho para fazer essa encenação toda só para abrir meus olhos, é porque a coisa não é tão simples assim e se meu pai estava por trás desse complô, eu o faria falar onde o príncipe era mantido em cativeiro. Para isso, eu já tinha meus planos, um mais sangrento que o outro e os serviços do sombra viriam bem a calhar.

— Está tudo pronto, vossa alteza! — ele me diz aparecendo diante de mim.

— Perfeito! Fique atento ao meu sinal! — digo antes de subir na carruagem.

Hoje é dia de vingar tudo que aquela família fez com a antiga dona desse corpo.
Vou fazer eles pagarem até a próxima encarnação. Eu só queria uma desculpa para acabar com eles de uma vez por todas e agora tenho. Ninguém vai se safar naquela casa.

Desta vez, não trouxe Nath comigo, a deixei sob proteção da minha guarda pessoal.
Sei perfeitamente que o que estou para enfrentar é um perigo muito grande e temendo não retornar, deixei uma carta testamento para minha serva mais fiel, deixando para ela todo o ouro e jóia que consegui no decorrer desses meses; também a instruí a pagar o salário dos servos acrescido de uma compensação por seu bom trabalho.
Pode parecer mórbido, mas não estou com um bom pressentimento; é como se tivesse um pisca alerta ligado dentro de mim.

A viagem até a mansão do meu pai foi razoavelmente rápida.
Mal entrei no pátio, a corja já estava me esperando.

— O que faz aqui sua bastarda? — o general vocifera à frente de sua concubina e suas duas filhas. — Você não é bem-vinda!

— Não sou mais a sua filha? — pergunto fazendo beicinho.

— Eu só tenho duas filhas agora! — ele brada. — Ainda mais depois do que fez com sua mãe e irmãs.

— Ao menos o senhor tem as filhas que merece! As filhas de uma concubina de quinta categoria, é pra rir? Porque estou me divertindo muito aqui! — falo com o mesmo desdém que eles me tratam — Acha mesmo que acrescenta algo pra mim ser sua filha? Pelo contrário, tenho vergonha de ter meu nome atrelado ao seu! — fulmino.

— Como ousa falar assim com o seu pai sua vadiazinha? — minha madrasta vem pra cima de mim pra me bater, com certeza confiada no general atrás dela.

Não me dou o trabalho de contestar com palavras; a recebo com um belo soco no meio daquela fuça horrenda e ela cai no chão igual uma jaca madura.
As duas cadelas, digo, minhas irmãs vêm em seu socorro.

— Papai, faça justiça por nós! — Luisla implora com suas lágrimas de crocodilo.

E não é que o velho parte pra cima de mim? Mas que idiota!
Puxo o chicote que trouxe sob minha roupa e o acerto no rosto, fazendo uma profunda laceração. Ele me olha com um olhar mortal e flamejante.

— Eu vou te espancar até a morte! — ele me ameaça.

— Apenas tente, velho tolo! Não sou a Yori que você conheceu, aquela que vocês maltratavam e intimidaram todo dia. Vocês me deixaram com sede e com fome. O senhor foi conivente com essa cadela que agora chama de esposa. Vocês são culpados pela morte da minha mãe e estou mais do que disposta a fazê-los pagar por tudo. Não os pouparei, a menos que me diga onde está o príncipe Aaheru...

— Não sei do que está falando! — ele me interrompe.

— Palavras erradas! — digo fazendo um sinal que só o sombra reconheceria.

Imediatamente, a casa de lenha pega fogo e explode.
Ah, pólvora! Adoro esse artefato e achá-lo nos tempos antigos me deixou tão animada.

— Continue negando e toda sua propriedade vai virar cinzas.

— Yori sua maldita, o imperador não vai deixar isso passar.— o velho tenta me persuadir.

— Até a guarda imperial chegar, tudo que você tem terá sido consumido pelo fogo. Apenas diga o que quero saber e vou embora daqui. — óbvio que estou mentindo.

— Você está louca, como eu saberia o paradeiro do príncipe? — ele grita fora de si.

— Acho que você não se importa com sua riqueza tanto assim.

Mais um sinal meu e lá se vai o armazém de mantimentos. É uma bela visão o fogo crepitando e consumindo tudo. A essa altura o alvoroço dos servos é total.
Meu pai grita pelos guardas, mas ninguém aparece. Claro que dei  um jeito neles antes de vir confrontá-lo; todos estão dormindo o sono dos justos. Afinal, como eu poderia ser tão audaciosa?

— Sua desgraçada, eu devia ter te matado quando você nasceu! — minha madrasta esbraveja fora de si.

— Hum, perdeu sua oportunidade! E já que é assim...— digo com meu sorriso mais diabólico e faço um sinal bem específico.

Bom, lá se vai todo o pátio e mansão dessa concubina usurpadora; que pena que ela não estava dentro.

— Pare, minha filha! Por favor! — meu velho pai implora de joelhos.

— Acha mesmo que me importo com isso? Quantas vezes busquei sua ajuda e você simplesmente me ignorou pra satisfazer essas três cadelas? — falo empurrando-o com o pé para longe de mim — Já que não quer falar, vou ser mais rigorosa com você! — digo puxando minha irmã Luisla e apertando seu pescoço — É sua última chance, ou me diz onde está o príncipe ou quebro o pescoço da sua queridinha!

— Você não teria coragem, ela é sua irmã! — ele duvida.

— Não, ela não é! — bufo de ódio, minha paciência já está no limite e quando a vadia rasga uma parte da minha manga, não conto estória e quebro o braço dela — Vai falar ou não?

A essa altura, as outras duas estão de joelhos no chão e implorando para que eu não faça mal à minha presa, que está se debatendo como um animal se afogando.

— Diga pra ela! — minha madrasta implora ao velho que já me olha com um olhar assustado.

— Você é um monstro! — ele diz.

— Finalmente você entendeu! Agora fale.

— Nas montanhas! Caverna fantasma!

Sorrio com suas palavras e solto minha mana no chão, que cai com um baque mole.

— Vá embora daqui! Você não é mais bem-vinda, não volte mais aqui!

— Não haverá para onde voltar! — digo lhes dando as costas e automaticamente faço meu último e mais precioso sinal para o sombra.

O estrondo das explosões formam uma linda sinfonia aos meus ouvidos, junto com seus gritos de desespero.
Sim, os deixarei vivos e na miséria.
Essa é a vingança que prometi à Yori deste tempo e a sua mãe. De alguma forma, sinto que a ex-dona desse corpo está satisfeita e em paz agora.
Tudo que essa família possuía foi consumido pelo fogo; talvez não se recuperem dessa perda pelo resto de suas vidas miseráveis.

Não tenho mais que me preocupar com eles, embora saiba que meu pai dará um jeito de avisar seus cúmplices, porém estarei um passo à sua frente.
A viagem pelo desfiladeiro durará alguns dias, só espero que meu príncipe aguente até minha chegada, porque estou indo para resgatá-lo e estou indo com munição suficiente para pôr aquela montanha abaixo.

Apenas me espere Aaheru!

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora