O TEMPLO

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YORI

Devo confessar que estou adorando ser homem nessa vida, ainda mais depois da minha "pequena vingança" contra meu príncipe. Modéstia à parte, ele não resistiu aos meus encantos e se entregou pra mim. Dei um belo trato no pervertido de outra vida. Ainda bem que ele está num corpo bem flexível, porque fiz sexo com ele em todas as posições imagináveis e possíveis. O resultado foi deixá-lo dois dias de cama e querendo ver o rei do inferno à mim.
Por isso que dizem: "vingança é um prato que se come frio e devagar". Bom, no meu caso foi quente, mas muito gostoso.

Só tenho um temor agora, se conseguirmos inverter as coisas, ele vai querer ir à desforra. Melhor nem pensar nisso. Para piorar o mau humor da minha " princesa ", soube de suas servas que ela está naqueles dias e tem pedido pra morrer. Até deu uma dó, mas pensando bem, é bom que saiba mesmo o que as mulheres sofrem todos os meses. Claro que não fui tão malvada e pedi pras servas providenciarem bolsa de água quente e chá de gengibre para aliviar as cólicas.
E quando fui visitá-lo naquela noite, o encontro uma completa bagunça e olhos inchados de sono e chorar.
Realmente nunca passou pela minha cabeça encontrar um guerreiro da estirpe dele nessas condições miseráveis.
Fui "obrigada" a passar os cinco dias de suas regras cuidando dele. Pobrezinho ficou muito carente. Sei que não deveria rir, mas foi impossível me controlar.

Graças aos céus, sobrevivemos a essa fase e eu espero que consigamos resolver essa situação antes do próximo mês. Não vou aguentar os lamentos desse príncipe de novo. Será se a testosterona está me deixando ainda mais insensível do que já sou? Não sei ao certo!
O fato é que agora temos uma luz no fim do túnel e estamos de viagem marcada para ir ao templo dá uma olhadinha no tal livro sagrado. Se houver uma pequena possibilidade de recuperar meu antigo corpo, irei me agarrar a isso. Não é que seja ruim ser homem, mas estou frustrada por não poder ter orgasmos múltiplos. Ser mulher tem vantagens prazerosas.
O problema é que a viagem até o templo pode ser muito perigosa, sem falar na distância. Serão muitos dias sacolejando numa carruagem. Mas enfim...

Uma semana depois...

Uau! Esse lugar é enorme! — digo observando a construção faraônica à minha frente, assentada no tomo de uma montanha e rodeada por esplêndidas árvores e jardins.

O lugar é ainda mais rico do que meu palácio, aliás, meu palácio parece um casebre diante dessa construção aqui. As colunas gigantescas são revestidas de dourado e pedra preciosas. O teto abobadado com lustres de pedras multicoloridas compõe a estrutura, dando um ar elegante ao lugar. As paredes brancas e o mármore azul claro faz lembrar o céu à medida que vamos adentrando.
Um sacerdote, em suas túnica branca, nos conduz até o grande salão. De antecedência, eu já o havia informado da nossa vinda e ele não ousaria recusar seu imperador. É a parte boa de se ter grande poder, porque até onde sei, o livro não era permitido ser tocado por meros mortais.

— Eu posso saber o porquê de vossa majestade, de repente, ficar interessado no livro sagrado? — ele pergunta me encarando de uma forma que conheço bem, ou seja, essa pergunta está mais para uma confirmação.

— Acho que você já sabe a resposta! — falo sem paciência e sem rodeios.

— Quantas vidas até aqui? — ele me encara com sua íris negra e eu até posso jurar que vi uma fagulha dourada naqueles olhos.

— É minha terceira vez! Aliás, nossa! — explico enquanto observo o semblante do homem na minha frente. Ele não parece nada surpreso com o que ouve, embora tente manter uma expressão imparcial.

— Ele lembra de suas vidas anteriores? — Pergunta apontando para Aaheru ao meu lado, que, para todos os fins, está na figura de uma mulher.

— Ele? Como sabe que é "ele"? Não mencionei isso.

— O modo como ela está se portando... — ele tenta explicar, mas a mim não engana.

— Não me venha com essa, sacerdote! Sugiro falar a verdade, não estou com a menor paciência pra joguinhos. Sua reação há pouco não foi de alguém que está ouvindo uma história absurda dessas pela primeira vez.

— Hum...você é astuto! Ou deveria dizer astuta? — ele questiona arqueando uma sobrancelha e novamente tenho a impressão de ver seus olhos brilharem — Realmente fiquei surpreso quando fiquei sabendo que o imperador tinha mudado completamente sua personalidade. — diz de forma descontraída enquanto foleia o livro sobre o púlpito  — Ah, certo, aqui está! — Aponta uma página e  mostra para nós.

A linha do destino! — Aaheru começa a ler em voz alta — Na vida e na morte toda lembrança é apagada...

Eu o ouvia em silêncio.  Estranhamente parecia não ser a primeira vez que eu ouvia essa frase. Mas em que vida? Qual ocasião?
As coisas estavam realmente confusas. Por que Aaheru não se lembrava de sua primeira vida?

— ... o artefato roubado deve ser entregue ao seu verdadeiro dono ou a maldição nunca terá fim... — Aaheru prosseguia.

Hã? Espera um pouco? "Artefato roubado"?
Agora me recordo de onde conheço essas palavras. Na minha primeira vida, invadi um templo antigo e roubei um artefato de um tal "deus do destino". Céus, isso tinha que ser coincidência. Era só um maldita jadeíta. Se bem que ganhei muito dinheiro com ela, no mercado negro.

—  O que é isso? — Questiono estupefata ao ver o desenho na página seguinte.

— A jade imperial do destino! — o sacerdote responde. — Já a viu em algum lugar?

— Sim! Na minha primeira vida roubei uma igual de um templo antigo...

— Então, não é coincidência, vocês bagunçaram a linha do destino e estão presos nesse ciclo de morte e reencarnação... — ele tenta explicar.

— Uma ova! Acha que vou acreditar nessa balela? — praticamente grito.

— Yori, por que está tão zangada? — Aaheru me questiona segurando meu rosto. Obviamente estranhando meu destempero.

— Por que se isso for verdade, nunca vamos conseguir sair daqui. Estaremos presos num ciclo interminável, por toda eternidade. Não tem como recuperar a pedra e devolver pro templo. — desabafo. — Maldição! Eu só queria ser rica! Que deus mesquinho! Era uma pedrinha tão pequena...droga...

Estamos fodidos! E é tudo culpa minha!

— Por que não lembro da minha primeira vida? — Aaheru pergunta.

— Porque você não interferiu na linha do destino da primeira vez, mas o fez da segunda. — foi a resposta.

— Mas como? — ele fica confuso e pensativo por alguns minutos — Céus, o presente! — fala de repente. — Exigi um presente mítico vindo do templo para lhe dar de presente, Yori...eu estava com ele quando a montanha explodiu. Acabou que nós dois tomamos posse de algo que não nos pertencia. — completou.

Mas que merda! Minha vontade é de gritar agora. Não temos saída. É isso?

— Enfim, entenderam! Devolvam o que não vos pertence ou essa troca de corpos será o menor de seus problemas. — o homem da túnica nos fala.

Estranho! Por que isso pareceu uma ameaça? Novamente tenho a impressão de ver os olhos dele brilharem e sinto um pavoroso arrepio.
Misericórdia! Devo está vendo coisas. Tem que ser! Porque isso está ficando muito assustador.

CREDO!

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora