EM APUROS

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Yori

Depois de ter conseguido fugir das garras do príncipe assassino, só desejei ter um dia tranquilo.
Mas o que vejo logo cedo? A Erys.
Essa vadia deve ter achado pouco a surra que lhe dei antes e veio atrás de outra, só que com mais capangas.
Com tanta irritação, vou acabar pedindo pra morrer. Não tenho um dia de sossego na porra desse novo mundo.
É pedir demais pra me deixarem dormir até meio dia? Que ódio!

Como já acordo da parte do demônio por conta de tudo que aconteceu na noite anterior, já saio de chicote na mão, embora Nath tenha tentado me impedir de todas as formas possíveis.

— Quero ver você me intimidar hoje sua cadela maldita! — a fanfarrona grita para mim quase estourando meus tímpanos.

Irei pisotear essa serpente até esmagar sua cabeça delicada.
Não vou perder meu tempo tentando fazer a vadia sair; estalo meu chicote no ar e a acerto junto com duas servas que já caem choramingando.

— Eu avisei que não queria você aqui de novo. Vou quebrar suas pernas como prometi, mas antes vou te dá uma surra.

Mais servas tentam entrar na frente e desço o chicote nelas sem dó, se estão querendo morrer no lugar dessa megera, lhes darei o que estão pedindo.
Quando elas ficam intimidadas de vir, continuo a disciplinar a concubina folgada.
Nesse momento, uma pomposa agitação me chama a atenção e ao erguer os olhos me deparo com o príncipe demônio entrando no meu pátio.
Maldição! Será se algum demônio do seu inferno particular morreu pra ele ter vindo aqui pessoalmente?

A Erys não perde tempo e rasteja até ele.
Agora tudo faz sentido; não sei como, mas essa vaca sabia que sua alteza viria aqui, por isso ela veio me confrontar, mesmo sabendo que eu seria dura com ela. Aliás, posso apostar que ela estava contando que eu a intimidasse.
Essa vadia não sabe com quem está mexendo.

— Alteza, eu imploro por justiça! Vim prestar meu respeito à princesa e é a segunda vez que ela me trata assim.

Mas que maldita fingida! — Amaldiçoo em pensamento.

— Segunda vez?! — ele pergunta com uma voz que retumba igual um trovão.

— Sim! — Ela afirma se ajoelhando e se fazendo de coitada.

O olhar dele desce sobre mim e não é um olhar casual qualquer; há algo mais ali que não consigo decifrar.
Se as coisas tomaram esse rumo inesperado, não hesito em encará-lo de volta, ainda que lhe faça uma breve reverência.

— Por que fez isso com ela?!

Eis a pergunta de um milhão de dólares.
Será que ele pensa que vai ser assim tão fácil conseguir uma confissão de culpa da minha parte? Ele não me conhece!

— Acaso não posso tirar o veneno da serpente que quer me atacar no meu quintal? — Pergunto com meu melhor tom irônico, e claro, respeitoso, se é que as duas coisas podem andar juntas — Só estava disciplinando essa concubina ingrata, antes que ela traga vergonha à casa de vossa alteza e às mulheres que estão sob vosso poder. Como os nobres reagiriam ao saber que a filha do general é intimidada por meras concubinas?! Tenho testemunhas que podem afirmar que ordenei que ela não voltasse mais aqui sem ser convidada e ela desobedeceu.

Não adianta alteza, estou amparada pela lei. — penso enquanto tento esconder meu sorriso vitorioso.

Ele olha entre mim e a morimbunda, porque a forma lamentável que ela está, é só pegar e enterrar; deve estar procurando uma saída diplomática, afinal ainda sou a sua princesa.
No entanto, Erys é mais rápida e desmaia.
Ah, se eu soubesse que ela ia fingir tanto teria batido com mais força nela.

— Pegue a concubina e leve para descansar! Chame o médico imperial para cuidar de seus ferimentos! — Ele ordena a um guarda.

Vejo o guarda se distanciar com a cadela nos braços e minha vontade é jogar água quente na fingida e fazer ela se levantar no susto.

— Já que está tudo terminado aqui, vou indo! — digo com minha carinha mais inocente e pura. Se é pra fingir, eu também sei.

— Não vai me convidar para um chá?

Na verdade, não! — É o que penso.

— Oh, sim! Perdoe minha indelicadeza! — É a minha resposta, na força do ódio, devo admitir.

— Nath, leve-nos um chá de hortelã e gendibre com alguns bolinhos, no meu jardim particular.

Acompanho o "abençoado" até lá e mantenho minha cautela no nível máximo, sabendo que ele não está aqui por nada.
Algo grave deve ter acontecido.
Assim que somos servidos, faço sinal para que minha serva saia, até porque ela está tremendo tanto que é capaz de derramar chá nesse demônio e perder a cabeça, literalmente.

— Vossa alteza quer me perguntar alguma coisa, não é assim?! — Vou direto ao ponto quando lhe sirvo o chá.

— Como sabe?!

— O senhor não me visitou em nossa noite de núpcias, o que significa que o que o trouxe aqui hoje é algo bem mais importante. — dou de ombros, afinal não posso fingir demência.

— Tens uma língua muito afiada! — Ele diz pondo um pingente de jade sobre a mesa, não tem como não reconhecer essa porcaria. Pior que agora não posso fingir ser uma garota frágil, até porque ele me viu bater naquela concubina maldita — Minha princesa escolhida o reconhece? — É a pergunta.

— Sim! É meu!

— Uma assassina esteve no meu palácio e tomei isso dela! Está me dizendo que isso é seu?! — Seu sorriso sedutor e suas palavras são uma armadilha para mim. Tadinho dele!

— Sim, é meu!

— Está me dizendo que foi você que invadiu meu palácio e tentou me matar? — Seu olhar sobre mim tem um brilho cruel que conheço bem e confesso que isso me deixa bastante confortável.

Somos só dois assassinos tomando um bom chá juntos.

— Eu apenas disse que o pingente é meu, não admiti qualquer outra culpa. Alguém não pode ter tentado me incriminar?!

— Por que fariam isso?

— Minha família me odeia, suas concubinas também, a própria corte me acha uma inútil e considera nossa união pouca auspiciosa... são tantas as possibilidades! Investigue que chegará num culpado, ou vários...

— É claro! — sei que ele não está concordando, mas como não tem prova contra mim e estava muito escuro para que ele visse através do meu disfarce, só lhe resta a dúvida — Quero que vá ao rito de apreciação do outono...

— Hum, agradeço, mas prefiro ficar no meu pavilhão.

— Não é um pedido, é uma ordem!

Ok! Agora ele está pedindo pra morrer; ninguém me dá ordens, por mais gostoso que seja.

— E se eu me negar?

— Acho que estou sendo muito indulgente com você! — Ele fala e me puxa abruptamente pro seu colo.

— Mas que inferno... — Grito e começo a me contorcer, enquanto ele mantém um agarre firme sobre meu corpo. 

— Que boquinha suja minha consorte tem!

No segundo seguinte, a boca dele está sobre a minha. Tento empurrá-lo, mas o miserável não se move um milímetro.
O que diabos está acontecendo aqui? Esse cara não gosta de mulher, então por que está me agarrando?
E não é que beija bem.
Ah, minha nossa!

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora