OS INIMIGOS SE REVELAM °° PARTE 2°°

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Yori

Já faz mais de uma semana que não tenho notícias do meu príncipe audacioso, o que tem me deixado com um mau pressentimento. Todos os dias um pombo correio trazia notícias de sua demorada viagem e algumas mensagens até mais sacanas, mas agora, só silêncio. Isso não pode ser um bom sinal. Parece mais o prenúncio de uma tempestade.

Numa das minhas idas ao mercado, encontrei com minhas irmãs e as cadelas fizeram questão de noticiar que meu "pagamento" pelo que lhes fiz estava a caminho, o que já me deixou de orelha em pé. Minha vontade era bater nelas até me explicarem o que queriam dizer, mas estávamos em público e eu não poderia agir de forma tão irresponsável. Não era só meu nome que estava em jogo, mas da família real também.

Hoje, bem cedo, recebi um decreto real para ir ao palácio falar com a imperatriz. Em todos os poros do meu corpo, eu sentia que lá vinha bomba.
Que tramóias estavam inventando dessa vez? Fico tensa só de pensar.
Só que eu não tinha escolha, ou eu ia por bem ou iria por mal; eu preferi ir com minhas próprias pernas.
Para completar o cenário caótico, eu vinha tendo sonhos estranhos com minha morte anterior.

— Saudações, vossa majestade! — curvo-me profundamente diante dela, enquanto avalio o ambiente ao nosso redor.

Vejo guardas em pares guardando as principais entradas e saídas e pela posição super alerta, estou certa de ter caído numa armadilha. Não estou aqui para tomar chá ou conversar.

— Você sabe por que está aqui? — ela questiona me olhando profundamente.

Merda! Só pode ser algo relativo àquele príncipe mimado ou a Erys, aquela vadia. Melhor eu me fazer de desentendida.

— Mãe, não faço ideia! — tentei abrandar as coisas chamando-a assim por ser costume nessa época.

— Se eu tivesse uma filha como você, já teria te batido até a morte! — ela diz duramente, mas sem alterar a voz.

Percebi a agitação da Nath e faço um sinal para que ela se ajoelhe e se mantenha assim, porque pelo que percebi, as coisas ficarão difíceis para mim. Certamente que posso lidar com a imperatriz, mas a questão é: será que é conveniente? Meu instinto de autopreservação me diz que não, pois mesmo que eu consiga sair daqui, ainda terei o seleto exército imperial na minha cola e Aaheru não poderá me ajudar, não desta vez.
Minha única saída é suportar o que está por vir.
E é algo que não demora.

De repente, sinto meu rosto queimar em um dos lados. É óbvio que vi o movimento de sua majestade, mas tudo que eu podia fazer era aguentar a humilhação de levar esse tapa na cara. Afinal, desviar ou me defender só iria piorar essa situação.

— Não vai se defender?! — ela me instiga com certa irritação.

— Não ouso, majestade!

— Não entendo como meu filho se deixa levar por uma inútil como você! — ela vomita essas palavras, mas onde está o desdém em seus olhos? — Você é a culpada pela desonra da concubina Erys e pelo príncipe herdeiro estar tão insatisfeito com o irmão, por isso a levarei a punição. — diz fazendo um gesto e alguns guardas se aproximam — Levem essa mulher e batam nela vinte vezes! Avisem quando terminar!

A essa altura, minha serva já está chorando horrores. Não posso culpá-la por isso, são outros tempos! Pra mim isso não é nada, já sofri torturas bem piores na minha vida passada. Portanto, sequer me incomoda quando sou atada nesse instrumento arcaico e começam a desferir os golpes em minhas costas.
Estranhamente a dor é suportável. Não era, ao menos, para eu estar sofrendo aqui? Estou certa de não estar dormente.

Quando tudo termina, sou posta de joelhos diante da minha algoz, que segura meu queixo.

— Você é muito forte! Nem um "aí"? Agora vá e reflita sobre os seus erros. Sugiro lavar bem suas feridas. — diz e me puxa pela mão.

— Obrigada, majestade! Voltarei agora! — digo baixando o olhar.

No caminho de volta, minha serva não parava de me questionar se eu estava sofrendo muito pelos arranhões em minhas costas, porque sim, eram apenas meros arranhões, diante do que os carrascos podiam realmente fazer. Homens como eles não tinham piedade. Lembro bem de como minhas irmãs e madrasta ficaram após receber punição deles.

— Estou bem, Nath! — tive de dizer e reafirmar algumas vezes.

Eu não podia dizer mais; o que acabei de descobrir a colocaria em risco.
Ao chegar em meu pavilhão, fui direto pro meu quarto de banho.

— A imperatriz foi muito ruim com minha senhora! — minha serva começa a reclamar, enquanto me ajuda a tirar as roupas.

— Ela não teve escolha!

— Como? A senhora ainda a defende? — ela se indigna.

— Não seja boba, que escolha a imperatriz tem senão ser um joguete nas mãos de quem tem o verdadeiro poder?! — falo apertando sua mão e a consolando — Não fique brava com ela por ter feito só o que era necessário.

— Ah, a senhora é tão complacente! Tem um bom coração! — ela suspira.

— Você acha isso mesmo? — pergunto com uma risada por ela me achar tão boazinha.

Que fofa!

— Sim! — ela afirma balançando a cabeça.

— Vá preparar uma sopa bem quentinha para mim! Ficarei na banheira relaxando!

Assim que ela sai, desenrolo o pergaminho que um dos lacaios me entregou, enquanto me batia. Ao desenrolar, estava em branco, como previ.
Oh, certo! A imperatriz havia recomendado  lavar bem as minhas feridas e posso até imaginar do que ela estava falando; mergulho o pergaminho na água e voilà. As letras começaram a aparecer no papel em letras delicadas e douradas.

"Filha minha, lamento ter feito você passar por essa punição. Minha vida aqui é lamentável e não posso ir contra sua majestade! Por isso a trouxe aqui com o pretexto de puni-la, foi a única forma que encontrei de avisá-la secretamente. Todos esperam que eu seja uma boa imperatriz e esposa, mas não posso fechar os olhos para o que está acabando com meu próprio filho. O terceiro príncipe foi capturado numa emboscada armada por seus inimigos. Descobri que o general, seu pai, está de conluio com o governante da fronteira leste. Aaheru está em perigo mortal e só posso contar com sua ajuda para resgatá-lo. Pelo que sei, o estão mantendo num esconderijo nas montanhas do sacrifício. Tenha cuidado e destrua essa mensagem ou nós duas estaremos condenadas para sempre".

Maldição! Sombra? Apareça, sei que está aí! — chamo após pôr uma roupa de banho.

— Como soube?! — ele me questiona, claramente surpreso.

— Acha mesmo que eu não teria percebido você me seguindo? Está me subestimando tanto assim?!

— Não, minha senhora! Estou grato que sua alteza tenha uma esposa tão excepcional! — ele diz batendo a mão no peito num sinal de reverência e respeito — O que quer de mim?

— Leia e depois destrua! — falo jogando-lhe o pergaminho — Prepare minha carruagem, irei visitar "minha amada família"!

Hora de tocar fogo no ninho de cobras!

Uma Assassina Em Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora