6 - A PRIMEIRA INSERÇÃO

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           Jude levanta-se da cadeira e leva seu copo com resto de café puro até a pia e lava-o. A adolescente cantarola o solo da guitarra do início da música Warning, que sai da sua caixinha de som com pendrive e segue lavando a louça dublando Ozzy e dedilhando a esponja com detergente, como se fosse o braço da guitarra.

— Minha filha, você está bem? — Pergunta Selma, mãe de Jude Salomão.

— Nunca estive tão bem!

— Um namorado? — Selma entrega um prato com restinho de sopa de feijão. E antes de responder, Jude despeja esse pouquinho bem pouco no lixo que tem na pia.

— Nem namorado, nem namorada, nem ninguém... somente eu e o Black Sabbath.

— Black, o quê?

— A minha banda de rock favorita mãe. Black Sabbath.

— Que nome estranho? O que significa?

— A música ou o nome da banda? Se for o nome da banda significa "sábado negro". — Jude não aprofunda na explicação do nome da banda.

— Ah, entendi. — Disfarça Selma na resposta e enxugando a louça, se aprofunda em outra pergunta: — Mas, como assim: "nem namorada".

— A senhora entendeu o que disse, mãe. — Nisso entra o solo de guitarra fantástico do final da música. Uns 2 minutos de puro êxtase para Jude Salomão. — Pronto minha mãe, tudo bem levadinho. Agora vou para meu quarto. Sim! Como vai a filha da vizinha? A senhora teve alguma notícia?

— Notícias de Aline? A que está em coma?

— Isso. Ela mesma. — Jude vira-se totalmente para sua mãe, prestando mais atenção na conversa.

— Ela está na mesma. E para piorar começou a se alimentar pelo tubo.

— Pela veia? É isso?

— Sim! Você não entendeu? Então não complica minha filha. A Margarida é só sofrimento pela filha... ela está irreconhecível... perdeu muito peso.

— E não pegaram o cara que fez a desgraça?

— Acho que só saberiam se ela voltasse do coma. Não sei. Quando vejo Margarida fico sem jeito de perguntar mais sobre a saúde de Aline.

— Eu vou subir para o quarto e me arrumar para a escola.

— Ainda se lembra como se reza?

— Não entendi a pergunta, minha mãe.

— Aline precisa de todas as preces para sair do buraco que a colocaram. Coitada. Eu não sei o que faria se algo parecido acontecesse a você.

           Jude não responde a mãe se ainda se lembrava como rezar. Na verdade, o que menos importava era responder alguma coisa.

            Haja vista as mães parecem sofrer de um sentimento de dor coletivo. Quando acontece alguma coisa com a cria de uma delas, parece que aconteceu com todas.

            Jude vai subindo a escada, segurando a caixa de som e pensando em Aline.

           Ao chegar no quarto, vai até o guarda-roupa e não têm dificuldade em escolher uma camisa, haja vista, todas são pretas. Várias delas, de várias bandas... todas perfiladas.

          Jude sorri. Libertou-se da necessidade de passar horas combinando as cores. Não que isso a faça investir menos tempo consigo, porque não o é... a jovem adora um batom preto.

             Colocando a caixa de som encima da penteadeira, Jude liga-a novamente para poder trocar de roupa e se maquiar enquanto escutando a sua playlist preferida.

            Depois de sentar na cama e calçar o tênis, a jovem de 16 anos deita-se não cama ao perceber que ainda tem 30 minutos de folga.

             E escutando sua banda predileta, adormece.

EU VELO SEU SONO - Lançamento 28/03/22 - Em Andamento Onde histórias criam vida. Descubra agora