Elis se joga para trás, escapando por um fio da mordida do cachorro da família, que tem o focinho invertido, virado para baixo, mas não consegue escapar da patada de Biscoito, que rasga-lhe a carne do braço.
Dor. Dor. Dor. Raiva. Agonia... e por último, aparece o amigo que sempre lhe acompanhou em toda na sua jornada até aqui: o medo.
Ela não sabe como o animal de estimação foi parar ali, naquele mundo, nesta realidade, onde Elis não sabe se está morta ou vivendo num pesadelo demoníaco. Um mundo que lhe é totalmente desconhecido, mas, que estranhamente continua lhe maltratando.
Uma realidade opaca, cinzenta e chuvosa... Embaçada como seus olhos marejados por lágrimas de sofrimentos a fio. Onde os trovões não param de castigar seu céu, e a pobre da Elis não sabe se é de noite ou de dia.
As sombras que vem e vão, são lapsos e flashes temporais, bem explícitas ali na sua frente, mostrando cicatrizes cravadas nas paredes do quarto.
Biscoito, um Cookie Spanish que sempre latia nas horas erradas e calava-se nos momentos que deveria latir, estava parado, olhando e desejando-a. A sua aparência assume uma forma mais horrenda e aterrorizante.
Seus pelos antes macios, pareciam agora espinhos espetados para fora, como uma maçã cravada de alfinetes.
Os olhos não paravam quietos, e mesmo assim mostravam que aquele corpo era habitado por uma presença maligna e perturbadora.
E seu porte arrogante? Como Biscoito estava imponente e senhor de toda situação? Literalmente, uma alma penada perturbadora e contenciosa.
A cabeça do cachorro invertida para baixo e que tem a boca virada para cima, deixa a baba cair em fiapos pelo focinho, numa sequência gotejante em câmera lenta.
Tudo ali era surreal, mas acima de tudo assustador. Porém, uma coisa que Elis parecia ter certeza, era o fato de sentir um conforto em meio a toda aquela dor física, que estava sentindo naquele momento e, por algum motivo, a dor sentida ali era menor do que já havia sentido antes.
É estranho ela pensar assim, mas, é como a jovem menina se sente neste exato momento.
Elis, mesmo machucada, tenta se levantar para sair o mais rápido daquele quarto destruído, porém o cachorro joga-se nas suas pernas fazendo-a se chocar violentamente na parede sem reboco.
Um pedaço da parede cai juntamente com um quadro de Lua Crescente, pintado à mão, envolto numa moldura de madeira e que não estava ali a poucos segundos... o quadro cai ao lado dela, quase lhe acertando a cabeça.
O grunhido de dor - espremido pelo medo - sai quase inaudível da boca de Elis.
Elis sentiu a porrada na parede.
A jovem, na finda esperança de tentar sobreviver também nesse mundo, luta pela sua vida, arremessando todos os lixos e cacos de coisas que estão espalhados pelo chão do quarto.
Elis, sabe que sua luta é desigual e que a fera se desvia de tudo que é jogado contra ela com extrema facilidade e destreza.
O coração de Elis parece que vai saltar boca à fora, e uma nova onda de medo se apodera da sua pobre alma.
Elis, tem que sair dali!
Os olhos de Biscoito são vermelhos demoníacos e de apresentação cruenta e maligna. Parecem dois carvões lambidos por chamas que não se apagam.
O braço esquerdo de Elis começa a latejar com mais força e os três arranhões da pele, parecem agora três feridas pustemas.
A dor torna-se violenta e descomunal... mas, ela foi batizada nas dores e pelas dores.
As luzes do ambiente começam a piscar como se fosse uma Disco... uma boate... o ambiente vai alternando nas cores amarela, rosa, cinza e branca chacoalhadas pela cor preta.
Como se as luzes do cômodo girassem por todos os lados e direções, num carrossel de loucura.
Elis, olha para a varanda destruída e depois para Biscoito. A porta à sua direita, embora esteja bem mais perto, torna-se um ponto nulo por estar fechada.
Biscoito analisa atentamente sua presa caída e com as costas apoiada na parede.
Com um movimento preciso e certeiro, Elis faz Biscoito sentir o sabor do sangue lhe descer goela a baixo, dando-lhe o troco, quando acerta seu focinho com o pesado quadro que caiu próximo a sua cabeça.
A lua pintada à mão, que ornamentava o quadro com moldura de madeira, espalha-se por todo o cômodo depois de se quebrar no focinho do animal.
Elis sem demorar mais do que dois segundos, se levanta e abre a porta, mas depara-se com uma parede quebrada, revestida de cimento velho e mofado, brotando sangue humano.
Biscoito ainda zonzo chacoalha sua cabeça, arremessando babas para todo o lado. Ele rosna com raiva assassina e seu latido parece gritar:
— EU VOU TE MATAR!
Os pelos do corpo do animal, com formatos de espinhos, se mexem para frente, na direção de Elis, como se alisados de trás para frente por uma mão invisível.
Elis sabe que não vai ter como escapar, principalmente por ter escolhido o caminho mais fácil... a porta emparedada.
As luzes voltam a piscar.
O piso do quarto mexe-se como uma engrenagem velha para o lado esquerdo de Elis, na direção da janela.
Elis, topa suas costas nas paredes que não se mexem juntamente com o piso.
Biscoito posiciona suas patas para trás, projetando o ataque que será fatal... quando um disco de vinil gigante, azul cristalino, que tem a foto de um homem verde gritando e escrito Behind Blue Eyes, cruza o teto onde o cachorro está, fatiando a besta ao meio.
São quatro sequências de estalos feitos pelo piso, até Elis ser arremessada para fora do prédio, rumo uma queda que também será fatal.
A jovem mexe desesperadamente suas mãos e pés, nadando num vazio entre prédios destruídos.
Elis cai... novamente c
a
i
."Cicatrizes são memórias contadas em alto relevo. Ananda Scaravelli"
A frase estava escrita na camisa preta de uma mulher que acabara de segurar-lhe a mão.
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Pessoal, desejo agradecer imensamente a atriz, escritora, produtora e roteirista: Ananda Scaravelli., por ter gentilmente cedido a permissão de usar a frase de divulgação do seu livro: Desnudar-se, no meu livro EU VELO SEU SONO.
O Instagram de Ananda Scaravelli é @anandascaravelli
Ananda,
Muito obrigado
Recife, 03 de junho de 2023José Inácio
Santo Serafim
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EU VELO SEU SONO - Lançamento 28/03/22 - Em Andamento
Mystery / Thriller4 pessoas de uma mesma família mortas. Elis, a filha do casal é a única suspeita. Há 10 anos Jude Salomão fez sua primeira incursão nos sonhos de uma vítima de agressão, ouvindo uma música de Heavy Metal, da banda Black Sabbath. Elis, entra num e...