EU VELO SEU SONO - Lançamento 28/03/22 - Em Andamento

11 - O DESENHO

Jude Salomão está sentada no Bar do Birosca Maluco, que fica uns 100 metros da sua casa. O bar é bem frequentado por artistas e escritores da cidade.

             Já passa das sete horas da noite, quando Jude pede mais uma dose de Vodka Absolut com gelo, limão e água tônica.  Jovem está com seu cabelo preto que tem uma mecha branca do lado, preso para trás, num coque bem feito a estilo rabo de cavalo e usando um óculos escuro todo preto.

               No monitor preso ao alto, do lado da pilha de garrafas de bebidas emoldurada nas prateleiras, passam vários clipes mudos com Jazz Band ou Blues Band, enquanto Jude Salomão sorve a bebida num copo long drink e pensa na sua vida.

               Se ela fumasse daria um close perfeito para uma foto La Femme Fatale.

            O Bar do Birosca Maluco está muito bem frequentado, mesmo sendo tão cedo da noite, há cada momento chegam mais pessoas. Juntamente com um casal qualquer, entra a psiquiatra e sua amiga pessoal, Aline Ribeiro, casada com o detetive Jackson. O casal vai para um lado e não demora muito para que Aline ache Jude.

Os cabelos absolutamente pretos de mechas ostentosamente brancas, são iguais a uma placa de neon.

— Óculos escuro? O sol já não se foi na fazendinha? — Um leve riso brota dos lábios de Jude ao escutar a pergunta da amiga.

— Sim..., só quer ser a fã do Mundo Bita.

— Eu sou é muito da fã. Eu canto mesmo.

— Você está bem? — Jude pergunta estranhando a euforia de Aline.

— Godofredo, manda uma dose de Absolut com água tônica. — Aline senta no banco que é fixo no chão e gira o corpo ficando de frente para amiga. — Estou com sede. E vou direto ao assunto.

— Estou de férias.

— Você nunca tira férias! Obrigado, Godô!

— É lógico que tiro.

— Jude, você está acompanhando os jornais?

— No!

— É sério, miga. Está ou não está? Ah! Eita! Desceu quente! Bota outra dose Godô!

Jude tira os óculos escuros e uma das íris encontra-se completamente albina, a outra...

— Puta merda! Seu olho esquerdo!

— Exatamente. Meu olho esquerdo está perdendo a cor. E sabe o porquê disso? São as incursões nos sonhos dos outros.

— Caramba, Jude. Eu fico agoniada... Coloca os óculos de novo.

— Vou ficar sem.

— Esse caso que que o Jackson pegou é muito sinistro. A menina matou toda a família. — Jude Salomão olha bem nos olhos de Aline. — Não foi qualquer morte, haja vista, mesmo que ela tivesse assassinado com um sopro, já seria tremendamente horrível, mas, o fato é que ela esquartejou, decepou e depois recitou um versículo bíblico e entrou em transe.

— Chama um hipnólogo. Conheço uns três que são sensacionais e vão trazer a menina de volta... Isso se ela não estiver se fazendo.

Aline abre sua bolsa que colocou sobre as pernas e olha para dentro dela. Depois, bebe a segunda dose da Vodka Absolut e metendo a mão dentro da bolsa tira um desenho e entrega para Jude Salomão.

A arte é muito bem desenhada à lápis grafite preto. Dois braços foram desenhados saindo de um fundo escuro... Como se o corpo estivesse submerso na escuridão. Os braços e as mãos são masculinas, envoltas com vestes romanas... Antiga.

A mão esquerda encontra-se com sua palma estendida na direção de Jude, que analisa o desenho..., parecendo fazer um sinal de cautela. Na palma esquerda está desenhada um olho aberto com íris de serpente. Uma íris Maligna... Jude sente o mal naquele olhar.

Olhando para a outra mão do desenho, Jude entende que o gesto caprichosamente desenhado da mão direita, indica para o observador que ele mantenha-se focado na palma da mão esquerda. No caso, Jude.

— O que aconteceu? Que cara é essa apreensiva? O que você viu que não vi?

— Foi a menina quem desenhou?

— Sim...

— Ela estava em transe, não foi?

— Sim. — Aline toca no braço da amiga. — O que você viu?

— Olhos abertos ou fechados?

— Quando desenhava? A-acho que fechados.

— Faz um esforço. — Jude continua olhando para o desenho. — Abertos ou fechados.

— Fechados. Os olhos estavam fechados.

— Esse desenho você pegou ou foi lhe dado?

— Porra, Jude. Que suspense! Que merda está acontecendo? O que isso importa?

Jude Salomão suspira e olha para a amiga.

— Só responde, miga. — O pedido sai com tom cínico.

— Ela me deu. — Aline responde de pronto e intrigada.

— Eu imaginei que ele havia lhe dado.

— Ele?

— Sim, Ozob. O nome dele é Ozob, um Arquiduque do inferno.

— Jude, não vou perguntar como você sabe o nome desse demônio, somente olhando para um olho desenhado na palma de uma mão.

— O olho desenhado acabou de piscar novamente.