3 - ELIS

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— Como é seu nome? — Pergunta Jackson sentando de frente à jovem. É lógico que ele já sabe, mas, faz parte da rotina quando se vai começar a fazer perguntas para uma vítima ou para um acusado.

— Elis Borges. — A menina responde baixinho. Olhando para o chão e com os ombros caídos para frente. O detetive percebe o quão desnorteada ela se encontra.

— Você poderia dizer o que aconteceu? — Jackson faz a pergunta com cuidado.

— Eu quero falar com meu tio. — Pede a jovem, usando um pouco mais de força na voz. Os seus olhos miram os pés do detetive, como se tentasse ver o que não viu. Entender o que não se pode ser entendido.

            O detetive franze a testa e olha para Alfonso que joga seus ombros para cima, sem entender nada.

— Eu já contei o que aconteceu aqui. — Continua Elis — Mas, vocês não acreditam em mim.

— Senhorita Elis, quem é seu tio para que possamos entrar em contato? — Pela primeira vez Jackson mete a mão no bolso para pegar um caderninho e caneta.

— Eu nunca faria isso com minha família. Eu nunca matei uma barata. Vocês prenderam a pessoa errada. E podem me chamar de Elis.

— Elis, como faço para falar a seu tio?

— Não precisa. Com certeza a essa hora ele já está sabendo.

— Qual o nome dele?

— Pastor Delgado. — Detetive Jackson conhece a boa fama do pastor. E não estou sendo irônico quanto a fama do homem.

— Hum, sei quem é. Ele é um dos homens mais caridosos que conheço.

— Todos sabem quem é o Pr. Luciano. — Elis responde pelo detetive ter dito o óbvio. — E sim, ele ajuda as pessoas mesmo... não é mídia.

— Alfonso, pede para alguém ligar para o pastor, mesmo não sendo preciso. Obrigado.

O detetive Jackson Ribeiro para de falar e observa a roupa da jovem lavada de sangue. As unhas das meninas estão pretas pela cor rubro encarnada. Não tem uma só parte de Elis que não esteja melada com sangue.

Olhando para os pés da jovem, que não para de esfregar um no outro, detetive Jackson escuta-a repetir seguidamente: "Eu velo seu sono."

— Quem vela nosso sono?

— Quem vela meu sono? Eu sei quem me acompanha quando estou dormindo.

— E quem seria?

— O senhor está falando sério? Não percebeu que minha família é evangélica? Eu sou cristã!

— Então, Deus vela seu sono.

— E quem mais seria? Satanás? O diabo? Lucifer?

O detetive acredita que os três sejam um, mas passa levemente pela cabeça dele que talvez sejam seres destintos. Se não, por que Elis falaria os três nomes? Mesmo assim o detetive sabe que pouco importa esse pensamento que acabou de passar em sua cabeça.

— Elis, eu acredito em você. Mas, preciso escutar sua história.

— Então, se você acredita no que disse, me deixe ir embora.

— Não depende de mim, acredite. Porém, posso tentar te ajudar.

— E como você me ajudaria?

— Só posso saber como consigo te ajudar, escutando seu relato. — Jackson cruza as pernas.

— Eu me acordei pela madrugada escutando barulhos estranhos no andar de cima. E quando fui verificar o que era, encontrei... — Elis têm dificuldade em falar os nomes "demônios". — eles lá em cima. Infelizmente, meu sacrifício foi em vão. Eles já haviam matado minha família.

Elis despenca a chorar. Ela urra o mais alto que pode. O detetive fica imóvel. O sofrimento de Elis lhe deixa arrasado por dentro. A dor que ela está sentindo, é real.

Mea culpa, mea ultima culpa — Fala Elis "Minha culpa, minha máxima culpa" para em seguida desabar num choro atormentador para quem escuta, e sem explicação lógica, como se fosse desligada da tomada, a jovem cai no chão.

EU VELO SEU SONO - Lançamento 28/03/22 - Em Andamento Onde histórias criam vida. Descubra agora