EU VELO SEU SONO - Lançamento 28/03/22 - Em Andamento

10 - 499

Jude Salomão acorda desorientada. Sem entender bulhufas alguma. Dando um pulo da cama, lembra-se que tem aula.

Mas, o esforço a deixa zonza e apoiando-se na porta do guarda-roupa, tudo que lhe aconteceu vem à tona.

— Que porra tá acontecendo comigo?

Quando vai desligar a caixinha de som, assusta-se. O contador digital que sinaliza as músicas tocadas pelo drive, parou na de número 499.

Voltando a música, a de número 499 é Rising, da banda Raimbow. Jude Salomão lembra-se da belíssima capa premiada.

A mão direita de Possêidon saindo de dentro das nuvens e pegando um arco-íris que corta de um lado para o outro um desfiladeiro escurecido em tonalidades parecidas com o céu, que estão pintados em tons avermelhados.

Do lado direito, de quem está olhando a capa do disco, tem um castelo com uma pessoa olhando para mão nos céus.

Quase não dar para a figura ser percebida. E na ponta do desfiladeiro, tem um observado olhando de frente para a mão gigantesca que segura o arco-íris.

Jude Salomão lembra-se da mão feita de areia! Era idêntica! Se ela tivesse bigode, com certeza estaria suado.

Ela suspira fundo.

Outra coisa que a faz gelar o coração foi se lembrar da serpente que estava embaixo da cama que prendia Aline. Os olhos da serpente tinha um dourado maligno. Vilanesco. E com certeza, nos próximos dias, Jude Salomão teria muita dificuldade em dormir. Pelo menos era o que ela achava.

Lembrando-se da serpente embaixo da cama de Aline, a jovem de 16 anos joga-se de joelhos no chão e procura o demônio de olhos dourados embaixo da sua cama.

Sentanda no chão, Jude suspira aliviada. Tudo não passou apenas de um sonho. Porém, mesmo tendo sido um sonho, Jude Salomão sente-se feliz por ter salvo a filha da vizinha.

Pensando nisso, uma paz trazida pelo dever cumprido, inunda seu peito. A jovem de 16 anos, apertando no botão STOP, para a música que estava tocando e caminha na direção da porta do seu quarto.

Atentando-se de imediato para outro fato que acaba de chegar na sua cabeça, suas pernas tremem. Se cada música tem em média de 5 a 10 minutos, na sua playlist, e parou na de número 499... então, quanto tempo passou dormindo?

           Jude Salomão para no alto da escada sabendo que no mínimo dos mínimos, vai escutar seu pai dizer:

"Essa menina não quer nada com a vida!"

"Enquanto as irmãs dela se matam de estudar, ela só ficar escutando essas porcarias! Só sendo mesmo a ovelha negra dessa família."

— Isso não pode estar acontecendo! Eu não dormiria tanto. — Jude faz uma prece silenciosa com seus olhos fechados. — Estou ferrada. Literalmente ferrada e mal paga. Puta merda.

Ao terminar de descer a escada, com todo o cuidado possível e imaginável, escuta a voz da sua mãe falando ao telefone e olhando para o relógio na parede da sala...

— Sete e quinze? Ainda são sete e quinze da manhã.

Jude Salomão antes de sair correndo de casa para a escola, que fica a seis quadras dali, escuta sua mãe dizer sucessivos "Graças a Deus".

— Você não sabe como essa notícia me deixou feliz. Graças a Deus sua filha voltou. Muito obrigada de coração por ter se lembrando de nos avisar... entendo... claro! Com certeza ela vai visitar Aline! E ela nem são tão amigas assim!

             Jude Salomão fica parada ma entrada sala e quase sem respirar, escutando o bate-papo da sua mãe ao telefone.

             É a vez de Selma ficar estática olhando para Jude. Na verdade, Selma mexe suavemente sua cabeça para os lados como se procurasse o melhor ângulo para ter certeza do que estava vendo.

— Aline acordou do coma...

— O que foi mãe? Que cara é essa?

— Seu olho...

— Meu o quê?

— Seu olho direito... ele está... isso é alguma maluquice sua?

              Deixando Selma falando sozinha, Jude corre na direção do espelho mais próximo, que fica na entrada da casa, ao lado da porta e reclama extasiada:

— Puta merda... como pode?

           A íris do olho direito de Jude Salomão estava toda branca.... igual a neve.