Angels Of War

Impossible

4 dias até o BUD/S.

Nunca é fácil quando temos que nos separar daquilo que amamos. Quando você é pequeno e sempre dorme com um ursinho que seus pais te deram, você se sente seguro com ele. Você sente que nenhum monstro do guarda-roupa pode te pegar, pois ele está ali com você.

Daí você cresce e percebe que não existem monstros. Percebe que as crianças da sua idade não dormem mais agarrado a ursinhos. Então você decide ser como todos e abrir mão daquele companheiro fiel. Os primeiros dias são difíceis, mas com o tempo você se acostuma com a ausência dele.

Talvez a infância seja uma preparação para as verdadeiras decisões da vida. Começam a tirar as coisas pequenas de você, para que no futuro você já saiba lidar com a dor.

Quando se é criança, se separar de um bichinho de pelúcia é a coisa mais impossível que você se imagina fazendo, mas quando os anos passam você percebe o quanto aquilo era fácil comparado às decisões que você tem que tomar.

Atualmente, as decisões e partidas da vida doem muito mais do que quando se tinha sete anos de idade. Tem mais sentimento, mais dor. Os ursinhos são trocados por pessoas e quando se trata de sentimentos, não há uma pessoa no mundo que não se enfraqueça na saudade.

Perder um ursinho não parece mais tão doloroso quanto perder alguém que faz de todos os seus dias melhores.

"As coisas já estão ficando ruins antes mesmo de começar. Meu coração quer tanto ficar aqui em Miami, com minha família, meus amigos, Camila. Mas minha razão me manda direto para a Califórnia. Onde por loucura eu resolvi ir até o serviço da Marinha.

Basicamente eu tenho seis meses de treinamento intenso no BUD/S, onde é a Primeira Fase para se tornar um Seal, e quando eu me tornar um de verdade é onde meu medo maior entra. Eu posso ir a qualquer lugar. Desde os países com guerras pequenas a grandes países ícones da extinção de paz.

Ando vendo tanto jornal para saber das crises mundiais que algo me diz que irão me mandar para Síria, ou algum lugar onde o conflito religioso esteja dominando, como Israel e Palestina.

Camila me deu uma espécie de caderno noite passada, disse que era para eu escrever aqui tudo o que eu quisesse dizer a ela, mas por intervenção superior eu não pudesse ligar.

Talvez eu tenha começado a escrever muito cedo, mas talvez isso me alivie agora como irá me aliviar em algum campo de batalha ou treinamento. Eu nem fui embora e já sinto falta do seu abraço.

Minha mãe disse para que eu tivesse fé, mas em minha opinião ela está com mais medo do que eu, se é que isso pode ser possível.

Faltam quatro dias para eu embarcar para a Califórnia. No começo parecia uma boa ideia. Eu iria para lá, ficaria longe por uns tempos, cresceria mentalmente e voltaria com várias experiências e aprendizados. Esse era o plano. Mas como nem todo plano dá certo.

Se o plano era ficar longe de Alexa, eu realmente consegui. Não tenho notícias dela desde o início do ano. Mas agora, deixar Camila está doendo tanto quanto doeu o término com Alexa.

Acho que a vida gosta de me ver sofrer!"

 

Fechei o caderno apoiando o peso do meu corpo no encosto da cadeira. Eu não era uma pessoa que tinha medo, mas naquele momento eu estava completamente dominada por ele.

O visor do meu celular acendeu e logo a foto de Camila apareceu com a introdução de Otherside do Red Hot Chili Peppers tocando ao fundo. Sorri sentindo meu coração se acelerar e logo atendi.