Bonus 2 - Final

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Estava encarando a porta de madeira entalhada por pelo menos dez minutos. Eu não tinha coragem de bater, não por medo ou coisa assim, mas por saber que traria um assunto delicado.

Eu a via toda semana, me sentia brutalmente culpada por tudo o que acontecera com ela, mesmo ouvindo todo santo segundo de silêncio que o ocorrido em Mossul não era minha culpa e que eu não deveria carregar o peso daquilo.

Parisa nunca perdeu o bom humor ou a capacidade de colocar pra fora cada um dos pensamentos e sentimentos dela, o que eu invejava até meu ultimo fio de cabelo. Ela soube superar e seguir em frente.

Mossul era um assunto proibido nas rodinhas de amigos compatriotas durante todos os feriados festivos. E aquilo sim era culpa minha.

Nathan, Parisa, Chris, Arash e Henry passaram grande parte do tempo daqueles quatro dias dormindo, ou morrendo de dor. Eu estava acordada o tempo todo. Eu via cada movimento que acontecia.

Eu vi ratos brigando entre si para ter o maior pedaço de carne. Eu vi urubus pousando entre um corpo e outro e fazendo de um dos meus irmãos de farda o alimento para toda sua família. O funeral em Miami foi com todos os caixões fechados, pois ninguém teria estomago pra ver o corpo de um membro da família quase completamente decomposto.

Respirei fundo levando a mão fechada até a porta. Os nós dos dedos estavam brancos devido à força que eu havia fechado o punho. Eu nunca estive tão nervosa em tanto tempo.

- Ora, ora! – Parisa sorriu quando me viu ao abrir a porta. – Se não é a mais jovem sargento condecorado da marinha americana.

- Tarj! – a abracei forte como se não a visse por décadas. Eu sentia falta de vê-la todos os dias.

- Entre! – deu passagem para mim e logo entrei sendo recebida com um forte abraço de urso de Katie, a segunda filha dela e Betsy

- Olha o que eu trouxe pra você! – estendi um pacote com embrulho de dinossauros fazendo com que ela descesse do meu colo e corresse para o sofá abrir.

A garota era um tanto exigente, com seis anos era apaixonada por dinossauros e super-heróis e brigava com qualquer um que tentasse força-la a brincar com uma boneca Barbie – ela odiava!

- Betsy está em casa? – perguntei notando que o único barulho na casa era o de Katie gritando animada por ter conseguido o super-herói que faltava na sua coleção.

- Ela saiu com Cory, foram ao shopping comprar um taco novo de softball. – ela indicou a cozinha e logo entramos e sentamos na bancada.

Tarj pegou duas garrafas de cerveja abrindo-as e estendendo uma para mim. Ela não disse nada por longos segundos. Sabia que eu tinha algo a falar e estava ensaiando mentalmente como começar.

- Comprei aquela miniatura de Opala que vi na loja para Cory. – sorri lembrando-me da vez que Vero, Parisa e eu discutíamos entre Mustang e Opala.

- Não era isso que eu esperava ouvir! – ela disse desanimada me fazendo suspirar.

- Recebi uma proposta. – soltei de uma vez vendo como ela se mantinha interessada em mim. – Um Major deu entrada no hospital essa semana e me convidou a voltar para marinha como médica.

- E o que você disse? – cruzou os dedos repousando a mão em cima da bancada esperando minha resposta.

- Eu não disse nada. – abaixei a cabeça em vergonha, eu sabia o que ela ia dizer. Que é loucura, que Camila iria surtar e blábláblá.

- De algum jeito ele conseguiu meu numero e fez a mesma proposta. – levantei o olhar com uma cara de "filha de Hades, porque não me disse" e ela riu. – Eu estava esperando você vir até aqui para conversarmos sobre.

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