A Vida e a Morte

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15 de Maio de 2019 – Charlotte Jane Memorial Park, Miami.

Pov. Lauren

Se existe algo que eu não sei lidar é com o fato de perder as pessoas. Não importa quanto tempo da minha vida passe, eu nunca vou ser forte o suficiente para lidar com despedidas e perdas. É como se existisse um mecanismo em minha mente que me deixasse completamente à mercê do mundo a partir do momento em que eu sentisse a dor da perda de alguém. E era uma dor dilacerante e cruel.

Eu estava em estado catatônico desde que os olhos de Colton se fecharam naquela maldita casa ao centro de Bagdá. Era como se alguém tivesse apertado o gatilho do meu cérebro e disparado mil e um sentimentos ao mesmo tempo em que eu não tinha controle. Ver o cara que me treinou e que me tratava como uma irmã mais nova morrer em meus braços foi como perder uma parte do meu coração.

Harris foi destinado a avisar a família. Eu não tinha condições físicas e mentais para dirigir qualquer que fosse às palavras a Sra. Adams. Era como se eu me sentisse culpada pela morte de meu grande amigo. E na minha mente, era de fato minha culpa. Fora a minha arma, fora meu descuido.

Parisa e Arash estavam sempre próximos de mim. Tarj vivia me abraçando e nós duas chorávamos feito crianças próximo ao caixão desde o momento em que ele fora colocado ali. Parte de mim queria que ele levantasse e dissesse que isso era apenas mais uma brincadeira, mas ele não se levantava.

Fui comunicada que a mãe e a irmã do meu pequeno aprendiz estavam inclusas na lista de mortos do atentado contra o campo de refugiados iranianos. Aquilo foi outra faca enfiada em meu coração em pouco tempo. Foi como perder as esperanças da vida e querer viver apenas como mais uma mera alma vagando no mundo esperando a hora de morrer.

Mas logo eu me lembrava de Camila. Lara havia vindo ao mundo na madrugada de ontem, dia quatorze de maio. Era apontada de esperança e motivação que eu precisava para me reerguer e fazer um funeral decente para o meu velho companheiro da marinha. E só a sensação de saber que em poucas horas estarei pegando-a no colo já me faz sorrir involuntariamente.

Deram férias antecipadas para mim e Parisa. Disseram que não conseguiríamos continuar nas condições atuais e que um soldado bom é um soldado cem por cento mentalmente capaz de segurar uma arma e lutar para o seu próprio país. No caso de Ash, o colocaram com acompanhamento psicológico na própria base, já que ele havia chegado há poucos dias.

- Sargento Jauregui?! – Parisa bateu continência enquanto eu permanecia próxima ao caixão de Colton ouvindo as palavras de um padre.

- Comandante Tarjomani. – assenti com a cabeça virando-me para encontrar seus olhos em um tom avermelhado.

- A Sra. Adams deseja falar com você. – engoli em seco vendo como Parisa dava um sorriso solidário.

- Ok. – respirei fundo colocando as mãos atrás do corpo e caminhando até algumas cadeiras onde Elena Adams e seu filho Josh estava sentado.

O pequeno tinha um ramalhete de flores vermelhas e um capacete do pai em mãos. Ele não tinha certeza do que acontecia, mas sua expressão triste denunciava que não estava nada fácil para ele também.

- Sente-se Lauren. – ela foi totalmente informal lançando-me um olhar solidário apontando para a cadeira ao lado de Josh.

Sentei-me um pouco receosa mantendo as costas eretas e as mãos acomodadas estrategicamente em cima dos joelhos. Era a pose padrão dos funerais militares junto com aquela roupa azul desconfortável e quente. Por um momento vi os olhos de Colton no pequeno Josh e a forma fofa com que ele olhava para mim.

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