Capítulo 2

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Encaro o desconhecido de pé na minha frente

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Encaro o desconhecido de pé na minha frente.

Assim que entrei na sala de reunião, sem educação alguma, logo respondendo a pergunta que ele fazia, percebi o susto que ele tomou com a presença inesperada, se colocando de pé no mesmo momento, virando para me encarar.

Depois de tantos anos estando no holofote por ser um jogador reconhecido pelos meus feitos, e por outras coisas mais como nos últimos tempos, adquiri a habilidade de identificar os trejeitos de cada pessoa ao me reconhecer. É sempre engraçado ver como tentam me olhar de cima a baixo, me olhando como um todo até compreenderem que sou realmente eu. Falcão.

Agora mesmo, o tal fotógrafo que veio para essa reunião me encara, tentando disfarçar, até levantar as sobrancelhas e finalmente chegar ao ponto final de sua observação. Sei que o peguei de surpresa ao aparecer aqui sem qualquer aviso e, devo admitir ao menos para mim mesmo, que depois de devolver o seu olhar e encará-lo como fez comigo, quase quero desistir da ideia de lutar contra essa história ridícula de ter alguém invadindo nossa privacidade.

Tudo que eu não preciso nesse momento é levar um desconhecido para dentro da minha casa, tendo acesso a tudo que eu venho tentando proteger da mídia que me persegue. Publicar coisas sobre mim, me fotografar, inventar histórias e falácias, levantar especulações, tudo isso é algo que faz parte da minha rotina já há um bom tempo, mas isso não significa que eu quero o mesmo para Noah.

Não sou mais apenas eu, tenho ele para proteger. E se aqueles que deveriam fazer isso, cumprindo seu papel, não fazem, eu faço, com todo amor, carinho e devoção que destino a ele. Aquele garoto, em pouco mais de três meses, se tornou a luz da minha vida e ele é especial e importante demais para que eu o ofereça a algumas pessoas sem escrúpulos.

Durante toda minha vida, aprendi a ser eu, do meu jeito, com os meus gostos e escolhas, com as minhas vontades, com os meus sonhos. Nunca deixei que ninguém ditasse o que eu deveria ou não fazer ou falar, o que eu deveria ser ou não ser.

Eu sou eu, em todos os sentidos que essa frase estranha possa oferecer.

Nunca escondi de ninguém o meu sonho em ser um jogador profissional, nem mesmo dos meus pais. Nunca escondi de ninguém o fato de que eu precisava estudar o triplo do necessário para conseguir dar conta daquelas matérias na escola que pareciam inúteis. Nunca escondi de ninguém o fato de ser um cara gay. Nunca escondi de ninguém o meu sonho em ser eleito o MVP no mesmo ano em que consagrasse o meu time como o campeão do Superbowl.

Sempre fui muito aberto com todo mundo sobre coisas que se referem a mim. Tanto é que o fato de não esconder a minha sexualidade de ninguém me fez ser reconhecido como o primeiro jogador abertamente gay da NFL. Capas de revistas, entrevistas em talk shows, ensaios fotográficos. Tudo isso passou a fazer parte da minha rotina fora dos campos e eu adorava a oportunidade e o palco que isso me dava para defender, orientar e simplificar a realidade e a normalidade de um cara gay.

A Solidão do Cafajeste (Spin-off da Série Amores Nova-Iorquinos)Onde histórias criam vida. Descubra agora