Isso não vai nos levar a lugar nenhum, não
Você não ama ninguém
Só não sabe lidar com a solidão,
então arruma reféns— Você não ama ninguém -
Knust | Cesar | Chris | XamãLM⇙
A favela entrou em caos. Quando os fogos explodiram, o desespero tomou conta de todo mundo.
Eu, juntamente com os Vapor corremos direto pra boca. O pessoal correu pra casa, e bom, eu não sei pra onde o Zé foi agora.
— Cadê o colete? — Um pergunta, assim que entra na salinha.
Observo eles se apressando de um lado a outro, pegando arma, bala, colete, o caralho a quatro.
Quando um garoto entra pela porta ofegante e desesperado chama a atenção de todo mundo, paramos e olhamos pra ele. Ele é novo aqui, eu que deixei, ainda é um moleque de 15 anos. Precisa de dinheiro e é claro que acho uma merda, mas ele me convenceu.
— Não tem invasão. — Ele diz, sem fôlego — Eu explodi sem querer. E-Eu..
Todos começaram a xingar ao mesmo tempo.
— Me perdoa, por favor Eu.. — Não deixavam ele falar. — Meu Deus.
— De boa, porra, relaxem — Levanto a voz, tentando manter a calma. Meu coração tá acelerado e minha boca seca. Mas não é hora pra nervosismo — Alarme falso, acontece. Vocês tudinho, rala pra casa.
Quando o Daniel, o moleque que causou esse caos aqui virou as costas pra ir embora, chamei ele.
— Tu fica, menor. — Chamo. Ele trava.
Observo a salinha se esvaziar aos poucos, a maioria ainda tá bufando, olhando pra ele. Porra, esse bagulho é sério. Se não fosse eu aqui agora, teriam matado esse moleque. Não pode dar um vacilo desses não.
— Eu queria testar, pra não falhar caso acontecesse de verdade.. — Começa a se explicar, quando só sobramos nós dois — Não era minha intenção. — Ele abaixa a cabeça.
Ele tá com medo.
— Eu não vou fazer nada contigo, pô — Afirmo, ele parece relaxar — Mas você tem uma sorte do caralho que sou eu e não outro.
— Eu sei.
Entendo seu nervosismo, ele é novo demais e eu sei que não tá preparado pra toda essa merda. Daniel só tem 15 anos, mas ele veio falar diretamente comigo. A família não tem dinheiro pra se sustentar, são dois irmãos, uma de 5 anos e ele. Os pais ficaram deficientes depois de um acidente de carro 4 anos atrás, não andam. Ele cuidou sozinho da irmã e cuida até hoje.
Avisei pra ele que não é bombom, é um caminho fodido e sem volta, mas ele já tava decidido. De algum jeito, me identifiquei com ele, a idade, o desespero, era um maldito deja-vu.
Vendo o quanto ainda é ingênuo e tá assustado com tudo isso me pergunto se cometi um erro quando deixei ele por aqui, mas eu também era assim no início. Como falei, ele precisa desse dinheiro, mesmo que não seja bom pra ele.
— Bora lá. — Chamo, já andando na frente. Ele me observa sem entender pra onde iríamos — Vou te ensinar a explodir essa porra direito, tem um jeitinho que não tem erro.
Ele sorri fraco e vem comigo.
Abro os olhos de manhã, com a porra da claridade que entra pelas janelas quase me cegando. Ainda preciso comprar as cortinas.
Depois de ontem e todo o problema com os fogos, cheguei em casa tarde pra caralho e dormi. Procuro o celular pela cama, mas não encontro. Levanto os lençóis, vou na sala, banheiro, cozinha, mas não acho em lugar nenhum, devo ter esquecido na boca.
Tomo um banho rápido, como um pão com ovo, escovo os dentes e vou pra boca. Quando chego lá, já tem uns Vapor cheirando pó.
— Uma hora dessa, porra. — Falo, negando. Eles levantam um saquinho oferecendo. Nem que me paguem.
Ignoro e passo reto lá pra dentro, Kaique tá sozinho lá dentro, sentado e contando dinheiro.
— Aí tu viu meu celular? — Pergunto, já procurando pelas gavetas. Ele não responde — Kaique?
— Não vi. — Diz, sem me olhar. Bufo.
— Não sei onde deixei, devo ter perdido na correria de ontem. Foda que tinha um monte de coisa. — Resmungo, ele continua em silêncio, concentrado no dinheiro.
— O lucro tá de boa. O baile foi bom.
— Bom pra quem — Me jogo no sofázinho e solto uma risada de escárnio. "Bom" é o caralho.
Ele fica calado por longos minutos.
— Se resolveu com a Sarah? — Pergunta.
— Não tem o que resolver. — Respondo, simples. Encarando a parede branca.
— Você sempre diz a mesma coisa — Kaique balança a cabeça negativamente.
— Mas dessa vez eu não vou atrás dela. E eu sei que ela também não vem atrás de mim, porque é claro, ainda estamos falando de Sarah Bellini.
— Talvez ela goste de você. — Diz — Talvez.. até ame.
Encaro Kaique, ele tá olhando pra o dinheiro agora todo separado em cima da mesa. Acho engraçado sua "opinião", e poderia até concordar, se eu fosse idiota.
— Não. — Balanço a cabeça, negando. — Eu não acho que Sarah Bellini saiba amar alguém.
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Do Outro Lado Do RJ
General FictionNo Leblon, vive Sarah Bellini. Loira, gata, classe A.. Parece ingênua. Mas, muito pelo contrário, Sarah B não é nem de longe uma garota afetuosa, ela sabe manipular para fazer tudo girar ao seu redor. Não é atoa que suas amigas a apelidaram como "Mé...