Ai que saudade
Daquele menino, correndo, sorrindo
com os olhos cheios de felicidadeQue decepção, meu filho traficante
não é como antes
Hoje em seus olhos, só vejo maldade— Mãe de Traficante | MC Daleste
LM⇙
Em que palavra eu poderia me definir agora? Talvez, mórbido. Com certeza.
Mas chegou o dia, o dia que toda a desgraça aconteceu e minha vida virou de cabeça pra baixo. O dia que perdi meus pais.
Comprei flores mais cedo, assim que tava indo embora da cidade. E todos os anos no mesmo dia, vou ao cemitério. Passo horas falando sobre a vida, sobre meus sentimentos, sobre como tudo ficou uma merda e às vezes choro. Converso com meus pais como se eles pudessem me ouvir, como se eles fossem me responder em algum momento. Peço desculpas por não ter me tornado o maior orgulho deles, e desculpas pelas suas mortes, foi minha culpa.
A saudade é foda. E pior, a saudade de alguém que você sabe que não vai voltar. Tem dias que eu só queria chegar em casa e ouvir a voz da minha mãe, escutar meu pai gritando com a televisão ou falando de moto o tempo todo. Se eu pudesse voltar no tempo, teria seguido os conselhos da minha mãe sem pensar duas vezes.
Nesse ano, eu quis trazer Sarah comigo. Pra começar pela parte de ter saído de fininho antes que ela acordasse, sei que ela deve ter pensado um monte de merdas, mas eu precisava entregar o dinheiro pro Zé, e me preparar pra hoje. Eu precisava trazer ela comigo hoje, porque por algum motivo, quero que ela me conheça. Quero que ela saiba sobre mim e sobre meu passado.
— Um cemitério? — Sarah pergunta, descendo da moto.
— Não começa a me achar estranho. Eu só.. caralho, não sei como explicar. — Coço a nuca, nervoso. Ela parece me analisar. — Bora entrar.
Caminho junto com ela, ela segue meus passos atentamente. Num gesto protetor, puxo ela pela mão pra perto de mim, ela não tenta sair.
Assim que vejo o túmulo meu coração balança, mal consigo explicar a sensação que parece que vai me matar. Aperto Sarah com mais força, sem conseguir controlar.
Quando paro de andar, de frente ao túmulo dos meus pais. Ela envolve suas mãos nas minhas. De repente, sinto uma onda de tranquilidade me atingir.
— Meus pais morreram, como você pode ver — Dou risada, nervoso — Nesse dia. Hoje.
Puta que pariu, eu não sei o que falar.
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Do Outro Lado Do RJ
Narrativa generaleNo Leblon, vive Sarah Bellini. Loira, gata, classe A.. Parece ingênua. Mas, muito pelo contrário, Sarah B não é nem de longe uma garota afetuosa, ela sabe manipular para fazer tudo girar ao seu redor. Não é atoa que suas amigas a apelidaram como "Mé...