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Ser recompensado quando ganhava nunca significou receber algo que se almejava muito

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Ser recompensado quando ganhava nunca significou receber algo que se almejava muito.

E, mesmo que tivesse gostos simplórios, um bom cão jamais seria criado para querer, de fato, alguma coisa inteiramente para si.

Bons cães eram criados somente para fazer.

Impulsionados a atacar ou a pegar tudo que seus donos desejavam e nada além, pois, usualmente quando eram mandados, ordenados, significava que quem queria e quem ganhava era somente seu dono, que no final da madrugada esbanjava o dinheiro clandestino em boates sujas, com fêmeas diversas ainda mais imundas e jogava os restos nos cantos mais sombrios que achava, e também onde sempre enfiava Jungkook.

Seu sobrenome, idade, nacionalidade e idioma eram desconhecidos. Ele não tinha nem família e nem amigos. Jungkook, não tinha ninguém — foi ensinado a saber que não era nada.

Colocado, alojado por aquela noite, onde a vista não alcançava uma vez que não tinha utilidade nenhuma. Onde sua força não seria usada para violência e brutalidade mais pura.

Onde não mataria — onde não machucaria.

Seus olhos grandes estavam perdidos e baixos, se erguendo a intervalos esporádicos para as luzes que machucavam apesar do jovem cachorro se encolher para os sons e para os flashes nauseabundos.

Detestava aquele espaço, os funestos aromas das pessoas, do álcool e do devasso, a forma que as luzes se moviam e os olhares que lhe lançavam. Ora ele era tratado como um enfeite peculiar, ora como algo horrível grudado na parede, mas não tinha muito escolha além de se encolher aos pés do homem que lhe comprou e lhe marcou, e esperar que tudo acabasse rápido.

Mas nunca acabava.

A noite se estendia pela madrugada voraz até de manhã, e depois ele só descansava, às vezes conseguia dormir, perto da hora do almoço.

Seu apetite acabava desaparecendo devido ao horário confuso, mas um bom cão era forçado a acordar e a comer até se sentir enjoado apenas para encarar uma maratona de treinamentos exaustivos.

Só quando desmaiava que podia ir se deitar de fato, a exaustão queimando seus ossos, as drogas afetando seus sentidos.

Quando a hora do diabo surgia implacável e hostil de novo, havia mais brigas, e Jungkook demorava quase uma semana inteira para se livrar do gosto do sangue de sua língua da última jugular que arrancou, do cheiro de medo e da perversidade de seus trapos, e mais algum par de meses para se esquecer dos pesadelos, dos gritos e dos olhares se apagando quando seus adversários morriam.

Contudo, nem sempre Jungkook foi uma máquina de matar.

Às vezes, quando estava dopado com os anestésicos que o forçavam a receber por via intravenosa, o jovem híbrido de cão se recordava disso. Ele lembrava, em sonhos multicolores, como um caleidoscópio de memórias diluído, cujo a liquidez era tenra, numa remota época, quando era filhote, sua mãe reunia seus irmãos numa enorme mesa torta, numa cozinha pequena, para dividirem uma refeição pobre, mas muito apetitosa, feita com capricho e carinho.

Cão de Briga | namkookOnde histórias criam vida. Descubra agora