Nada é Por Acaso

157 10 8
                                    

Passava um pouco do meio-dia quando Neuta e Sinval saíram do hotel, cada um em seu carro. Dali até Boiadeiros, seriam mais ou menos umas três horas de viagem e este fato a deixava ainda mais estressada por conta do escoltamento do marido. Se pudesse, iria sozinha, mas dessa vez não conseguiu livrar-se do traste que atormentava-lhe continuamente.

O lado bom, era que Simone a acompanharia, ela havia ido ao hotel pedir uma carona a Neuta, já que estava de mudança para Boiadeiros. Sinval não gostou da ideia, mas disfarçou, pois a moça era sobrinha de seu sócio Laerte. Seu plano era colocar a esposa em seu carro e mandar Geninho levar o dela até a cidade, entretanto, a assistente de sua mulher tinha que aparecer e estragar tudo.

Durante o caminho, Simone percebe o semblante abatido de Neuta e fica preocupada. A mulher, geralmente, era bastante comunicativa e gostava de conversar, mas nesse momento, encontrava-se distante e calada. Já estavam a uma hora e meia na estrada e não trocaram uma palavra. A jovem não queria incomodá-la, contudo, estava tensa com aquele silêncio todo, havia algo de errado com sua chefe e queria ajudá-la. Em um acesso de coragem, e preocupação, ela por fim resolve indagá-la para saber o que tanto lhe aflinge.

- Neuta, aconteceu alguma coisa? - pergunta e a mais velha apenas suspira. Receosa de que estivesse se intrometendo em um assunto que não lhe diz respeito, a moça emenda. - Desculpe, não quero aborrecê-la, é que você tá tão calada que fiquei preocupada. - fala sem graça, e a dama a olha rapidamente, depois volta sua atenção para a estrada, ela sabia que não estava no seu estado normal e que a jovem percebera isso. Não queria falar sobre esse assunto, então limitou-se a dizer somente o básico.

- Tá tudo bem, Simone. Eu só... - suspira chateada - Só perdi algo importante para mim, procurei por toda parte, mas não encontrei.

E de fato, ela procurara bastante, revirou o quarto do hotel em busca de sua jóia perdida. Se não fosse a insistência de Sinval em ir embora, teria ficado e procurado mais. Colocaria aquele hotel de cabeça para baixo se preciso fosse para achar sua pulseira. Parecia exagero de sua parte, mas aquela peça delicada, fora um presente especial, pois era a única recordação que sobrara do noivo. Ele a dera no dia da formatura deles. Como uma tela de cinema, a lembrança daquele momento tão nostálgico, invade sua mente.

- Tenho um presente para você, quando vi, imediatamente lembrei dos seus olhos. - Tony abre a caixinha e exibe uma delicada pulseira com pequenas esmeraldas verdes e brilhantes ornadas em uma corrente de ouro branco. - Não há nada nesse mundo mais bonito e verdadeiro do que a doçura deles.

- Meu amor! - diz emocionada com a declaração do amado.

- Eu te amo, Neuta. Quero passar o resto da minha vida com você. - ele segura a mão dela e coloca a pulseira em seu pulso.

- Eu também te amo. - ela o abraça e os dois selam os lábios num beijo apaixonado.

A mulher não percebe que estava perdida em lembranças até que Simone chama-lhe a atenção. Recordar os momentos que passou com o falecido noivo, sempre seriam memórias dolorosas demais para aguentar. Se ele não tivesse morrido, seu destino seria outro, em outra cidade e com a felicidade rodeando-lhe a vida.

- Neuta, você tá chorando? - a jovem questiona e assim que dá-se conta do rosto molhado, a dama seca as lágrimas rapidamente.

- Não é nada Simone! Bobeira minha! - fala com a voz embargada. 

- Claro que não é bobeira, senão você não estaria nesse estado. - a moça replica, nunca a vira tão frágil antes.

- Não quero falar sobre isso. - diz um pouco ríspida.

A Dama & O PeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora