A Dama & O Peão

Feito Ímãs

Não era o que ele esperava, vê-la ali ao lado do homem para quem iria trabalhar. Dinho ainda tentava acreditar no que seus olhos viam, mas a informação chegava ao seu cérebro de forma tão embaçada que pensou até que estivesse alucinando. Chocado, começa a perguntar-se como não tinha percebido antes. Em nenhum momento parou para verificar se ela usava uma aliança, pois o deslumbramento por aquela mulher fora tanto que o cegou completamente para esse fato. Ele sabia que um dia se encontrariam de novo, sentia isso no fundo da alma, mas não daquela forma. Acreditava que se esbarrariam como das outras vezes, quem sabe fosse em outra festa e ele a convidaria para dançar.

Neuta estava igualmente surpresa, certo que ela não sabia como era o rosto dele, só o vira por foto uma única vez há muito tempo atrás, mas aquilo era coincidência demais. Era uma situação bastante bizarra, ainda mais porque ela tinha a sensação de que se veriam de novo. Na sua percepção, não seria tão cedo assim, quem sabe fosse até em outro esbarrão. Antes que Sinval percebe-se a tensão entre eles, a dama toma a iniciativa e cumprimenta o rapaz, não queria que o demônio ali ao lado notasse que já houve algum tipo de interação entre eles.

- Bom dia, Dinho! É um prazer conhecê-lo. - ela estende a mão para ele e arqueia uma sobrancelha num pedido óbvio para que o mesmo disfarce sua reação. Dinho entende sua expressão e segue com o teatro iniciado por ela.

- Bom dia dona Neuta! O prazer é todo meu! - aperta a mão dela de forma respeitosa e, naquele mesmo instante, uma corrente elétrica percorre os corpos de ambos.

A tensão dos dois passa despercebida por Sinval diante da ótima atuação deles. Ele tagarelava sem parar, mas Neuta e Dinho não prestavam atenção ao que o mesmo dizia, estavam presos naquela troca de olhares incrivelmente viciante. Eles até tentavam desviar os olhos um do outro, no entanto, como ímãs as esmeraldas verdes dela e o âmbar castanho dele, voltavam a se encontrar despretenciosamente, sem vontade nenhuma de se esquivar.

Após combinar alguns detalhes de sua contratação, Dinho vai embora, mas antes de sair lança um último olhar para a mulher que tanto o fascinava. Ela por sua vez tentava não olhá-lo, não queria dar mais tanta bandeira, a tensão sexual entre eles estava bastante visível e exalando no ar como o mais doce dos perfumes, sorte que o traste achava-se muito empolgado para notar.

- Rapaz simpático, não acha querida? - Sinval a questiona, mas Neuta estava distraída com o acontecido. Ela desperta de seus pensamentos quando o homem a chama mais uma vez.

- Sim, sim, bastante simpático! - sorri forçadamente sem mostrar os dentes. - Bem, eu tenho que ir até a fazenda do seu Paulo Emílio, uma vaca acabou de dar cria e ele pediu para que eu examinasse o bezerro.

- Você sabe que não precisa trabalhar, eu te dou tudo! Faz isso de pirraça! - diz em um tom irritado.

- Não comece Sinval, já conversamos sobre isso. Não vou ficar aqui como um enfeite dentro dessa casa. - ela bufa e revira os olhos, seu marido sempre batia naquela mesma tecla, mas Neuta não dava o braço a torcer. Enlouqueceria se ficasse o dia todo dentro daquela mansão sem fazer nada e seu trabalho, que tanto ama, era o que a mantinha lúcida.

- Isso é desculpa pra ficar se exibindo por aí. - a mulher fica ofendida com o que ele diz, entretanto, prefere encerrar aquela discussão sem fundamento, não daria trela para os ciúmes doentio dele. Prolongar aquela desinteligência não levaria a nada, a não ser deixá-la estressada. Não permitiria que nada estragasse seu precioso ânimo, desde ontem ela tinha uma sensação boa espalhada pelo corpo.

- Vou fingir que não ouvi isso. - diz séria, arruma sua bolsa no ombro e dá as costas a ele caminhando em direção a porta.

O fazendeiro faz menção de ir atrás dela, mas Mazé surge na sala e o interrompe para entregar um recado de Laerte. Se pudesse, a manteria trancada em casa, de preferência dentro de seu quarto para fazer o que bem entendesse com ela. No entanto, Neuta era indomável, em situações como aquela sempre batia de frente com ele. Em sua cabeça doentia, tinha total certeza que um dia colocaria suas rédeas de vez sobre ela.