O Vício Em Você

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Três semanas se passaram e o tropeiro ainda estava desconfiado, mesmo que Tião tenha confirmado a versão de Neuta, ele não acreditava em nem um dos dois. O peão devia muito a ela e não a delataria nem que estivesse sob a mira de um revólver. Sua esposa tinha lhe faltado com a verdade e o rapaz a acobertou sem nem pensar duas vezes. Era isso que dava deixá-la tão solta, já não bastava aquela criancice de não querer dormir com ele, agora deu para contar mentiras. Precisava fazer alguma coisa, ou senão perderia o controle sobre ela de vez.

Ainda conseguia mantê-la naquela casa, mas uma hora ou outra, a dama se daria conta de que não precisava mais ficar presa naquele casamento, mesmo que ele continuasse usando a segurança de dona Anastácia e de Nádia como moeda de troca. Neuta só permanecia ao seu lado por medo de que algo ruim acontecesse com as duas, mas como ela mesma lhe dissera uma vez: se atentasse contra a vida de sua mãe e irmã, e ter êxito, ele não a controlaria mais, e aquilo era verdade. Então, manter a sogra e a cunhada vivas, por enquanto era uma prioridade, contudo, não descartou a ideia de lhe dar outro susto, afinal de contas, sua esposa andava muito rebelde e batendo de frente com ele mais do que devia. Era como se ela tivesse ganhado confiança em algo. 

Nesta última briga, Neuta estava muito segura de si, não abaixou a cabeça em nem um momento e ainda lhe presenteou com uma bela joelhada nos bagos. Aquilo não ficaria impune, quando ela menos esperasse, teria volta. Teria aquela mulher na sua cama de novo nem que tivesse que forçá-la. E, se perder a fama de bom moço diante da cidade toda era o preço a pagar, ele pagaria com gosto.

Só existia uma coisa que Sinval não tolelaria vindo de Neuta: traição. Claro que ele mesmo não é um marido fiel, mas todos os homens são assim. Que marido na face da terra nunca traiu a esposa? Ele mesmo já a traíra diversas vezes e ela já o pegara no flagra na própria cama do casal, mas na sua cabeça doentia isso era um mero detalhe.

Desde que viu o carro dela abandonado na estrada, um alerta surgiu em sua mente e, até agora, não parou de sinalizar que havia algo errado. Precisava colocar alguém na cola dela, que vigiasse seus passos. Até tinha uma pessoa em mente, ele nunca demonstrou qualquer interesse nela, sempre se manteve distante. O observaria pelas próximas semanas para ter a certeza de que ele não se deixaria influenciar pelos encantos dela. Se descobrisse que sua amada esposa tem um amante, não responderia por si.

Por hora, deixaria esse plano de lado, precisava trabalhar, logo mais a noite teria o Rodeio de São José do Rio Preto e seria a primeira vez que Dinho montaria representando a companhia Neuta Aparecida. Não estava preocupado com o resultado, o peão era bom no que fazia, com toda certeza, tiraria aquele rodeio de letra.

Sua esposa, como sempre, seria a veterinária responsável e mais uma vez ele ficaria no camarote sozinho, isso o deixava muito irritado. Até tentou subornar os organizadores para que ela não fosse chamada para trabalhar, no entanto, Neuta era uma profissional muito requisitada pelas companhias e ele não teve muito o que fazer. Não conseguir tudo o que queria, deixava-o frustrado, mas como diziam por aí: a guerra ainda não estava perdida, ele só perdera a primeira batalha.

Dinho e Tião já estavam as boas de novo, depois de alguns dias intrigados, a amizade falou mais alto. O filho de Mazé ouviu a versão do amigo sobre o que tinha acontecido no dia em que Neuta chegou tarde em casa. Dinho lhe contou quase tudo, falou a verdade sobre ter ajudado a patroa naquele dia, mas ocultou a parte em que se atracaram no estábulo. 

Sentiu-se mal por não contar tudo e, para se autoconfortar, dizia para si mesmo que omitir não era mentir. Tião ainda estava desconfiado, no entanto, resolveu conceder o benefício da dúvida tanto para Dinho, quanto para Neuta. Ele só não entendia o porquê dela não ter dito a verdade ao marido. Se não houve nada demais entre os dois, porque esconder de Sinval que seu amigo a ajudou? Tinha caroço naquele angu, mas era melhor se fingir de cego, surdo e mudo.

A Dama & O PeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora