A noite em Barretos fora longa e agitada, o rodeio seguiu as mil maravilhas e o peão que Sinval tanto queria em sua companhia ganhara o primeiro lugar. Neuta ouviu ao longe a voz potente de Gil, a narradora do rodeio, anunciar a vitória de Denilson Martins. Nunca o vira pessoalmente, só por foto uma vez numa revista country, mas não olhara tempo o suficiente para lembrar nitidamente de suas feições. Para ela, peão era tudo igual mesmo.
Quando ia aos rodeios acompanhando Sinval, sempre fugia para os bretes para fazer seu trabalho e se manter distante do marido. Neste dia em específico, também não assistira a competição. Como era a veterinária responsável preferiu ficar na área dos bretes verificando o bem estar dos animais que se apresentariam no evento. Sua assistente Simone, estava na arena averiguando as condições físicas dos touros e cavalos que saiam logo ao se apresentarem e lhe repassaria suas anotações mais tarde.
No fundo, ela sabia que usara a desculpa do trabalho para não ter que ficar ao lado de Sinval no camarote, bancando a boa esposa que ele fazia questão de exibir como se fosse um troféu. Já bastava ter que aguentá-lo todo santo dia, precisava da paz que a ausência dele lhe proporcionava por algumas horas. Perguntava-se como nunca antes percebera a má índole do marido. Talvez a saudade que sentia de Tony, o fato dele e seu falecido noivo serem melhores amigos desde a infância e ela mesma ter grande carinho e amizade por ele, tenham vendado seus olhos.
Lembrou-se do dia em que o conhecera, Tony os apresentou na sua festa de aniversário, só os amigos próximos estavam presentes. A primeira impressão que teve, foi de que ele era uma pessoa extrovertida e engraçada, se deram bem de primeira. Nunca percebera segundas intenções de sua parte, se alguma vez demonstrou foi de forma tão sutil que ninguém desconfiou. Os três eram como unha e carne, e Tony não podia estar mais feliz que duas pessoas importantes em sua vida estavam se dando tão bem.
Um sorriso nostálgico se forma em seu rosto, isso sempre acontecia quando lembrava de seu passado feliz, mas logo se desfaz quando sua realidade atual se faz presente. Solta um suspiro frustrado, o destino era cruel, lhe tirou seu grande amor e lhe jogou naquela sinuca de bico interminável. Teria que viver o resto de sua vida nesse infortúnio já que não podia sair daquele casamento fracassado. Se ser infeliz era o preço a pagar para manter sua mãe e irmã seguras, ela pagaria com juros e multas, não arriscaria a vida delas para ter sua liberdade de volta.
Sabia que o único jeito de se livrar de Sinval seria se ele morresse, que Deus lhe perdoasse, mas rezava todos os dias por isso. Ela mesma não faria justiça com as próprias mãos, não tinha coragem o suficiente e nem sangue frio para este tipo de coisa por mais que o odiasse. Então pedia aos céus para que uma doença ou uma catástrofe o levasse. Suas orações ainda não tinham sido atendidas, pois Sinval era saudável como um cavalo e nenhuma tragédia acontecera com ele.
Após terminar seu trabalho, Neuta sai à procura de Simone na arena, as pessoas já se dispersavam com o fim do evento. Não havia mais nenhum peão por lá, provavelmente já estavam a caminho da festa que teria logo em seguida. Ela planejava pegar as anotações de sua assistente e seguir para o hotel a fim de se trancar em seu quarto e evitar Sinval pelo resto da noite. Graças a Deus, conseguiu um quarto separado e no segundo andar, sabia que se dividissem o mesmo aposento o traste avançaria nela. Chegando na arena, avista sua auxiliar e vai ao seu encontro.
- Ah, aí está você! Correu tudo bem por aqui? - Pergunta ao se aproximar da jovem.
- Tudo certo por aqui, dona Neuta! Todos os protocolos foram seguidos e nenhum animal foi maltratado.
- Que ótimo então, já posso ir embora tranquila!
- A senhora não vai pra festa? Já tá todo mundo indo pra lá, vai ter show da Ivete Sangalo e tudo!
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A Dama & O Peão
FanfictionPresa em um casamento infeliz e fracassado, Neuta vive um dia de cada vez em uma rotina maçante. Até que um belo dia ela esbarra em alguém que mudaria sua vida para sempre.