Feridas do Passado - Parte 01

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Oi gente! Desculpa a demora! Esse capítulo não foi confortável de escrever, tentei passar o máximo de sentimentos possíveis. Espero que vcs gostem e tenham uma ótima leitura! Bom domingo!


O vento agitava as copas das árvores e distribuía as folhas livremente pelo ar, trazendo frescor para a manhã abafada. A brisa que provinha da cachoeira, soprou o rosto de Dinho num beijo úmido e afetuoso, arrepiando-o na sutileza de seu toque. Neste ambiente, podia desfrutar da mais insana calmaria. Respirando fundo, aproveitou a fragrância doce das flores selvagens que alcançava seu olfato e se aconchegou na sinfonia do canto dos pássaros, no ciciar do vento e na água que açoitava as pedras e seguia seu curso rio afora. Não entendia nada de ópera, mas com certeza a natureza estava caprichando em seu concerto musical, na mais perfeita combinação de sons do ecossistema ao seu redor.

Feixes solares procuravam por brechas entre os galhos frondosos no alto e, quando encontravam, dançavam pela relva verde em milhares de pontos luminosos. O peão os observou brincando pela grama ao qual estava sentado. Perdido em seus pensamentos, refletiu sobre o rumo que sua vida havia tomado, na mudança significativa que virou seu mundo de ponta cabeça.

Se não tivesse aceitado a proposta de Sinval, não teria reencontrado Neuta após o esbarrão e não sucumbiria a atração que o fazia orbitar ao redor dela. Ele balança a cabeça sorrindo, a quem queria enganar? De um jeito ou de outro, a encontraria, sendo ela casada ou não. Estava no destino deles, sentia isso profundamente, e agora que tinham um compromisso, nada e nem ninguém os separaria, tinha fé nisso.

Recolhendo seu chapéu 20x, presente de Dininha, olhou para a imagem de Nossa Senhora Aparecida, repousou os dedos sobre ela suavemente, fechou os olhos e realizou uma pequena prece. O jovem pediu para que o destino não lhes desse outra rasteira, que a solução para o impasse que os atormentava chegasse depressa e que pudessem viver em paz sem a sombra de uma ameaça pairando fúnebre sobre suas cabeças.

Finalizando a oração, agradeceu por tudo que já teve na vida, desde as oportunidades até os percalços que o deram amadurecimento para lidar com as dificuldades. Ergueu a cabeça e apontou para o céu, em seguida fez o sinal da cruz, demonstrando toda a sua devoção e beijou o pingente da Santa presente no escapulário que enfeitava seu pescoço.  

Verificando o relógio no pulso esquerdo, constatou que já passava um pouco das nove e, com um meio sorriso, notou que sua namorada estava vinte minutos atrasada. Não que se incomodasse com isso, por ela esperaria a vida inteira se fosse preciso, só estava um pouco ansioso. Finalmente teriam a conversa que o faria compreender os pormenores que prendiam Neuta àquele casamento infernal. Não que ele já não soubesse, na verdade tinha uma ideia, sentia na pele o quão ordinário era seu chefe.

Na maior parte do tempo, consumia-se na culpa por não ter dado ouvidos a sua dama quando houve o rompimento conturbado. Perdido no próprio sofrimento, não levou em consideração a tristeza que a mesma guardava dentro de si. Também não sabe como conseguiu passar tanto tempo longe dela. Neuta era um vício que não tinha mais cura e às vezes perguntava-se de quem era a culpa daquilo tudo. Do sorriso maravilhoso que ela tinha ou dele mesmo por se apaixonar todas às vezes que o belo gesto surgia em seu rosto. Chegou a conclusão de que a culpa era dos dois, que não resistiram a tentação da pequena faísca que se acendeu quando se viram pela primeira vez, e agora queimavam no incêndio de grandes proporções que nenhum deles fazia questão de apagar. 

Dinho suspirou, já se enternecia de saudades, e mesmo que a visse praticamente todos os dias, corroía-se por dentro quando sua dama não estava por perto. Isso o lembrou da nova função que agora exercia, atuava naquela brincadeira há pouco mais de uma semana e, para todos os efeitos, o plano de Sinval só serviu para uni-los ainda mais. Neuta adorava fazer o marido de trouxa, eles haviam combinado que ela o trataria mal para enganar o traste cornudo. Na frente do homem, era hostil e antipática, mas no momento em que ele lhes dava as costas, a dama jogava-se nos braços do peão e não tinha mais nada que pudesse tirá-la de cima dele. 

A Dama & O PeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora