Meu Pecado

303 18 1
                                        

Dinho sentiu-se atordoado, a atitude de Inesita o pegou desprevenido, pelo menos agora, a jovem parecia ter entendido que não rolaria nada entre eles. Lamentava por tê-la magoado, mas sua consciência estava limpa, nunca lhe dera esperanças, ela quem criava expectativas à toa. Ele olhou na direção da mesa e seu coração errou uma batida quando percebeu que sua dama não estava mais lá. Um arrepio congelou sua espinha, pois temia que Neuta tivesse visto a tentativa de quase beijo da moça.

Observando ao redor, procurou por ela em cada canto da boate, até que finalmente se deu conta que o chefe também não encontrava-se em lugar nenhum. Um pressentimento ruim se apossou dele, consumindo toda a sua paz de espírito e roubando toda a sua calma. Será que Sinval a levara embora contra a própria vontade ou ela viu a cena fatídica entre ele e Inesita? Precisava sanar aquela dúvida, umas das duas hipóteses havia feito a dama evadir-se do local. Reparando que Tião era o único que ainda estava sentando à mesa, provavelmente o esperando, Dinho foi até ele, assombrado com a possibilidade de ser responsável pelo sumiço de Neuta. Quando se aproximou, seu amigo o encarou sério, podia ver a repreensão estampada em sua face.

- Cadê todo mundo? - ele perguntou preocupado.

- Ôh Dinho, mas cê é muito cara de pau mesmo, hein? - Tião explanou revoltado.

- Como assim? - indagou cauteloso.

- Vai se fazer de sonso agora? - ele perguntou bravo, sua vontade era de dar um soco na cara dele.

- Num tô entendendo nada mesmo não, viu Tião? - falou esperando que o amigo tirasse logo sua dúvida. Pela forma rude com a qual Tião o tratava, já começava a entender que o motivo daquilo fora o quase beijo roubado.

- Olha aqui seu lambão. - o rapaz se levantou e apontou um dedo acusador para ele. - Cê queria porque queria ficar com dona Neuta, até que conseguiu. - proferiu expressando toda a sua raiva e frustração. - A gente até brigou por causa disso e agora cê beija a Inesita na frente dela? Isso é coisa que se faça? - pronto, agora tinha sua resposta, a ausência de Neuta se dava pelo fato dela achar que ele havia beijado outra. O desespero tomou conta dele, sua dama acreditava que ele a tinha traído.

- Ôh Tião, num foi nada disso não, óh. - diz afobado, pois precisava desfazer aquele mal-entendido.

- Como não? Todo mundo viu! - exclamou exaltado, gesticulando com os braços. - Dona Neuta saiu daqui transtornada e dona Consuelo foi atrás da filha soltando fogo pelas ventas.

- Tiãozinho, eu te juro, pela minha vida, que não aconteceu nada! - tentou se explicar.

- Daqui parecia que tava acontecendo muita coisa, viu Dinho! - o peão falou desgostoso.

- Ôh minha Nossa sinhora! - exclamou nervoso e se sentou, tapando o rosto com a mão. - Inesita tentou sim um beijo, mas eu desviei! Não beijei ela não, óh. - Dinho voltou a olhar para Tião - Até repreendi ela por ter feito isso.

- Não sei não, hein Dinho! - Tião ainda estava cismado.

- É verdade, Tião! Por favor acredita em mim. - o rapaz praticamente implorava, faltava se ajoelhar para prova sua inocência. - Eu nunca faria uma coisa dessas com dona Neuta! Nem que eu tivesse variando das ideias, óh! - Dinho passou a mão pelos cabelos e lançou um olhar angustiado para o amigo. - Ela é a mulher da minha vida! - Tião viu o seu desespero e concluiu que ele realmente lhe contava a verdade, o conhecia muito bem, sabia quando estava mentindo, e aquele não era o caso.

- Só pelo jeito que cê tá aí todo choroso eu acredito em ocê. - ele falou deixando a cisma de lado e Dinho respirou aliviado por seu amigo finalmente acreditar nele.

- E agora, o quê que eu faço? - perguntou ressentido. - Ela provavelmente nem vai mais querer saber de mim!

- Se eu fosse ocê, parava de chororô e ia lá atrás dela. - Tião o aconselhou. - Tá com poucos minutos que ela saiu daqui, se ocê correr talvez ainda encontre ela lá fora. - Dinho o encarou por um momento e se levantou determinado.

A Dama & O PeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora